![mario sergio conti](https://cdn.statically.io/img/f.i.uol.com.br/fotografia/2015/05/21/513512-115x150-1.jpeg)
Autor de 'Not�cias do Planalto', obra que dissecou as rela��es entre a Presid�ncia de Fernando Collor e a imprensa, come�ou sua trajet�ria como jornalista na Folha em 1977. Escreve quinzenalmente aos s�bados.
Como D. Pedro 2�, Dilma pecou por apre�o aos detalhes e isolamento
Ueslei Marcelino/Reuters | ||
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A presidente afastada Dilma Rousseff durante sua defesa no Senado |
O discurso da presidente foi o melhor desde que foi eleita. Ela foi cortante no geral (o golpe � contra o programa escolhido pelo povo) e no particular (est� sendo condenada sem ser criminosa). Pena que a fala tenha vindo tarde.
A gravidade de suas palavras intimidou as cafajestadas de uns e outros. Mas o grosso do Senado j� estava com o dedo no gatilho. Ele � o pelot�o de fuzilamento da casta que quer exercer o poder sem ter tido votos. Dilma estar� � sua frente. Ser� um alvo bem particular.
Ainda que com a oposi��o bronca de Eduardo Cunha, e com a conspira��o de sua corja, daria talvez para ela levar o mandato at� o fim. Seria preciso que se empenhasse em cumprir o que dissera ao pedir votos. Menos de um m�s depois, por�m, entregou a economia a um advers�rio. Adaptou-se ao diktat de seus inimigos. N�o deu explica��es a quem a elegeu.
Dilma � v�tima de uma trucul�ncia, mas tem uma pesada responsabilidade. � pol�tica se somam seus tra�os pessoais. A prepot�ncia rabugenta, as pedradas verbais em aliados, o teimoso isolamento, o pouco caso com a coer�ncia –o seu perfil contribuiu para que esteja hoje com os olhos vendados e os verdugos lhe mirem a testa.
Ao analisar a personalidade e a pol�tica de Pedro 2�, S�rgio Buarque de Holanda tra�a o retrato de um governante com algo de ab�lico e muito de detalhista. Aqui e ali, parece que o historiador fala n�o do imperador, mas da presidente.
"Julga-se desobrigado de apresentar abertamente as raz�es, m�s ou boas, que em determinado momento ter�o orientado os seus atos", escreve S�rgio Buarque em "Cap�tulos da Hist�ria do Imp�rio". Refere-se tamb�m � sua relut�ncia em dialogar aberta e francamente, preferindo guardar dist�ncia em rela��o �queles "que lhe devem, como rei, alguma sombra de sujei��o". Foi o que Dilma fez com o PT.
A dire��o do partido lhe pediu que escrevesse uma carta, explicando-se. Pois a presidente demorou tr�s meses para escrever um texto minucioso e vago, sensabor�o e in�cuo. Nele, defendeu um plebiscito que o PT j� havia considerado invi�vel. No Senado, Dilma n�o s� n�o defendeu o partido como aposentou a ideia de plebiscito.
Nas respostas aos senadores, Dilma entregou-se ao que o historiador caracterizou, ao falar do imperador, de "o zelo extremamente prolixo que costumava devotar aos neg�cios do Estado", al�m de ser "maldotado no tocante ao poder de express�o oral ou escrita".
Aplicada e perseverante, v�rias vezes Dilma se perdeu em decretos, al�neas e contingenciamentos, sem se ocupar do decisivo. Foi essa a marca do seu governo. N�o se pode negar, escreve S�rgio Buarque, que o soberano tivesse "escr�pulos estim�veis". Mas: "O discut�vel � se essa preocupa��o com tantos pormenores, acerca dos problemas mais v�rios e mais �rduos da administra��o, representasse ao cabo em benef�cio real para a boa marcha dos neg�cios p�blicos".
Como D. Pedro 2�, a presidente acabou malbaratando o poder que teve, usando-o no sentido de "moderar, imobilizar e at� quebrantar as reformas mais importantes para a moderniza��o do pa�s".
S�rgio Buarque foi fundador do PT. Seu filho, num gesto de dignidade e coragem, esteve ao lado de Dilma nesta segunda (29). Por isso mesmo, cabe recordar o fecho do perfil de Pedro 2� feito pelo historiador: "A meticulosa cautela deixa de ser virtude no momento em que passa a ser estorvo: lastro demais para pouca vela".
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