Uma criança que sempre viveu em um lugar isolado da civilização é convidada para conhecer o Brasil. Andando pelas ruas do país, ela entra em contato com a nossa profunda desigualdade. Rapidamente, observa que existe uma associação entre a cor da pele e o status social dos brasileiros. Por sua vez, isso começa a influenciar como ela percebe e atribui valor aos grupos raciais.
A estratificação social não está somente nas ruas do país, mas se faz presente em toda a estrutura da sociedade brasileira. Nas escolas, as histórias de mulheres e negros foram apagadas dos livros didáticos. A mídia captura e reproduz os estereótipos de raça, g��nero e classe presentes na sociedade. As interações sociais carregam cargas de preconceitos e valores implícitos. Existe um conjunto de crenças presentes nas instituições, muitas vezes de forma velada, que estabelecem uma hierarquia social e, consequentemente, moldam o comportamento.
Mesmo que um indivíduo tenha nascido em um lugar isolado e afastado de visões preconceituosas, a vida em sociedade rapidamente irá mudar suas percepções e atitudes.
Houve um considerável avanço na conscientização da população, e as manifestações explicitas de atitudes preconceituosas foram reduzidas. Porém, como lidar com os vieses inconscientes? Como diminuí-los em um país em que existe uma expressiva estrutura afetando negativamente a imagem dos pobres, mulheres e negros? Alterar essa dinâmica social não é uma tarefa trivial.
Para transformar essa realidade, é necessário implementar um amplo e profundo conjunto de reformas sociais. De forma geral, iniciativas bem orientadas que procuram promover a inclusão a curto e longo prazo representam poderosos instrumentos para reduzir os vieses e gerar prosperidade socioeconômica.
A inclusão possui o potencial de gerar efeitos sistêmicos. Mulheres e negros ocupando determinados espaços representam modelos sociais para as atuais e futuras gerações.
Ampliar as oportunidades de acesso gera uma mudança nas expectativas. Isso impacta a motivação da juventude e repercute no desenvolvimento pessoal. Assim, essa conjectura tem desdobramentos sobre as aspirações e esforço individual e, consequentemente, sobre o progresso de um país.
Além disso, existe uma ampla literatura apresentando evidências de que a diversidade tem uma associação positiva com a inovação e a produtividade da economia.
Para além da inclusão, a formação também tem um papel fundamental. A mídia tem significativo potencial de afetar a reprodução de estereótipos sociais. Representar negros e mulheres em posições de poder possui expressivo potencial de influenciar positivamente como a população percebe esses grupos e, assim, diluir crenças atrasadas.
As escolas também têm relativo destaque na valorização da imagem das minorias. A história de um país não é somente a do homem branco. Resgatar o papel de todos os grupos no processo de formação do Brasil pode aumentar o sentimento de pertencimento e a autoestima da população.
Por fim, deve-se pontuar que a prosperidade de uma nação está relacionada com a possibilidade de os indivíduos exercerem plenamente suas potencialidades. Países que não conseguem estabelecer uma estrutura institucional mais inclusiva estão fadados a ficar para trás.
O título é uma homenagem à música "Despreconceituosamente", de Mateus Aleluia.
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