paula cesarino costa
ombudsman
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Est� na Folha desde 1987. Foi Secret�ria de Reda��o e editora de Pol�tica, Neg�cios e Especiais. Chefiou a Sucursal do Rio at� janeiro de 2016. Escreve aos domingos.
A crueldade dos grandes momentos
Editoria de Arte/Folhapress | ||
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Placar da vota��o,com fotos dos deputados, ocupa uma p�gina no "Estado" (� dir.) e duas na Folha |
A defini��o � do jornalista Cl�udio Abramo (1923-87), figura s�mbolo do jornalismo brasileiro e da Folha, em especial: "Um grande jornal se conhece nos grandes momentos".
Abramo tinha regras simples para o bom jornalismo: escrever de maneira compreens�vel, cumprir os hor�rios, renovar-se continuamente, porque um jornal � fruto da criatividade intelectual e art�stica. Sua defini��o de grande jornal pode parecer acaciana para leitores, mas os integrantes de uma reda��o sabem o tamanho do desafio que cont�m.
A reflex�o de Abramo veio � tona ao conversar sobre a cobertura da imprensa do momento hist�rico vivido na semana passada. Pela primeira vez um presidente foi acusado de crime de corrup��o no exerc�cio do cargo, mas a investiga��o de seus atos foi sustada pelo voto de 51% dos deputados.
Para o pa�s, foi um epis�dio triste, quase vergonhoso. Para os jornalistas, era um grande momento.
A compara��o das edi��es digitais e impressas dos tr�s principais jornais do pa�s –Folha, "O Globo" e "O Estado de S. Paulo"– com a cobertura da sess�o da C�mara dos Deputados sobre a den�ncia por corrup��o contra o presidente Michel Temer, em 2 de agosto, impressiona pela indiferencia��o.
� claro que havia um ou outro detalhe que podia ser apontado como "diferencial", mas n�o havia nada que se destacasse.
A pasteuriza��o editorial revelou-se j� no dia da apresenta��o da vota��o na C�mara. Pulularam relatos quase id�nticos da ofensiva final do Planalto, infogr�ficos com os detalhes da vota��o, especulava-se sobre a estrat�gia da oposi��o e todos conduziram enquetes com os parlamentares sobre seu posicionamento a respeito da den�ncia.
No dia seguinte, p�ginas se repetiram: quadros com o resultado da vota��o, narrativas da a��o de ministros cabulando votos no plen�rio, bate-bocas, empurra-empurra e cenas constrangedoras.
Como tem acontecido em momentos recentes, a Folha foi graficamente mais discreta –menosprezando o car�ter in�dito da vota��o–, e "O Globo", mais exagerado. Conservador por tradi��o, "O Estado de S. Paulo" manteve-se no meio termo.
A quest�o de fundo � a dificuldade dos jornais em diversificar pautas e abordagens na era de fatos pol�ticos quentes, transmitidos ao vivo pela internet e pela TV por horas a fio, com a satura��o de an�lises e coment�rios.
A cobertura em tempo real, at� pela TV Globo, torna o jornal impresso e mesmo as edi��es digitais irrelevantes, a menos que consigam oferecer algo que a TV n�o pode dispor. Muitos textos se concentram no passado e no presente imediato, sendo ineficientes na tentativa de explica��o do futuro.
Os jornais se esfor�aram para demonstrar o quanto custou financeiramente para o pa�s a vit�ria de Temer. N�o foram efetivos em identificar com precis�o, no entanto, quem ganhou quanto ou o qu�. Se bem-sucedida a investiga��o, seria uma enorme diferencia��o das emissoras de TV.
Outro tema ausente foi a an�lise de como o pa�s prostrou-se perante o resultado. Desde junho de 2013, as origens, demandas e dimens�es das manifesta��es de rua s�o inc�gnitas para a imprensa. A quase inexist�ncia de protestos no dia da vota��o foi ignorada pela Folha.
Editoria de Arte/Folhapress | ||
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Publicada em uma p�gina, enquete registra mais deputados contra Temer |
A quest�o das enquetes merece aprecia��o mais detalhada. Esses levantamentos j� foram mais importantes e informativos. Em tese, possuem evidente car�ter de presta��o de servi�o, supostamente para que o (e)leitor acompanhe (e pressione) o seu deputado.
No caso da vota��o da den�ncia contra Temer, as enquetes tinham pequenas diferen�as, chegaram a resultados semelhantes entre si, mas se mostraram irreais, indo na dire��o contr�ria do que os pr�prios jornais tinham apurado. Todas registravam um n�mero maior de parlamentares a favor da aceita��o da den�ncia, o que, como se viu, esteve longe de acontecer.
A Folha j� foi tida como insuper�vel nas grandes coberturas. Por motivos variados, tal supremacia n�o tem se confirmado. Outros tempos, outros desafios.
Se o jornal � hoje mais lido em sua vers�o digital do que em sua vers�o impressa, a cobertura online merece mais aten��o para competir de fato com a TV e com os in�meros concorrentes digitais. Investimento e defini��o de prioridades s�o necessidades imediatas.
Afinal, vive-se a era do jornalismo instant�neo. O resultado at� aqui n�o tem sido dos mais favor�veis. Os grandes momentos s�o cru�is. � preciso n�o ser pequeno e se preparar melhor para enfrent�-los.
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