Rep�rter especial da Folha, foi correspondente nos EUA e escreve sobre pol�tica e economia internacional. Escreve �s sextas-feiras.
A arte anti-isl�mica no Ir� e os aiatol�s brasileiros
O turista que entra no sal�o principal do Museu de Arte Contempor�nea de Teer� se depara com os indefect�veis retratos dos aiatol�s Khomeini e Khamenei, presentes em todos os pr�dios p�blicos do pa�s.
Neste caso, os dois l�deres isl�micos observam uma escultura-m�bile de Alexander Calder flutuando acima de uma obra que representa um "espelho" feito com petr�leo (Mat�ria e Mente, de Noriyuki Haraguchi).
O simbolismo dessa cena � apenas um aperitivo para o tesouro escondido no museu, que tem a maior cole��o de arte do s�culo 20 fora do Ocidente. S�o 1.500 obras europeias e americanas e 1.500 obras iranianas.
Atta Kenare - 20.nov.15/AFP | ||
Visitantes observam quadro de Francis Bacon no Museu de Arte Contempor�nea de Teer� em 2015 |
O museu foi constru�do dois anos antes da Revolu��o Isl�mica que levaria o aiatol� Khomeini ao poder, em 1979. Idealizado pela imperatriz Farah Diba Pahlevi, mulher do antigo x� Reza Pahlevi, re�ne centenas de obras de Monet, Gauguin, Pissarro, Toulouse-Lautrec, Van Gogh, Rodin, Picasso, Braque, Jackson Pollock, Rene Magritte, Robert Rauschenberg, Jasper Johns, al�m de v�rias obras de grandes artistas iranianos como Mohsen Vaziri Moghaddam e Faramarz Pilaram. O valor da cole��o � estimado em US$ 2,5 bilh�es.
Quando o aiatol� tomou o poder, um funcion�rio do museu guardou todas as obras ocidentais em um por�o, para preserv�-las da f�ria revolucion�ria. Khomeini baniu filmes e m�sica ocidental, dizia que a deprava��o do Ocidente havia contaminado os pa�ses mu�ulmanos.
Essas obras ficaram no por�o do museu, juntando p�, at� 1999, quando, pouco a pouco, passaram a ser exibidas. Durante algumas semanas por ano, o museu exibe algumas poucas obras ocidentais ao p�blico.
Com um grupo de jornalistas convidados pelo governo iraniano, pude ver obras-primas como "Natureza morta com estampa japonesa", de Paul Gauguin, "Homem reclinado com escultura", de Francis Bacon, "Sienna, laranja e preto no marrom escuro", de Mark Rothko e um quadro da "S�rie do Ind�gena Americano", de Andy Warhol.
Mas algumas obras jamais ser�o vistas pelo p�blico, por serem consideradas anti-isl�micas.
Segundo o respons�vel por rela��es p�blicas do museu, Hassan Noferesti, existem 15 "obras inadequadas para exibi��o" —quadros com nus, tem�tica homossexual (homossexualidade � punida com pena de morte no pa�s), e suposta pornografia.
Hassan mostra no celular uma foto do quadro "Gabrielle com a blusa aberta", de Renoir, uma das obras proibidas. "N�o podemos exibir esse quadro por considera��es isl�micas", explica.
No tesouro secreto da "arte degenerada" h� tamb�m nus de Pablo Picasso e Edvard Munch e o quadro "Duas figuras deitadas na cama com acompanhantes", de Francis Bacon.
Em 2005, um diretor mais rebelde exibiu essa obra de Bacon. O Minist�rio da Cultura e Orienta��o Isl�mica rapidamente retirou a obra, considerada "homossexual".
"Essas obras s� s�o secretas para o p�blico, mas alguns poucos 'VIPs' podem v�-las", diz Noferesti.
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No Brasil, alguns aiatol�s tamb�m tentam "proteger" o p�blico da arte degenerada. Se n�o tomarmos cuidado, daqui a pouco um conselho supremo vai passar a decidir quem s�o os "VIPs" que podem ver essas obras secretas.
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