![mirian goldenberg](https://cdn.statically.io/img/f.i.uol.com.br/folha/colunas/images/15190208.jpeg)
� antrop�loga e professora da Universidade Federal do Rio de Janeiro. � autora de 'Coroas: corpo, envelhecimento, casamento e infidelidade'. Escreve �s ter�as, a cada duas semanas.
Mudar pra qu�?
Algumas mulheres que entrevistei disseram que se separaram sem um motivo concreto. Elas afirmaram que o marido era carinhoso, compreensivo e fiel.
No entanto, elas queriam mudar. Sentiam-se insatisfeitas, infelizes e incompletas. A separa��o era uma necessidade de mudar o rumo da vida e de buscar a felicidade.
Uma jornalista de 37 anos disse: "Ningu�m acreditou quando eu disse que iria me separar. Nem ele. �ramos o t�pico casal perfeito, com dois filhos lindos, um apartamento maravilhoso. Viaj�vamos muito, �ramos companheiros. Mas eu era muito ansiosa, decidi que precisava mudar de vida. Mudar pra qu�? Hoje, eu invejo a vida que ele construiu com a segunda mulher. Nunca mais consegui ter uma rela��o est�vel, segura e tranquila. A verdade � que eu me arrependo e sinto muita saudade".
Para uma professora de 43 anos, a imaturidade foi o principal motivo da separa��o.
"Eu era muito imatura. Queria ter novas experi�ncias, achava que iria encontrar o homem perfeito. Ficava irritada com bobagens. Qualquer briguinha eu dizia que queria me separar. Disse tanto isso que um dia ele acreditou e foi embora, para sempre. Sinto falta dele, todos os dias, principalmente quando estou mais fr�gil. Durante 15 anos ele foi o meu melhor amigo, meu companheiro, meu amor."
Uma m�dica de 53 anos disse que s� consegue lembrar de coisas boas do seu casamento.
"Gosto muito de uma ideia de Nietzsche: Amor fati, amar o nosso destino, amar aquilo o que temos. S� percebi o quanto amava o meu marido, a nossa vida, depois que n�o teve mais volta. � muito estranho, mas s� consigo lembrar do seu carinho, aten��o, presen�a. Parece que tudo era lindo e que ele era perfeito, maravilhoso. Ser� uma fantasia constru�da com falsas lembran�as?"
As lembran�as podem ser manipuladas, e, por algum mecanismo inconsciente, tendemos a valorizar o que n�o temos, al�m de n�o reconhecer o valor do que temos.
Este mecanismo, que produz uma insatisfa��o permanente, faz com que a ideia de mudan�a tenha um efeito m�gico. Passamos a acreditar que o simples ato de mudar pode melhorar tudo.
Mas, o que acontece se, quando mudamos, sentimos saudade daquilo que um dia tivemos e n�o podemos ter de volta?
Livraria da Folha
- Cole��o "Cinema Policial" re�ne quatro filmes de grandes diretores
- Soci�logo discute transforma��es do s�culo 21 em "A Era do Imprevisto"
- Livro de escritora russa compila contos de fada assustadores; leia trecho
- Box de DVD re�ne dupla de cl�ssicos de Andrei Tark�vski
- Como atingir alta performance por meio da autorresponsabilidade