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Rep�rter especial da Folha, foi correspondente nos EUA e escreve sobre pol�tica e economia internacional. Escreve �s sextas-feiras.
A vit�ria do tribalismo tacanho de Trump
Mike Theiler/Xinhua | ||
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O presidente dos EUA, Donald Trump, discursa ao anunciar a sa�da do Acordo de Paris sobre o clima |
Multilateralismo, descanse em paz.
Ao anunciar a retirada dos EUA do Acordo de Paris sobre o clima, o presidente Donald Trump afirmou estar disposto "a trabalhar imediatamente com os l�deres democratas para (re)negociar nossa entrada no acordo de Paris sob termos que sejam justos para os EUA e seus trabalhadores ou negociar um novo acordo que proteja nosso pa�s e nossos contribuintes".
S� faltou combinar com os russos —neste caso, com os franceses, chineses, alem�es e o resto do mundo.
O presidente franc�s, Emmanuel Macron, rejeitou categoricamente a possibilidade de o acordo ser renegociado. "Digo a voc�s de forma firme: n�s n�o vamos renegociar o acordo para torn�-lo menos ambicioso", disse o l�der franc�s em comunicado televisionado. "N�o existe plano B, porque n�o existe planeta B."
Macron se juntou � chanceler alem�, Angela Merkel, e ao primeiro ministro italiano, Paolo Gentiloni, em um comunicado lamentando a decis�o de Trump e dizendo, mais uma vez, que o tratado n�o pode ser renegociado.
"N�o se pode renegociar de forma individual. � um acordo multilateral, nenhum pa�s sozinho pode mudar as regras de forma unilateral", disse Christiana Figueres, ex-funcion�ria da ONU que liderou as negocia��es do acordo.
Assim como os Estados Unidos, o Reino Unido tamb�m achou que poderia "comer o seu bolo, mas continuar com ele", como se diz em ingl�s, no caso do "brexit".
Mas uma vez comido, o bolo j� era. O governo brit�nico queria se livrar dos "imigrantes inc�modos" e das amarras das regras da UE, enquanto mantinha acesso livre e desimpedido ao mercado europeu.
Merkel e Macron j� deixaram claro que n�o v�o ceder � ambi��o de May de negociar simultaneamente seu div�rcio da UE e o acesso ao mercado europeu, e que o Reino Unido ter� de acertar antes suas "contas" com Bruxelas.
Tal como no caso do "brexit", os pa�ses engajados no acordo para lidar com as mudan�as clim�ticas querem evitar o "risco moral": se a sa�da da UE ou do acordo do clima ficar muito f�cil e barata, outros pa�ses ter�o incentivo para fazer o mesmo.
N�o se pode dizer que a decis�o de Trump foi uma surpresa. O republicano passou a campanha inteira prometendo que ia sair do TPP, do Nafta e do Acordo de Paris (desses, s� o Nafta sobreviveu, mas ser� revisto).
E, na pr�tica, Trump j� tinha come�ado a desmantelar todas as regulamenta��es e medidas administrativas baixadas pelo ex-presidente Barack Obama para reduzir emiss�es de CO2, que ajudariam os EUA a cumprir os objetivos acordados em Paris.
Mas ao romper o acordo, ainda que o processo v� demorar pelo menos at� 2019 para ser conclu�do, Trump martela mais um prego no caix�o do multilateralismo.
Em artigo no "Wall Street Journal" ap�s a viagem de Trump pelo Oriente M�dio e Europa, Gary Cohn, principal assessor econ�mico da Casa Branca, e H.R. McMaster, assessor de seguran�a nacional, resumem � perfei��o esse tribalismo tacanho defendido por Trump:
"O presidente embarcou em sua primeira viagem internacional com uma vis�o clara de que o mundo n�o � uma comunidade global, mas sim uma arena onde na��es, atores n�o governamentais e empresas se relacionam e competem em busca de vantagens. N�s trazemos para esse foro um poder militar, pol�tico, econ�mico, cultural e moral inigual�vel."
Basicamente, o meu pai � maior que o seu, o carrinho � meu —se eu n�o quiser brincar, ningu�m vai brincar.
Essa mentalidade demagoga-tacanha v� em todos os acordos multilaterais uma conspira��o diab�lica para conter o mais forte —os EUA— e n�o uma maneira de juntar for�as para lidar com problemas que afetam a todos.
Ao se retirarem do acordo do clima, os EUA passam a mensagem que, para eles, todas as obriga��es s�o negoci�veis, e que eles podem se retirar a qualquer momento de tratados internacionais. Depois do TPP e do Acordo de Paris, quais ser�o os pr�ximos? Os EUA v�o pular fora da Organiza��o Mundial de Com�rcio (OMC)? Da Otan?
A ver se os chineses conseguem preencher o v�cuo de lideran�a deixado pelo recuo dos EUA no cen�rio global.
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