O Flamengo não perde para o Palmeiras há quatro anos, nove partidas, com cinco vitórias nesse período, mas o retrato dos clássicos deste ano demonstra mais equilíbrio do que o retrospecto. Em dois dos quatro encontros de 2021, o time de Abel Ferreira teve mais posse de bola e mais finalizações.
Aconteceu no Allianz Parque, vitória rubro-negra por 3 a 1 pelo segundo turno do Brasileiro, e na Supercopa, disputada em abril, em Brasília. Nos dois casos, e também na derrota palmeirense no Maracanã, por 1 a 0, o treinador português conseguiu fazer sua equipe superior por boa parte do primeiro tempo.
No Rio, primeira rodada do Nacional, uma jogada individual de Bruno Henrique transformou a partida no início do segundo tempo. Isso também se verá em Montevidéu: o Flamengo tem mais craques.
Tem mais jogadores que inventam gols e lances capazes de transformar confiança em medo no adversário.
Abel Ferreira muitas vezes reclamou da falta de concentração em momentos decisivos de jogos importantes. Tratou o problema como falta de comprometimento defensivo coletivo. Internamente, o Palmeiras tratou desse assunto depois da derrota para o Flamengo, no Allianz Parque.
Wesley tinha acabado de marcar 1 a 0 para os donos da casa. Na saída de bola, Raphael Veiga não acompanhou Andreas Pereira. A desmobilização obrigou Zé Rafael a se dividir entre Andreas e Éverton Ribeiro, que se deslocou às costas de Piquerez –este marcando Isla– e permitiu o cruzamento para Michael empatar.
O jogo mudou. O Palmeiras dominante passou a admirar o Flamengo exuberante. Final: 1 a 3.
A final da Libertadores oferecerá uma única chance aos palmeirenses: coletividade. Para o atual campeão, só existe a opção de ser coletivamente forte, tático e estrategicamente capaz de anular as tabelas e triangulações do Flamengo e explorar as deficiências do rival quando tiver a bola.
Técnico europeu que é, Abel Ferreira viu e reviu a final da Champions League, vencida pelo Chelsea contra o Manchester City. O alemão Thomas Tuchel montou um sistema com três zagueiros, linha defensiva de cinco homens, que se transformava em 3-4-3 com transição rápida, que surpreendeu a defesa de Guardiola.
O ataque do City foi capaz de uma única finalização na meta de Edouard Mendy, embora tenha feito cinco de seus sete chutes dentro da área.
Não é uma certeza que Abel Ferreira copie a estratégia. Muita gente tem convicção de que Scarpa e Raphael Veiga juntos podem ser decisivos. Não duvide que Scarpa não comece jogando.
O Flamengo deve iniciar com De Arrascaeta. Ao menos é o que se apreende da tranquilidade de Renato Gaúcho sobre o assunto. No dia 3 de novembro, o técnico rubro-negro afirmou, dentro do Ninho do Urubu, que o cronograma estava desenhado e Arrascaeta voltaria contra o São Paulo ou Corinthians. Retornou contra o Internacional, no sábado (20), uma semana após o plano.
Disputou apenas 47 minutos, somadas duas partidas, mas sua perda de ritmo será compensada pelo entrosamento com Gabriel e Bruno Henrique. Será difícil para Felipe Melo persegui-lo, porque o uruguaio tem mais mobilidade do que o volante palmeirense, aos 38 anos.
Daí a chance de Felipe Melo ter outro papel tático. Eventualmente como líbero. Só se saberá quando o jogo começar. "Estamos prontos!" foi a frase ouvida na Academia, mesmo depois de três derrotas, para Fluminense, São Paulo e Fortaleza.
O Palmeiras confia em sua força coletiva.
O Flamengo sabe que tem mais craques.
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