Pioneira na internet no Brasil, liderou a equipe que criou a FolhaWeb em julho de 1995 e foi diretora de conte�do do UOL de 1996 a 2011.
Liberdade para mentir
Os jornalistas Carlos Alberto Sardenberg e Miriam Leit�o, das Organiza��es Globo, sentiram na pele as consequ�ncias da liberdade com que se escreve e reescreve a principal enciclop�dia do s�culo 21. Seus verbetes na Wikip�dia ganharam informa��es falsas e ofensivas. E o mais espantoso: as modifica��es foram feitas a partir da rede de internet do Pal�cio do Planalto.
O governo federal lamentou o epis�dio, negou que tenha sido o autor das modifica��es, afirmou que agora � tecnicamente imposs�vel identificar os respons�veis e alegou que sua rede � tamb�m usada por visitantes do Planalto. A fraude teria ocorrido em maio do ano passado, mas s� veio � tona neste m�s.
O epis�dio joga luz sobre os bastidores da maior enciclop�dia do s�culo 21, quinto site mais visitado do mundo, que atende mais de 430 milh�es de pessoas por m�s com seus 32 milh�es de verbetes em 287 idiomas. Qualquer um pode escrever ou reescrever verbetes da Wikip�dia.
Um dos pilares da Wikip�dia � permitir o anonimato de seus autores. Por que isso? A funda��o alega que o anonimato favorece a enciclop�dia, pois autores que talvez n�o queiram ver sua imagem p�blica associada a determinados verbetes tamb�m poderiam colaborar. Ser� que os benef�cios de permitir o anonimato justificam os malef�cios?
O anonimato como valor � uma heran�a da internet do s�culo 20, quando n�o havia Facebook e o uso de apelidos ou avatares era bem mais dominante do que hoje. O fundador mais conhecido da enciclop�dia � o americano Jimmy Wales, que no s�culo 20 era dono de um site pornogr�fico e antes de criar a Wikip�dia tentou fazer uma enciclop�dia escrita por especialistas. Mudou de ideia quando percebeu que o site poderia crescer muito mais r�pido se aceitasse contribui��o de qualquer um.
Para escrever para a Wikip�dia � preciso ter tempo livre, por isso ela � escrita predominantemente por dois grupos: pessoas muito jovens e pessoas aposentadas. A grande maioria dos colaboradores s�o homens, o que tamb�m gera um desequil�brio que a enciclop�dia tenta combater.
Existe uma divis�o de fun��es entre os colaboradores. H� os editores (autores), os eliminadores (que apagam conte�dos que consideram inadequados), os administradores, os burocratas, os verificadores e o conselho de arbitragem, para resolver disputas. As fun��es de eliminador e administrador, que s�o as mais poderosas, s�o exercidas por pessoas eleitas pelos pr�prios colaboradores da enciclop�dia.
Mas h� diferen�as culturais importantes entre a Wikip�dia original, em ingl�s, e a Wikip�dia em portugu�s. Al�m de a vers�o em ingl�s ser muito maior, com muito mais verbetes e colaboradores, a busca do consenso � mais presente em sua produ��o, enquanto que em portugu�s prevalece a vota��o simples.
A confiabilidade das informa��es continua a ser o maior problema da Wikip�dia, embora em pa�ses como a Gr�-Bretanha mais pessoas confiem na enciclop�dia on-line (64%) do que nos jornalistas da BBC (61%) e de outros ve�culos.
Seu m�todo de produ��o favorece erros, tanto bem quanto mal intencionados, como mostra o exemplo dos verbetes sobre os jornalistas da Globo. Embora seus acertos sejam in�meros, seus erros s�o cometidos em escala muito mais ampla do que nas enciclop�dias tradicionais, como a Britannica, que � escrita por profissionais remunerados, entre eles experts, acad�micos e at� laureados com o pr�mio Nobel.
A f� na "sabedoria das multid�es" � outro valor supremo da Wikip�dia. Mas a "sabedoria das multid�es" pode resultar no desprezo pela voz do indiv�duo, inclusive do especialista. E o anonimato pode liberar o lado mais obscuro da natureza humana, como lembra o intelectual Jaron Lanier, que cunhou a express�o "mao�smo digital".
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