![mônica bergamo](https://cdn.statically.io/img/f.i.uol.com.br/folha/colunas/images/1507426.jpeg)
Jornalista, assina coluna com informa��es sobre diversas �reas, entre elas, pol�tica, moda e coluna social. Est� na Folha desde abril de 1999. Escreve diariamente.
'� Sergio Moro na terra e Deus no c�u', diz C�ssia Kis
A atriz C�ssia Kis conversa com o rep�rter Bruno F�vero em uma sala do Projac, complexo de est�dios da TV Globo, quando seu colega Marcos Palmeira entra, pede licen�a e a puxa de lado. "E a�, o que achou? S� faltou falar um pouco mais da quest�o do Moro, n�?", diz Palmeira. "Foi �timo, foi �timo, aquela abertura que ele fez...", responde a atriz.
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"Ele", no caso, � o procurador da Lava Jato Deltan Dallagnol, que na v�spera desta entrevista deu uma palestra para um grupo de artistas na casa de C�ssia, na Barra da Tijuca, zona oeste do Rio.
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A impress�o deixada por um dos principais nomes da Lava Jato foi a melhor poss�vel. "� um homem brilhante, brilhante. Acho que �... olha, nem consigo achar um adjetivo para ele", diz a atriz.
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Preocupada com os rumos do pa�s, ela tem se engajado cada vez mais em discuss�es sobre a pol�tica brasileira. E a Lava Jato � um dos poucos pontos positivos que v�.
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"� Moro na terra e Deus no c�u", resume. "Essa frase tem que ser gravada no Brasil inteiro. N�o � poss�vel algu�m querer ir contra a Lava Jato." E emenda: "T� falando isso, mas nem sei se eu t� conversando com um petista...".
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Ela diz que j� teve "muita simpatia" pelo partido de Lula e chegou a assistir a com�cios do ex-presidente em S�o Bernardo, mas se decepcionou, tanto com a sigla quanto com o l�der. "Lula nunca teve boas companhias e nada pode ser pior do que isso."
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Mas o problema do pa�s, opina, n�o � s� dos partidos. "N�s vamos sair desta crise. E depois? Vai ter outra crise. O sistema n�o funciona. Eu falo pro meu filho: 'Joaquim, eu preciso que voc� trace seu objetivo para daqui a um ano e meio. At� l�, o que voc� vai fazer?'. Precisamos pensar: qual ser� o Brasil dos pr�ximos cem anos?"
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"Cada vez que eu t� no sinal dentro do meu carro e vejo aqueles boys maravilhosos de 30 anos vendendo guarda-chuva, negros lindos eles chegam perto de mim e eu penso: '�frica, nos perdoe, por favor!'. S�o tantos os homens lindos que n�o conseguem avan�ar por conta do Estado", diz.
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Ela fala enquanto come com talheres de pl�stico a comida embalada em uma caixinha de papel que pediu no delivery de um restaurante. Mais tarde gravaria uma cena da novela das 23h, "Os Dias Eram Assim", que se passa durante a ditadura militar.
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A atriz critica movimentos que pedem a volta do regime militar e diz temer a ascens�o do candidato Jair Bolsonaro (PSC). "Uma loucura. Uma loucura. Uma loucura. Uma loucura. Uma loucura", diz.
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Na trama, C�ssia faz um par rom�ntico com Jos� de Abreu, ator que � filiado ao PT e j� foi xingado em um restaurante por sua milit�ncia. "[O xingamento] � um absurdo. A gente tem uma diferen�a pol�tica. E da�? Ele � gentil comigo e eu com ele, somos amigos, frequentamos a casa um do outro", afirma.
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O ambiente das grava��es, diz, � o melhor de sua carreira. "A gente se encontra, discute o texto, fala sobre a cena. Em uma novela das 21h, isso � absolutamente imposs�vel. Eu adoro [novelas das 21h], mas eu vejo 99% das cenas e penso: 'Ah, se pudesse ter arrumado um pouco mais'. O produto precisa ser menor, n�o d� mais para fazer obra de 190 cap�tulos."
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Enquanto fala, C�ssia n�o para de se mexer. Cruza as pernas, deita na cadeira, levanta, interrompe a conversa para falar com conhecidos. Com alguma frequ�ncia, se perde em digress�es e pergunta ao interlocutor sobre qual assunto estavam falando.
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H� 12 anos, um amigo (leigo) sugeriu que ela fosse bipolar. Convencida do "diagn�stico", foi a um psiquiatra. Saiu de l� com tr�s receitas de medicamentos, que tomou por anos -s� largou em 2014, ap�s aderir ao budismo e � dieta macrobi�tica.
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Hoje, evita rem�dios. "A macrobi�tica prega que � poss�vel evitar as doen�as com a alimenta��o", explica. E funciona para ela? "Se funciona para mim? Funciona para voc� tamb�m, funciona para qualquer um", garante.
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C�ssia fez um aborto quando tinha 30 anos e j� militou contra a legaliza��o da pr�tica. Hoje, diz que a discuss�o "n�o � prioridade", mas mant�m a posi��o.
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"Eu tive um casamento incr�vel quando eu era muito jovem com um cara que n�o queria ter filho. E eu concordei que eu n�o ia ter filho. Quando eu fiquei gr�vida, tive medo de acabar com o casamento. Ent�o tomei a decis�o de fazer o aborto. Vou te contar: � muito dif�cil, pade�o bastante. Fazer um aborto n�o � bom. Eu n�o quero partilhar disso."
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A conversa volta para pol�tica. Apesar do entusiasmo que revela ter pela Opera��o Lava Jato, a atriz diz n�o sentir satisfa��o em ver acusados de corrup��o na cadeia. Pelo contr�rio.
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"Eu poria as pessoas para trabalhar no campo, se recuperar na natureza. O ex-presidente do Banco do Brasil [Aldemir Bendine, preso pela opera��o], por exemplo, com certeza n�o chegou onde chegou � toa, tem valor. Queria ver esse homem recuperado, trabalhando pelo Brasil". Na mesma linha, "adoraria ver o [ex-governador do Rio S�rgio] Cabral varrendo a rua".
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Fim da entrevista. Antes da despedida, a atriz anda em c�rculos em volta do rep�rter e mexe os dedos como se estivesse lan�ando um p� invis�vel. "Isso aqui � pra voc� prestar aten��o no que vai escrever, viu? J� tive muito problema com jornalista."
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