![mônica bergamo](https://cdn.statically.io/img/f.i.uol.com.br/folha/colunas/images/1507426.jpeg)
Jornalista, assina coluna com informa��es sobre diversas �reas, entre elas, pol�tica, moda e coluna social. Est� na Folha desde abril de 1999. Escreve diariamente.
'Rock perdeu relev�ncia pol�tica no Brasil para o rap', diz Frejat
Frejat, 54, n�o faz quest�o de poupar a garganta antes de seus shows. Numa sexta-feira de tr�nsito ca�tico em SP, o carioca solta a voz antes de apresenta��o na cidade. Fala sem parar durante as quase duas horas que sua van demora para ir do hotel ao Citibank Hall, ambos na zona sul da cidade.
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Os m�sicos que o acompanham em sua carreira solo tamb�m tagarelam no banco de tr�s. Comentam a Olimp�ada, dizem que o reality "Casa dos Artistas" (SBT) era muito mais engra�ado que o "Big Brother Brasil" (Globo), elogiam e detonam apresentadores e discutem qual o melhor lugar para comer em SP.
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Sentado na frente, Frejat nem ouve a conversa. Est� concentrado no papo com a rep�rter Let�cia Mori sobre o futuro do mercado fonogr�fico. Conta que nunca mais vai lan�ar nenhum disco.
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"As m�sicas v�o continuar acontecendo, mas disco � um formato que acabou. O CD voc� pode fazer para dar para os amigos, mas o p�blico mesmo s� consome novas plataformas. Hoje mesmo estou lan�ando v�rios singles na internet", diz o cantor. "Eu nunca fiz �lbum conceitual, sempre foram colet�neas de m�sicas que eu j� tinha gravado."
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"Meus filhos piram com minha cole��o de vinil. J� eu n�o tenho o menor saco", diz, rindo, o pai de Rafael, 20, e Julia, 16. "Disco, agulha, barulho, fica pulando... Tendo vindo do vinil, n�o sinto a menor necessidade voltar a ele. A m�sica digital pode ter uma qualidade incr�vel, olha aqui" -e tira da mochila um tocador de som importado.
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Assinante de dois servi�os de m�sicas por streaming (Deezer e Spotify), Frejat diz que � um "modelo interessante de consumo, mas, neste momento, um p�ssimo modelo de neg�cio para o artista".
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Sua cr�tica � � forma de remunera��o: "� imoral! Tive 32 mil acessos numa m�sica. Sabe quanto recebi? R$ 0,13! Antigamente a venda de 32 mil compactos ia dar uns R$ 5.000", diz. Frejat � um dos membros mais ativos do GAP (Grupo de A��o Parlamentar Pr�-M�sica), criado em 2005 para defender direitos dos artistas. Tamb�m se juntou � associa��o Procure Saber, que tem entre os integrantes cantores como Gilberto Gil e Caetano Veloso.
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"N�o eram Chico, Caetano e Gil que mais estavam sendo prejudicados, eram os artistas menos famosos. E os tr�s tiveram muita generosidade em se juntar a esse movimento." Diz que v� com preocupa��o a transi��o do novo ministro da Cultura, Marcelo Calero. "Ele diz que vai priorizar o di�logo, mas se coloca numa posi��o de come�ar a mediar uma situa��o que j� est� sendo mediada h� dez anos", afirma, se referindo � luta dos m�sicos para que o governo fiscalize e regule a cobran�a de direitos autorais.
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Apesar do receio em rela��o ao minist�rio, Frejat n�o se posiciona sobre o impeachment. "Tenho minha posi��o pessoal, como cidad�o, mas como agente pol�tico n�o posso escolher um lado. Temos que dialogar com todos."
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O que critica � o que chama de "cultura dos haters". "Aquelas pessoas que ficam o tempo todo na internet falando mal de tudo e todos. Eu, por exemplo, nunca tive projeto financiado por Lei Rouanet, mas acho que, apesar de alguns problemas, ela tem aspectos muito positivos de incentivar a cultura no pa�s. O mundo todo est� assim, muita gente que d� opini�o sem conhecer o assunto e sempre com muita raiva, muito �dio", afirma.
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Entediados com a viagem –o grupo est� h� quase meia hora na mesma avenida–, os m�sicos no banco de tr�s encerram o papo e reclamam do tr�nsito. Frejat n�o desanima e continua falando de m�sica. Diz que o rock n�o tem mais a relev�ncia pol�tica que tinha nos anos 1980, quando come�ou a carreira ao lado de Cazuza no Bar�o Vermelho.
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"A maneira como a gente falava, tanto de amor quanto do dia a dia na cidade, foi modificando como as pessoas viam as coisas. Tanto nas letras mais rom�nticas do Cazuza, como nas existenciais do Renato [Russo] ou com o humor do Roger [Moreira], o enfrentamento mais agressivo dos Tit�s e as letras bonitas do Herbert [Vianna]... A gente tinha um discurso que acabava sendo pol�tico, mas era muito baseado no que a gente sentia: quer�amos liberdade, viver sem tanta preocupa��o, sem tanto medo da repress�o da ditadura militar."
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Ele segue: "Hoje em dia o rock t� muito mais ligado a uma linguagem musical do que a uma coisa comportamental. Qualquer tipo de pessoa pode ser apreciadora sem ter identifica��o com o estilo de vida rock'n roll" -que Frejat diz ter aproveitado muito. Casado h� quase 30 anos com a empres�ria Alice Pellegatti, conta que "aprontou muito" com a mulher e que tenta passar essa vis�o de liberdade e abertura para os filhos.
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F� de Emicida e Gabriel, o Pensador, enxerga "o hip hop como uma m�sica muito mais ligada a esse discurso da rebeldia, da inquieta��o e da contesta��o da sociedade. No rap cabe melhor a quest�o pol�tica, � mais falado. E tem hoje toda uma consci�ncia e um engajamento em torno do movimento musical que o rock j� n�o tem. A� a garotada que tem posi��o pol�tica forte se identifica com o rap".
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Frejat v� como natural que alguns roqueiros de sua gera��o tenham se tornado conservadores. "Cada um seguiu seu caminho e achou sua verdade. Eu respeito, mas procuro manter minha vis�o sempre o mais progressista poss�vel", afirma ele, que � a favor de descriminaliza��o das drogas e do aborto, por exemplo. "Tenho amigos com posi��es diferentes, mas n�o estou a fim de brigar por causa disso. Ser aberto e conviver � que � ser verdadeiramente progressista", diz, pacificador.
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