Reynaldo Gianecchini, 49, e Tainá Müller, 39, têm uma longa história. "A gente já fez quase um trisal", brinca o ator. "Eu roubei a mulher dele", diverte-se ela. Os dois se referem à novela "Em Família" (Globo, 2014). Na trama, Gianecchini era Cadu, casado com Clara (vivida por Giovanna Antonelli), que deixa o marido ao se apaixonar por Marina, papel de Tainá.
Oito anos e alguns trabalhos depois, os atores voltam a se encontrar em dois projetos. Um deles é a segunda temporada de "Bom Dia, Verônica", da Netflix. Ele entra na história como o grande vilão desta nova fase. "Vocês vão se surpreender", antecipa Tainá, a protagonista da trama.
"O mundo em 20 anos sofreu uma grande revolução. Como é que a gente vive esse amor em tempos de liberdade, mas também de muita carência e insegurança?", indaga ela.
Casada com o diretor Henrique Sauer desde 2013, Tainá afirma que está atualmente em um relacionamento monogâmico, mas que já teve outras relações que "não foram exatamente neste acordo".
Para ela, o assunto ainda é um tabu. "Eu, sinceramente, me questiono até que ponto não é uma questão imposta pela igreja lá atrás", reflete. "Acho que a gente tem que estar livre e aberto para ser feliz. Se isso nos aprisiona, para que manter?"
Giane compartilha de visão semelhante. "Cada relação que você tem, você tem que procurar como ela pode funcionar, como ela pode existir, como ela pode te suprir. Eu sempre questiono também a monogamia. No mínimo, eu fico sempre atento: será?". "O quanto ela é natural", completa atriz. "É...o quanto ela é natural", concorda ele.
Para Giane, o tema não tem estado presente em sua vida, já que "faz muito tempo" que ele não vive um relacionamento sério. "Muito [tempo] mesmo. E eu estou curtindo muito ser solteiro", acrescenta.
No primeiro ano da pandemia, o ator afirma ter se reconectado com a família e com os amigos. "Eu trouxe a minha mãe para ficar comigo. Vivi uma outra coisa que fazia tempo que eu não vivia porque eu estava muito no mundo, vivendo histórias gostosinhas de amor que duram um final de semana ou uma semana", diz.
Em 2020, Giane declarou em entrevista à agência de notícias EFE que se definia como pansexual, orientação que reúne pessoas que se sentem atraídas sexualmente por pessoas, independentemente da identidade de gênero. Ele afirma não ter se incomodado com a repercussão da sua fala porque se sentia maduro para abordar o assunto. "Agora estou conseguindo enxergar direito isso, essa fluidez. Eu realmente acho tudo possível. E você falar que tudo é possível não te coloca em um lugar específico, te coloca em todos os lugares", explica.
"Eu posso estar em todos os lugares no sentido da vastidão do meu desejo", prossegue. "Não significa você querer me agrupar ‘então você é isso’ ou ‘ah, não falei que ele era gay?' Talvez seja também gay, também hétero, também tudo. Tudo pode ser."
O diretor Jorge Farjalla o interrompe para dizer que o "ser humano tem essa coisa cafona que é de enjaular as pessoas dentro de uma gaiola e apontar o que cada um é e como deve ser". "A gente é plural", afirma ele.
"E a gente é fluido também, uma coisa que é hoje não precisa ser amanhã. Tem pessoas descobrindo a própria fluidez aos 60 anos", diz Tainá. "Eu não me defino em lugar algum, eu vivo o presente. É isso o que eu quero? Vou fazer agora", acrescenta ela.
"Brilho Eterno" nasceu de uma desilusão amorosa vivida pelo diretor. A ideia central da peça —e do filme— é a existência de um método capaz de apagar da memória as lembranças de um amor.
Vocês usariam tal artifício para esquecer uma grande desilusão?, questiona a coluna. Giane e Tainá afirmam que atualmente não, mas que no passado, talvez, topassem. "Já tive dores de amor de ficar no buraco. Mas hoje em dia, com a maturidade, entendo que até isso foi perfeito. Não apagaria da memória porque foi muito importante para entender um monte de coisa", diz o ator.
Nos palcos, Giane está bem diferente da imagem do galã da Globo, como ficou nacionalmente conhecido logo em seu primeiro trabalho na TV, quando interpretou Edu, de "Laços de Família" (2000).
Na pele de Jesse, ele força a postura para que o personagem aparente ser barrigudo. "Está ferrando as minhas costas, mas estou achando maravilhoso", diz Giane. Além disso, em cena, ele está proibido de sorrir com os dentes aparecendo. "Ele [o diretor Farjalla] fala que o sorriso é uma marca muito minha e ele não quer que ninguém me veja", explica.
O ator Jim Carrey, que interpreta o personagem no filme, e o comediante Jerry Lewis foram alguns dos nomes que inspiraram Giane. Há também uma referência à ideia da pureza dos palhaços, que não têm medo do ridículo. "Como a gente faz para esse cara ser esquisito? É se jogando, é não tendo medo do ridículo", afirma ele. "Sempre que dá para desconstruir essa coisa do galã, eu amo", diz.
O processo de Tainá foi diferente. Ela afirma que não quis se inspirar na Clementine vivida por Kate Winslet no longa por alguns motivos como ser uma produção falada em inglês e ambientada em outro tempo. "Eu sempre fico tentando achar pontos de conversão, de contato com experiências que eu vivi. E a Celine tem uma coisa de insegurança que acho que já me habitou no passado", afirma.
Essas diferenças são, na visão de ambos, algo positivo. "Eu sou caótica, e ele é organizado", pontua a atriz. "E o mais lindo é que funciona", diz o ator.
"O Giane é um ser iluminado", derrete-se ela. Tainá lembra que quando eles trabalharam pela primeira vez juntos em 2014, vivendo o triângulo amoroso com Giovanna Antonelli, ela deu uma entrevista sobre como era ser a antagonista do ator. "Eu falei: se a Clara [personagem de Antonelli] quiser ficar com o Cadu, está tudo certo. É o Gianecchini!". Aos risos, ela acrescenta: "Mas Clara termina a novela comigo."
Comentários
Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.