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� cientista politico e doutor pela Universidade de Oxford. Escreve �s segundas, a cada duas semanas, sobre pol�tica europeia e africana.
A curiosa paix�o
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O prefeito de S�o Paulo, Jo�o Doria, cumprimenta o presidente da Fran�a, Emmanuel Macron, em evento em Paris |
Talvez venha a ser lembrada como uma das primeiras jogadas de mestre das elei��es de 2018: o prefeito Jo�o Doria encontrou o presidente Emmanuel Macron, paradigma para aspirantes a portadores da renova��o pol�tica do mundo inteiro.
O encontro teve valor meramente simb�lico. No Pal�cio do Eliseu, Doria era apenas mais um convidado de uma recep��o. Conhecido por se afastar dos que tentam se beneficiar da sua aura, Macron evitou qualquer tentativa de instrumentaliza��o durante a breve confraterniza��o, que as redes sociais do prefeito qualificaram de "reuni�o". O Pal�cio do Eliseu utilizou outros termos para descrever o acontecimento. "Ele foi saudado pelo presidente", segundo Barbara Frugier, do servi�o de comunica��o do Eliseu.
O advento de Emmanuel Macron � um terremoto dificilmente repet�vel, provocado por um contexto especifico —o naufr�gio da presid�ncia de Fran�ois Hollande— e por conting�ncias in�ditas —o colapso da candidatura do seu rival de centro-direita, Fran�ois Fillon. Complementando o xadrez de circunst�ncias favor�veis, a chegada da candidata de extrema-direita Marine Le Pen ao segundo turno consolidou a vit�ria de Macron.
Agora, Macron tem de governar para um eleitorado que, em boa parte, o elegeu como um mal menor. A maioria absoluta de deputados no parlamento do partido de Macron agrava a situa��o. O presidente tem de travar a batalha pelas reformas diretamente com a oposi��o que se manifesta nas ruas. Durante os seus primeiros cem dias de mandato, a sua popularidade mergulhou de 62% para 37%.
Curiosa, portanto, a insist�ncia de Doria em tentar se colar num presidente impopular e, sobretudo, defensor de um programa diametralmente oposto ao seu. Entre as suas principais iniciativas, consta a estatiza��o tempor�ria de um estaleiro, um plano de investimento p�blico de 50 bilh�es de euros, al�m de uma lei que institui multas a empresas que n�o pratiquem a igualdade salarial entre os g�neros. Em termos de vis�o de Estado, Doria est� para Macron como Margaret Thatcher estava para Tony Blair.
A comunica��o � outro elemento no qual Doria diverge de Macron. O presidente franc�s adotou uma atitude que ele pr�prio define como "Jupiteriana": uma presen�a p�blica rara e ritualizada. Doria est� mais pr�ximo de Nicolas Sarkozy, idealizador da "hiperpresid�ncia", que consistia em ocupar freneticamente todo o espa�o midi�tico. Da sua parte, Macron resumiu a estrat�gia de Sarkozy a "dar golpes de queixo solit�rios".
Mas existe, com efeito, um ponto onde as trajet�rias de Doria e Macron podem se tornar similares. Para se lan�ar como candidato em 2018, Doria ter� de fazer com Geraldo Alckmin o que Macron fez com Fran�ois Hollande: atrai�oar o seu padrinho pol�tico �s v�speras da disputa presidencial.
Enquanto organizava a sua pr�pria campanha, Macron participava nas reuni�es do pr�-candidato Hollande. Essa conspira��o, calculista e objetiva, suscitou admira��o da pr�pria v�tima. "Fui tra�do com m�todo", sentenciou o ex-presidente franc�s. Para chegar � presid�ncia, Doria ter� de se inspirar no melhor e no pior de Macron. Mas, para dar certo, ter� de ser com m�todo.
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