O lançamento oficial da candidatura de Leila Pereira à presidência do Palmeiras escancara um conflito de interesses e reabre o debate sobre mecenatos nos times brasileiros. É completamente diferente a relação da presidente da Crefisa com o clube que patrocina do que era a de Paulo Nobre.
Há oito anos, Nobre foi ao mercado e captou empréstimo em seu nome, para cobrir a dívida do Palmeiras. Logo depois, levou o caso ao Conselho Deliberativo e pediu que votassem as condições da devolução do dinheiro.
Paulo Nobre pode até ser chamado de “mecenas”, mas sua relação com os poderes foi exemplar. Principalmente num país em que o Executivo não respeita o Judiciário e faz acordo com o centrão no Legislativo.
O conflito de interesses Crefisa x Palmeiras é de outra ordem. A patrocinadora colocou perto de R$ 170 milhões no clube, em troca da exploração dos direitos de imagem dos jogadores que comprava.
Instigada pela Receita Federal, a Crefisa transformou as operações em empréstimos.
O exemplo de Borja ajuda a entender. Com dinheiro da Crefisa, o Palmeiras fez sua maior contratação da história por R$ 33 milhões. Até a intervenção da Receita, o Palmeiras não teria risco e, se Borja não fosse vendido antes do fim do contrato, o prejuízo seria da patrocinadora.
Com a transformação em empréstimo, o Palmeiras é obrigado a devolver os R$ 33 milhões à Crefisa em até dois anos após o final do contrato.
O presidente do Palmeiras, Maurício Galiotte, diz que aceitou a transformação das operações em empréstimos por entender que o pedido do aporte foi feito pelo Palmeiras, que agora deve aproximadamente R$ 160 milhões à Crefisa –já quitou cerca de R$ 10 milhões.
O conflito de interesses é óbvio: a presidente da Crefisa poderá executar uma dívida do Palmeiras? Ou a presidente do Palmeiras olhará no espelho e sugerirá renegociação do débito?
O conflito não é só palmeirense e já houve em outros lugares do mundo. No final dos anos 1980, o Milan estampava no peito o símbolo da seguradora Mediolanum, de propriedade de Silvio Berlusconi, também dono do clube. A diferença era que Berlusconi era o proprietário do time, não apenas o mandatário de uma associação desportiva.
Outro tipo de mecenas foi Marcelo Teixeira. Depois de perder o poder no Santos para Luis Alvaro, Teixeira pediu a penhora de valores próximos dos R$ 40 milhões que tinha investido no clube. Por decisão da então nova diretoria, de Luis Alvaro, a Vila Belmiro foi posta como garantia.
Enquanto a relação era boa, Teixeira colocava dinheiro no Santos, que disputava títulos. Quando a oposição chegou ao poder, a Vila Belmiro ficou sob ameaça.
Há um ano, o empresário Rubens Menin, dono da MRV, afirmou que colocará dinheiro para contratar jogadores no Atlético-MG e só receberá de volta o valor principal investido. O lucro será atleticano.
Na época, perguntei a Menin: “E se a oposição ganhar eleições?”. Sua resposta foi: “O Atlético é um clube coeso”.
Semanas depois, o presidente Sergio Sette Camara, que já havia anunciado sua candidatura à reeleição, retirou-se da disputa. Estava no meio do fogo cruzado. Menin e Ricardo Guimarães de um lado, Alexandre Kalil do outro.
O Galo terá um novo estádio graças ao investimento das empresas de Menin e Guimarães. Já foi batizado de Arena MRV. Mas o prefeito de Belo Horizonte, Alexandre Kalil, diz: “O nome oficial do estádio será Elias Kalil”. É o nome de seu pai, presidente do Galo na década de 1980.
Diferentemente do Milan, os clubes brasileiros não têm donos.
Não têm?
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