Pioneira na internet no Brasil, liderou a equipe que criou a FolhaWeb em julho de 1995 e foi diretora de conte�do do UOL de 1996 a 2011.
Lulu
Outro dia alguns amigos da minha filha, de 15 anos, sa�ram de casa pedindo por favor que as meninas da turma deixassem boas avalia��es sobre eles no aplicativo Lulu, a mais nova febre de quem usa celular e tem tempo sobrando para essas coisas. Elas prometeram que sim, mas n�o sei se fizeram.
No Lulu, as avalia��es s�o supostamente an�nimas. Ningu�m assina cr�tica nem elogio. Se n�o confiarem na palavra delas, nenhum rapaz vai jamais saber quem o avaliou. A n�o ser que trabalhe no Lulu ou seja um hacker poderoso.
O Lulu permite que mulheres que usam o Facebook classifiquem seus contatos naquela rede social com base em palavras-chave (acompanhadas de hashtags) que o software oferece previamente.
Entre elas est�o: #n�oquernadacomnada, #apaixonadopelaex, #perfeitoparaminhairm�, #bebesemcair, #feioarrumadinho, #lindotes�obonitoegostos�o, #curteoromerobritto, #prefereovideogame, #semmedodeserfofo, #tocavuvuzela, #piormassagemdomundo, #maisbaratoquep�onachapa, #semlimites, #lavaroupa, #deletahistorico e #n�oliganodiaseguinte".
Convenhamos que o software tem certo humor e permite boas risadas. Para elas. Quando os alvos dos coment�rios n�o s�o sujeitos t�o importantes. Para elas. No momento.
Alpino | ||
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Consta que vingan�a � um dos motores dos coment�rios. Outro motor poderia ser o despiste. Fale mal de algu�m para que fique subfaturado na pra�a, a ponto de ningu�m querer adquiri-lo.
N�o estou exagerando. Um dos argumentos dos defensores do Lulu � o seguinte: se qualquer produto pode ter avalia��es publicadas na internet, por que n�o os homens? Sim, eu disse produto. N�o, eu n�o concordo. Ali�s, detesto.
O Lulu n�o pertence ao Facebook, mas usa sua base de dados. J� temos rapazes surpreendidos ao saber que estavam sendo avaliados publicamente e nem poderiam verificar que avalia��o estavam recebendo, a n�o ser que uma alma caridosa (ou odiosa) enviasse foto da tela do celular com sua nota e os adjetivos recebidos pelo gajo.
O Lulu usa um truque antiqu�ssimo da internet, o tal do opt-out. Consiste no seguinte: todo mundo faz o que quiser com seu endere�o de e-mail, seu perfil do Facebook, seu cadastro de loja etc. At� voc� reclamar, espernear, denunciar, processar ou qualquer coisa do g�nero.
O oposto de opt-out � o opt-in, um sistema mais civilizado, daqueles que os marqueteiros desdenham, porque � menos agressivo e portanto menos eficaz. O opt-in � a l�gica que faz com que uma empresa s� mande informa��es, promo��es, boletins se voc� pedir.
Essas varia��es de valores e perspectivas s�o t�picas da internet, que glorifica a ruptura, a ru�na de modelos de neg�cio (em ingl�s "disruption"). O Facebook cresceu e apareceu justamente porque h� ali muita informa��o real, de pessoas reais. S� que, com o Lulu, transformou-se em ponte para o anonimato.
Rapazes, n�o se preocupem. Embora os n�meros que o Lulu divulgue sejam grandes, muitas garotas n�o baixaram, n�o pretendem baixar e, se baixaram, foi s� para espiar e ver como funciona, como eu.
Como surgiu, h� de morrer. Nenhuma empresa dura para sempre. Muito menos na internet.
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