![mônica bergamo](https://cdn.statically.io/img/f.i.uol.com.br/folha/colunas/images/1507426.jpeg)
Jornalista, assina coluna com informa��es sobre diversas �reas, entre elas, pol�tica, moda e coluna social. Est� na Folha desde abril de 1999. Escreve diariamente.
Em livro, Mara Gabrilli fala do acidente que a deixou paralisada e de conquistas
O risco de errar ao fazer qualquer proje��o sobre a personalidade de Mara Gabrilli, 46, baseando-se s� em seu aspecto f�sico de pessoa com tetraplegia � imenso.
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Mara � inquieta, liberta, sensual, provocadora. Nada tem de sofredora, de dependente ou de boazinha, como pode transparecer ao receber comida na boca de uma de suas fi�is ajudantes, relata o colunista Jairo Marques.
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Talvez, por essa raz�o, a biografia que a deputada federal pelo PSDB-SP lan�a amanh�, "Depois daquele Dia", pela editora Saraiva, cause surpresas em seus f�s, cr�ticos e eleitores.
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Na obra, escrita pela jornalista Milly Lacombe, Mara sofre um bocado e faz chorar com os detalhes de seu grav�ssimo acidente de carro, mas tamb�m diverte, fica nua, transa, queima baseados e inspira multid�es.
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"Morria de vergonha de ler o livro terminado. � minha vida, em detalhes, que est� ali! Fico imaginando algum deputado velhinho lendo e olhando desconfiado para mim l� na C�mara", diz, soltando uma gargalhada.
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A trag�dia que mudou a sua vida ocorreu em 1994. Ela viajava com o ent�o namorado, Paulo Fishberg. Os dois, e mais um amigo, voltavam de um fim de semana no litoral norte de S�o Paulo, lugar de paix�o de Mara. O casal estava em crise e, no carro, ensaiava uma discuss�o. Ele conduzia em alta velocidade. Ela lembra que implorava mentalmente para que parasse de correr. Em v�o.
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O carro despencou de uma altura de 15 m. Mara se recorda de que, presa nas ferragens, foi socorrida pelo amigo. Ele tirava cacos de vidro de sua boca, que sangrava. Ela detalha tamb�m a dor. Era como se seu pesco�o estivesse sendo esmagado.
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Todos se recuperaram bem. S� Mara ficou com sequelas graves. Tem hoje apenas movimentos do pesco�o para cima. Precisa de ajuda 24 horas por dia. Conta com um motorista e tr�s assistentes pessoais.
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De fam�lia rica do ABC Paulista, dona de empresa de �nibus, concession�ria de carros e im�veis, Mara teve e tem o melhor em reabilita��o e cuidados, que incluiu uma temporada de tratamento nos EUA. Isso a ajudou a desenvolver habilidades sensoriais "inimagin�veis".
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"Tive transforma��es �bvias no meu corpo, mas estou sempre o reencontrando e acho que, talvez, ele n�o tenha se modificado tanto como achei que seria ap�s o acidente. Vejo fun��es e possibilidades muito novas para ele dentro da minha cabe�a."
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E as "possibilidades" foram sendo abertas desde a UTI, no hospital Albert Einstein, onde Mara ficou por 50 dias, entre tubos de oxig�nio e testes atrevidos em sua nova sexualidade.
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De l�, ela telefonou para o namorado pedindo que fosse visit�-la. Tinha muito desejo. Pediu que ele a tocasse.
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Depois do tratamento nos EUA, voltou a morar com os pais. Alugou um flat para manter a privacidade em alguns momentos. �s vezes ela e Paulo se encontravam l�, mas o namoro j� tinha desandado. Conta que, tempos depois, come�ou a namorar o nutricionista Alfredo Galebe.
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Tr�s meses mais tarde, foram pela primeira vez para um motel. O pr�dio tinha escadas. Ele carregou Mara nas costas. J� no quarto, ajudou a namorada a tirar toda a roupa. Tarefa nada f�cil, j� que ela usa cintas para dar sustenta��o � musculatura.
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Galebe a ajudava a se movimentar e a abra��-lo. A partir da�, na defini��o dela, o romance ficou t�rrido. Durou sete anos.
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"�s vezes, a pr�pria pessoa com defici�ncia n�o sabe que pode ser feliz em sua sexualidade. Para mim, sexo sempre foi gostoso, saud�vel. Quando percebi que essa parte ia continuar ap�s o acidente, fiquei muito aliviada." Em setembro de 2000, ela posou nua para a revista "Trip".
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Depois do acidente, Mara continuou a estudar. Formou-se em publicidade e em psicologia. Abriu uma ONG para ajudar pessoas com defici�ncia. As portas para a pol�tica se abriram. Seu primeiro cargo foi o de secret�ria municipal da Pessoa com Defici�ncia, na gest�o de Jos� Serra (2005-2006).
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H� alguns anos, o pai, Luiz Alberto Gabrilli Filho, sofreu um aneurisma e quatro AVCs. Ficaram, ent�o, dois cadeirantes em casa. Hoje, ela mora sozinha em um apartamento nos Jardins.
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A ajudante Rosa ajeita a m�o de Mara em uma ta�a de vinho diversas vezes ao longo da entrevista. Embora ela n�o consiga se mexer, a acompanhante simula os movimentos. Ela usa, por exemplo, uma bicicleta ergom�trica, onde seu corpo � encaixado para ser exercitado.
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"Mara n�o poderia viver como uma pessoa passiva. Ela n�o era passiva em nada e, ainda que n�o conseguisse mais se mover do pesco�o para baixo, jamais conseguiria ser uma mulher sem atitude", narra trecho do livro.
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Sim, a cabe�a da "ongueira", ex-secret�ria municipal, ex-vereadora e a mulher mais votada para um cargo do Legislativo federal tamb�m se transformou com o "chacoalh�o" que a vida deu na garota atrevida dos anos 1980.
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"Tomei uma porrada imensa da vida e tive de pensar tudo diferente, tive que construir uma nova Mara", diz ela. "Sou humana. Tem horas que enlouque�o com bobagens corriqueiras. Mas, na maioria das vezes, fa�o uma reflex�o e dou um grande sorriso."
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"Depois daquele Dia" tem narrativa n�o linear. Ora o leitor est� � mesa de jantar dos Gabrilli com Mara e a m�e, Claudia, tendo algum tipo de conflito, ora mergulha na intimidade da biografada.
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"Minha m�e sempre foi muito r�gida comigo, mas o temperamento dela foi fundamental para que eu tivesse for�a de seguir em frente e encarasse meus desafios."
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*Certo dia,* quando ainda militava no terceiro setor, cismou: queria se encontrar com o ent�o presidente Lula para falar sobre esquemas de corrup��o em empresas de �nibus na regi�o do ABC. "At� parece", desafiou a m�e. Mara saiu com sua cadeira motorizada e foi sozinha at� a porta do pr�dio do petista. Amea�ou fazer um esc�ndalo -e ele a recebeu.
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O livro j� tem contrato para se tornar filme e Mara faz planos ambiciosos de, um dia, comandar o Pal�cio Matarazzo, sede da Prefeitura de S�o Paulo, a bordo de sua cadeira de rodas. Mas sobre isso ela n�o d� declara��es, nem mesmo ao longo das 318 p�ginas de sua biografia.
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