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Rep�rter especial da Folha, foi correspondente nos EUA e escreve sobre pol�tica e economia internacional. Escreve �s sextas-feiras.
Ar�bia Saudita abre v�rios fronts na guerra contra o Ir�
O primeiro ministro do L�bano, Saad Hariri, deve pousar em Paris no s�bado (18). Faz duas semanas que Hariri chocou o mundo ao renunciar ao cargo de primeiro-ministro em um pronunciamento na TV estatal saudita, gravado em Riad.
Disse que sua vida estava em perigo e que o grupo armado xiita Hizbullah estava amea�ando a estabilidade do L�bano. Seu pai, o ex-primeiro ministro Rafik Hariri, foi assassinado em um ataque a bomba em 2005. Uma investiga��o da ONU apontou envolvimento de membros da mil�cia, ligada ao Ir� (eles negam).
Bandar al-Jaloud - 6.nov.2017/Pal�cio Real Saudita/AFP | ||
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O primeiro-ministro do L�bano, Saad Hariri, se re�ne com o rei Salman, da Ar�bia Saudita, em Riad |
O presidente liban�s, Michel Aoun, e v�rias autoridades estrangeiras afirmam que, na realidade, Hariri foi obrigado pela Ar�bia Saudita a renunciar (ele nega). Hariri teria sido recebido no aeroporto por autoridades sauditas, que confiscaram seu celular e o for�aram a anunciar sua ren�ncia na TV saudita.
Especula-se que os sauditas estariam insatisfeitos com Hariri, que seria "conciliador demais" com o Hizbullah.
O governo no L�bano, que passou por uma guerra civil entre 1975 e 1990, equilibra-se em uma divis�o de poder —o presidente � sempre um crist�o maronita, o primeiro-ministro, um mu�ulmano sunita, apoiado pela Ar�bia Saudita, e o l�der do parlamento, um mu�ulmano xiita, ligado ao Hezbollah e, consequentemente, ao Ir�. O presidente Aoun, crist�o maronita, � aliado do Hizbullah.
Na vis�o do impaciente pr�ncipe herdeiro saudita Mohammed bin Salman, conhecido como MBS, o poder do Ir� estaria se expandindo perigosamente no L�bano —e no resto do Oriente M�dio. MBS gostaria que o irm�o (e rival) de Saad, Bahaa, assumisse o cargo —ele � visto como mais linha-dura.
"Se eu atra�sse algu�m para a minha casa, for�asse a pessoa a renunciar e a mantivesse como ref�m por 13 dias, com certeza a pol�cia ia me prender. A n�o ser, � claro, que eu fosse o pr�ncipe herdeiro da Ar�bia Saudita. A� eu seria chamado de reformista", tuitou Trita Parsi, presidente do Conselho Nacional Iraniano-Americano.
Desde que assumiu como pr�ncipe herdeiro, MBS vem tentando implementar reformas para tornar a economia saudita menos dependente do petr�leo e liberalizar o reino, tirando poder dos cl�rigos conservadores —permitindo, por exemplo, que mulheres dirijam.
Mas o pr�ncipe, de apenas 32 anos, t�m se mostrado autorit�rio e temer�rio. Ele mandou prender 11 pr�ncipes sauditas e quase 200 pessoas da elite econ�mica do reino, em uma opera��o contra corrup��o. Alguns eram, de fato, corruptos. Outros provavelmente eram apenas rivais de MBS ou se opunham � sua sanha reformista.
MBS abriu v�rios fronts na guerra contra o Ir� —no Qatar, no I�men e, agora, no L�bano.
A percep��o � que a influ�ncia do Ir� vem se expandindo no oriente M�dio. Na S�ria, o conflito se estabilizou e, apesar de diversas previs�es desde o in�cio da guerra, em 2011, o ditador Bashar al-Assad, apoiado pelo Ir� e pela R�ssia, continua firme e forte no poder.
O Hizbullah e os ataques a�reos russos garantiram a Assad uma quase certa "vit�ria" na guerra,. Embora n�o se saiba exatamente o que vai sobrar da S�ria para Assad governar.
O Iraque � governado pelo xiita Haider al-Abadi, muito pr�ximo do Ir�. Mil�cias xiitas foram determinantes para derrotar o Estado Isl�mico em boa parte do pa�s. No I�men, o Ir� financia os rebeldes houthis, que tentam derrubar o governo, apoiado pela Ar�bia Saudita.
A Ar�bia Saudita acusa o Ir� de "crime de guerra" —o pa�s teria fornecido aos houthis o m�ssil que eles lan�aram contra o aeroporto de Riad (e que foi interceptado).
Desenha-se um arco de influ�ncia iraniana que abarca o L�bano, S�ria e Iraque, e se estendendo para o I�men.
"Os iranianos � que est�o agindo de forma agressiva. N�s estamos reagindo � agress�o dos iranianos e dizendo: chega, n�o vamos mais deixar que voc�s fa�am isso", disse o chanceler saudita, Adel al-Jubeir, nesta quinta-feira (16). Ele exige que o Hizbullah se desarme.
Al�m das a��es no L�bano, MBS escalou a ofensiva anti-iraniana no Qatar e I�men.
Os sauditas, juntamente com os Emirados �rabes, Bahrein e Egito, impuseram um embargo contra o Qatar em junho, exigindo, entre outras coisas, que eles fechem a TV Al Jazeera e deixem de patrocinar grupos terroristas e de se aproximar do Ir�. O resultado foi que, desde ent�o, o Qatar se aproximou ainda mais do Ir�.
No I�men, os sauditas intensificaram os ataques a�reos contra rebeldes houthis, que causaram milhares de mortes de civis. Tamb�m impuseram um bloqueio que, segundo a ONU, condena milh�es de iemenitas � morte por inani��o.
O bloqueio foi revisto em parte, e agora os sauditas est�o permitindo entrega de ajuda humanit�ria, mas apenas atrav�s dos portos controlados pelo governo —insuficientes para chegar a todos os famintos.
Em sua entrevista, Jubeir disse que a Ar�bia Saudita est� consultando seus aliados para decidir qual "alavancagem" ir� usar contra o Hizbullah para acabar com seu controle no L�bano e interven��es em outros pa�ses.
O medo � que o L�bano se transforme no pr�ximo palco de uma guerra por procura��o entre Ir� e Arabia Saudita.
Mas, segundo Donald Trump, n�o h� porque se preocupar.
"Confio plenamente no rei Salman e no pr�ncipe herdeiro Mohammed bin Salman da Ar�bia Saudita, eles sabem exatamente o que est�o fazendo", tuitou o presidente americano, ap�s MBS prender d�zias de pessoas no reino, acusadas de corrup��o.
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