Nelson de Sá

Correspondente da Folha na Ásia

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Nelson de Sá

Cobertura ocidental acorda para o combate chinês às Big Techs, modelo para EUA e Europa

Impotência de governos contra plataformas, que ganharam maior poder na pandemia, leva Handelsblatt e Bloomberg a elogiar Pequim

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Fechando a semana, de um dia para o outro, a China acumulou “kudos” na cobertura econômica ocidental para um de seus programas até então mais questionados, por acuar gigantes de tecnologia como o Alibaba, de Jack Ma, e reduzir sua hegemonia.

O alemão Handelsblatt veio primeiro, destacando que a “China está limitando o poder das Big Techs —e fazendo muitas coisas surpreendentemente certas”.

Em suma, avalia o jornal de referência sobre economia na Alemanha, “com seu capitalismo de dados desenfreado, as grandes empresas de tecnologia não estão só colocando a concorrência sob ameaça, estão se transformando num risco político”.

E a China, “enquanto a Europa e os Estados Unidos ainda se esforçam com dificuldade para regulamentar as plataformas de internet, publica quase todos os dias regras mais rígidas para o setor de tecnologia, visando combater a concorrência desleal e os monopólios”.

O outro elogio saiu da americana Bloomberg (reprodução acima), logo em seguida e com visão muito próxima, sob o título “China planeja controle de algoritmos de tecnologia com que os EUA só conseguem sonhar”.

Em suma, agora “os reguladores estão buscando implementar regras de longo alcance sobre os algoritmos que as empresas de tecnologia usam para recomendar vídeos e outros conteúdos, reivindicando uma autoridade sobre os serviços de internet que governos como os EUA têm lutado com dificuldade para regulamentar”.

Com três dezenas de propostas (já vertidas por Stanford), a nova frente de combate visa conter práticas que, por exemplo, “encorajem vício ou consumo elevado” ou que afetem a ordem econômica, por gigantes como Bytedance ou Tencent.

A questão para a Bloomberg, assim como para o Handelsblatt, é o contraste com a fraqueza demonstrada pelos governos ocidentais, frente ao poder ampliado das Big Techs, na pandemia.

“Enquanto o governo americano vem tendo um êxito limitado em forçar mudanças, o governo chinês implementou uma série de medidas duras neste ano, contra práticas monopolistas e de concorrência desleal”, escreve.

Mais importante, os reguladores se voltam agora para os “algoritmos da indústria de tecnologia que estão no centro das controvérsias políticas em todo o mundo”, sobretudo Facebook e Google, acusados de exacerbar “polarização e violência”.

Tanto “kudos” talvez seja resultado da semana em que os governos de EUA e Europa se mostraram especialmente frágeis, no Afeganistão que ocuparam por 20 anos.

Mas vem em boa hora para uma China, pelo menos para parte de sua mídia, que começou a ameaçar com isolamento ainda maior diante de um noticiário financeiro ocidental que vai ganhando ritmo de Guerra Fria, por títulos como Wall Street Journal.

O Guancha, que é de um investidor chinês em tecnologia bastante reverenciado no Ocidente, Eric X. Li, chegou a publicar no último mês um texto que apontava o magnata Rupert Murdoch, dono do WSJ e de parte das mídias australiana e inglesa, como “o homem por trás da opinião pública global antiChina”.

Acusou as campanhas contra Pequim, feitas ao longo de anos em seus jornais e canais na Austrália, pelo afastamento dos dois países, hoje em guerra comercial aberta.

Nesta semana, o Guancha foi além e destacou a transcrição de uma palestra de Wang Hui, intelectual influente, professor da Universidade Tsinghua, dizendo que o debate público chinês sofre influência demasiada dos EUA.

Que não deveria aceitar “sem refletir” as premissas popularizadas pela “mídia e mesmo pelos meios acadêmicos ocidentais”, inclusive quanto ao supostamente inevitável confronto sino-americano, que vem exacerbando o nacionalismo chinês.

Defendeu parar de “olhar para nós mesmos sob o prisma do Ocidente”.

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