� cientista politico e doutor pela Universidade de Oxford. Escreve �s segundas, a cada duas semanas, sobre pol�tica europeia e africana.
Na quest�o LGBT, sele��o come�a Copa da R�ssia perdendo de 7 a 1
N�o se trata, obviamente, de uma inocente coincid�ncia o fato de Vladimir Putin anunciar a sua recandidatura � presid�ncia da R�ssia dias depois do sorteio dos grupos da Copa do Mundo.
A competi��o tem como fun��o celebrar o retorno da R�ssia a uma posi��o central na geopol�tica. Sem d�vida, essa � a sua maior conquista desde que assumiu o controle do pa�s em 2000.
Entre a ocupa��o efetiva da Crimeia, a vit�ria militar na S�ria, e a alegada interfer�ncia nos processos eleitorais ocidentais, Putin restituiu a respeitabilidade a um pa�s que tinha virado piada durante o governo do seu predecessor, o ex-presidente Boris Ieltsin.
Sergei Karpukhin - 8.mar.2011/Reuters | ||
Ramzan Kadyrov disputa jogada com Dunga em jogo festivo na Tchetch�nia em 2011 |
O futebol teve um papel essencial nesse processo. Para consolidar o seu poder, Putin apoiou a ascens�o de empres�rios que se apropriaram dos principais recursos naturais e da ind�stria militar depois do colapso da Uni�o Sovi�tica.
Os clubes de futebol fizeram parte de uma teia de investimentos desses novos oligarcas nos centros de lavagem de dinheiro da Europa.
Enquanto Roman Abramovich elevava o Chelsea de clube m�dio ingl�s a pot�ncia continental em apenas uma d�cada, os russos se tornavam fregueses do mercado imobili�rio de luxo londrino.
Pouco depois do seu compatriota Dimitry Rybolovlev colocar o pacato M�naco na semi-final da Liga dos Campe�es na temporada passada, o ministro da Justi�a do principado foi obrigado a se demitir, em face das acusa��es de fazer vista grossa aos neg�cios esp�rios da comunidade russa.
Por�m, a mais grotesca tentativa de instrumentaliza��o do futebol pelos aliados do governo Putin contou com a cumplicidade de brasileiros ilustres.
A Tchetch�nia, uma turbulenta regi�o do sudeste da R�ssia, atravessou nos �ltimos 25 anos duas guerras, uma rebeli�o separatista, al�m de uma onda de ataques terroristas. Dezenas de milhares de pessoas foram assassinadas.
Para conter a instabilidade, o governo Putin recorreu � for�a bruta de Ramzan Kadyrov, o vice-rei local, que monopolizou o poder por meio de campanhas de repress�o coletiva a grupos minorit�rios.
Nesse clima de medo e humilha��o, a comunidade LGBT � particularmente visada na regi�o. Segundo relatos de ativistas, mais de cem indiv�duos foram presos e torturados em pris�es secretas apenas em abril deste ano.
Desnecess�rio dizer que o governo da Tchetch�nia tem uma reputa��o internacional abomin�vel. Para a sua satisfa��o, estrelas do futebol brasileiro colocaram o seu talento promocional � disposi��o.
Em 2011, um time capitaneado por Kadyrov enfrentou uma "sele��o brasileira" liderada pelos ex-jogadores Bebeto, Cafu, Dunga e Rom�rio, numa farsa de jogo que terminou em emocionantes 6 a 4 para os visitantes.
Nesse mesmo ano, Roberto Carlos trocou o Corinthians pelo clube local, propriedade de um comparsa de Kadyrov, e, em junho �ltimo, quando a repress�o da comunidade LGBT atingia o seu auge, Ronaldinho Ga�cho prestigiou a celebra��o do anivers�rio de Putin organizada em Grozny, a capital regional.
Porque seus craques se deixaram manipular por um algoz, a sele��o brasileira chegar� na R�ssia perdendo de 7x1 na quest�o dos direitos LGBT.
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