Pioneira na internet no Brasil, liderou a equipe que criou a FolhaWeb em julho de 1995 e foi diretora de conte�do do UOL de 1996 a 2011.
Mentes vadias
A internet � o para�so das mentes vadias. Parecemos s�rios com as m�os nos teclados � frente de um computador. Se n�o tiver ningu�m de olho na nossa tela, bem, a� podemos entrar no Facebook, jogar, ver fotos de sacanagem, ler e responder mensagens totalmente pessoais, fazer compras, qualquer coisa. Ou o administrador da rede do lugar onde se estuda ou trabalha bloqueia isso tudo, ou parece inevit�vel que vamos nos dispersar.
Quando o telefone foi introduzido nos ambientes de trabalho aconteceu algo semelhante. Quanto maior a disponibilidade de linhas e aparelhos, maior a dificuldade de impedir funcion�rios de fazer ou receber telefonemas pessoais na hora do servi�o. S� que era mais f�cil de detectar.
Lembrei de uma tirinha do personagem Dilbert. O sujeito estava procrastinando na frente do computador, como sempre, mas tinha acabado de desenvolver um sistema esperto. Ao sentir que o chefe se aproximava da sua baia, Dilbert apertava uma esp�cie de bot�o p�nico e sua tela, qualquer que fosse, era substitu�da instantaneamente por uma planilha Excel.
Esque�a o chefe. Qualquer dificuldade na atividade do momento j� � motivo para troc�-la por alguma outra que possa dar satisfa��o mais rapidamente. Troque "dificuldade" por "desafio" e "satisfa��o" por "retorno", na frase anterior, e temos ent�o uma linguagem mais corporativa. O fen�meno � o mesmo. Est� bem, admito que agora estou complicando, em vez de explicar meu racioc�nio. Tamb�m, com um �dolo como o g�nio da comunica��o Chacrinha ("estou aqui para confundir, n�o estou aqui para explicar"), o que podiam esperar de mim?
A� vem o intelectual italiano Domenico de Masi falar de �cio criativo e dizer que, gra�as aos "�ndios" (como se "�ndios" fossem um monolito), o ideal da efici�ncia n�o conquistou os brasileiros. Disse mais: disse que os �ndios "n�o trabalhavam" (de onde ele tirou essa ideia?) e que "n�o precisavam" j� que "tudo estava na natureza". Certo, as ma��s ou os a�a�s, no caso, deviam cair no colo dos "�ndios", bem como os porcos selvagens devidamente ca�ados e assados, para n�o falar das armas, da cestaria, da cer�mica e das malocas, que j� deviam brotar sozinhas da terra, que nem precisava ser plantada para tudo dar.
A entrevista saiu na Folha semana passada. Para n�o errar na cita��o, busquei no Google as palavras "Folha", "De Masi" e "�ndios". Sabe onde ca�? No site do Minist�rio da Fazenda, onde a reportagem da Folha foi transcrita no mesmo dia da publica��o.
Pois �. Deve ser o tal �cio criativo no Minist�rio da Fazenda: enquanto uns trabalham e pagam impostos, outros arrecadam e se divertem com as ideias do De Masi.
Ser� que De Masi j� ouviu falar que entre as coisas que os europeus aprenderam com "�ndios" brasileiros estava o costume do banho di�rio?
Ponho "�ndios" entre aspas porque tal conceito tamb�m � uma mera inven��o europeia. Pregui�a de quem n�o quer se dar ao trabalho de saber que no Brasil, mesmo depois de cinco s�culos de domina��o e explora��o, existem ainda mais de 300 etnias que falam mais de 270 l�nguas, segundo censo do governo. Ainda assim, � mais f�cil ter acesso ao pensamento de italianos do que de nativos.
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