O advogado Michel Saliba, que representou o PMN na ação que levou à cassação do mandato do ex-deputado federal Deltan Dallagnol, diz ter recebido ameaças de morte ao longo desta quinta-feira (18) por causa de sua atuação no caso.
O defensor relata que um carro rondou o seu escritório de advocacia repetidas vezes, e que diversas ligações anônimas foram feitas ao local por detratores.
Uma das supostas ameaças foi gravada. Nela, uma voz masculina pode ser ouvida xingando uma funcionária de Saliba. "[Você é] Outra filha da p* também", afirmou. "Eu trabalho com gente honesta, não trabalho com vagabundo. Quem trabalha com vagabundo é vagabundo também, entendeu?", disse ainda.
Em determinado ponto da ligação, o suposto agressor questionou o envolvimento do advogado na cassação de Dallagnol. "[Inaudível] Fazer lobby para pedir a cassação do Dallagnol... Você é um vagabundo. O seu patrão é um vagabundo, é um filho da p*. Mas nós vamos pegar ele. Nós vamos pegar ele", afirmou.
Durante o julgamento do TSE (Tribunal Superior Eleitoral), Saliba foi um dos que fizeram sustentação oral para defender a cassação do mandato do então deputado. Diante das ameaças que relata ter recebido nesta quinta, o advogado decidiu contratar seguranças para vigiar o seu escritório e a sua residência.
"Pela primeira vez, estou sentindo na pele o que é a reação da extrema direita. Em 31 anos de advocacia, nunca vivi isso", afirma ele à coluna. "É uma coisa assustadora porque tomei contato com a ausência de padrão civilizatório que notadamente marca manifestações de pessoas ligadas à extrema direita. Estou realmente muito assustado, perplexo", segue o advogado, que integra o grupo Prerrogativas.
Saliba ainda destaca que o PMN é um partido de direita e atuou no caso de forma independente da Federação Brasil da Esperança, composta por PT, PC do B e PV, que também ajuizou uma ação pedindo a cassação de Dallagnol. "Se o PT não fosse impugnante, o resultado seria o mesmo", afirma.
O advogado diz que levará os registros telefônicos desta quinta-feira e a gravação em vídeo do carro que rondou seu escritório às autoridades policiais, a fim de que seja realizada uma investigação.
"No país de hoje, a realização de um julgamento que desagrada um lado é pior do que a reação de uma torcida organizada. Se você tiver um [jogo entre] Palmeiras e Corinthians, terá menos risco do que em um julgamento que envolva um lado político", afirma o defensor.
O advogado Luiz Eduardo Peccinin, que defendeu a federação, também afirma à coluna ter recebido ameaças, mas por meio de suas redes sociais. Algumas, relata, fizeram menção à sua família. "Espero que sofram demais", dizia uma das mensagens.
"Essas mensagens só mostram que estamos do lado certo. Como dizia Sobral Pinto, 'a advocacia não é profissão de covardes'. Bandidos jamais me intimidarão. No que depender de mim, ameaças só me darão mais combustível para trabalhar mais firme no cumprimento da lei e na defesa da Constituição", diz Peccinin.
A decisão pela cassação de Deltan Dallagnol foi tomada na terça-feira (16) sob a alegação da impossibilidade de o então procurador ter deixado a carreira no Ministério Público enquanto respondia a uma série de sindicâncias no órgão.
Mesmo fora do cargo, o parlamentar cassado ainda pode recorrer ao STF (Supremo Tribunal Federal). Ele disse estar indignado com a decisão do TSE e que está em curso no Brasil uma "vingança sem precedentes" contra "agentes da lei que ousaram combater a corrupção".
ESTANTE
O editor Paulo Werneck, da revista Quatro Cinco Um, prestigiou o lançamento do livro "O Caminho da Autocracia – Estratégias Atuais de Erosão Democrática" (Tinta-da-China Brasil), realizado na Livraria Megafauna, no centro de São Paulo, na noite de terça-feira (16).
A obra é escrita por Fernando Romani Sales, Adriane Sanctis de Brito, Conrado Hübner Mendes (colunista da Folha), Mariana Celano de Souza Amaral e Marina Slhessarenko Barreto. O livro é resultado de pesquisas do Centro de Análise da Liberdade e do Autoritarismo (Laut), do qual os cinco fazem parte.
A professora do Insper Bianca Tavolari, uma das coordenadoras do Observatório do Plano Diretor, passou por lá.
com BIANKA VIEIRA, KARINA MATIAS e MANOELLA SMITH
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