Após a recomendaç��o de fortalecimento do Plano Nacional de Fertilizantes feita pelo grupo de trabalho da agricultura na transição para o governo Lula 3 na semana passada o setor comemorou, mas reiterou que não há solução fácil.
"Não existe um bala de prata que vá resolver", diz Bernardo Silva, diretor-executivo do Sinprifert (Sindicato Nacional das Indústrias de Matérias-Primas para Fertilizantes). "Há uma série de fatores que a gente vem tentando girar sob diferentes aspectos."
Um sistema tributário que privilegia a importação, o alto custo de matérias-primas, a falta de um marco regulatório e as cifras bilionárias que rondam os projetos são fatores complicadores para a reindustrialização do setor de fertilizantes no Brasil.
Havia preocupação quanto à manutenção do programa lançado em 2022 em meio à quebra no fornecimento de fertilizantes devido à guerra da Ucrânia.
O conflito europeu colocou luz sobre um problema antigo. O Brasil é o quarto maior mercado consumidor desse tipo de produto e importa 90% das 45 milhões de toneladas de NPK (nitrogênio, fósforo e potássio), que usa e quase 1/4 desse volume vinha da Rússia.
Silva e outros representantes do setor no Brasil trabalham junto a entidades como Fiesp (Federação das Indústrias de São Paulo) e CNA (Confederação Nacional da Agricultura) para garantir que o plano fosse "abraçado" pelo novo governo.
Para o setor, o programa de estímulo é um sinal de que "o Brasil está sério em reduzir a dependência externa." A inclusão no relatório da transição reforça essa importância, afirma. O plano prevê reduzir a dependência de fertilizante importado a 45% até 2050.
"Para que isso ocorra, os próximos governos precisam transformar isso em política pública, de Estado. Esses projetos são todos de longo prazo, de várias décadas", afirma o presidente do sindicato da indústria. "Um projeto de uma planta não custa menos de US$ 2,5 bilhões [cerca de R$ 13,2 bi], então a gente precisa dessa visão de longo prazo."
Os gargalos do setor hoje são muito. Nas plantas de nitrogenados, o gás natural precisa estar disponível, e ele chega às indústrias em gasodutos. Na mineração, é necessário que haja ferrovia para escoamento.
"O custo do gás como matéria-prima precisa diminuir e precisamos de um marco regulatório que agilize e dê segurança jurídica para que os investidores se sintam atraídos."
Joana Cunha com Fernanda Brigatti
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