Pioneira na internet no Brasil, liderou a equipe que criou a FolhaWeb em julho de 1995 e foi diretora de conte�do do UOL de 1996 a 2011.
Psiquiatra
Hoje fui a uma psiquiatra. Levei debaixo do bra�o a Folha de 7 de janeiro com meu artigo intitulado "V�cio". Pedi que ela lesse. Ent�o perguntei se � realmente poss�vel se viciar em computador, smartphones, games, internet, essas coisas. Ela disse que sim.
Eu n�o sabia se sentia al�vio ou pavor. Se � poss�vel se viciar em internet, com certeza eu me viciei, pensei. Desde 1995 usando internet o dia inteiro, como n�o me viciar?
Se � uma doen�a, deve haver tratamento e cura, conjecturei. Mas, se n�o fosse doen�a, o que seria essa mania de fazer a ronda noite e dia entre SMSs, e-mails, Facebook, Twitter, Instagram, websites?
Nem todos os h�bitos s�o manias, ponderei comigo mesma. Nem todas as manias s�o doen�as, pensei.
Mas o uso intensivo de internet n�o � necessariamente um v�cio ou uma depend�ncia, a m�dica ent�o me explicou. Para se tornar depend�ncia, a pessoa precisa ter um fator que desencadeie o processo. Ela acha que eu n�o tenho esse fator.
Se uma pessoa tem uma compuls�o, ela pode ter compuls�o por internet tamb�m.
A m�dica explicou que � f�cil substituir uma compuls�o por outra. Ou uma depend�ncia por outra.
N�o, eu n�o tenho compuls�es, fora a internet. Minto. Tenho sim. Tenho compuls�o em fotografar. Por isso �s vezes passo meses longe de uma c�mera. Quando eu come�o � dif�cil parar. � como jogar Sudoku. Outra compuls�o controlada! Tamb�m fui viciada em tabaco, mas parei sozinha. Tr�s vezes
A� a m�dica me falou de uma pesquisa que fizeram com macacos e ingest�o de �lcool. Notaram que parte dos macacos se tornava alco�latra e j� come�ava a beber logo cedo. Outra parte preferia bebidas adocicadas e costumava beber mais tarde, como numa "happy hour".
Ent�o h� indiv�duos mais sujeitos a compuls�o do que outros. Ambos podem estar expostos aos mesmos fatores. Mas a rea��o de uns vai ser diferente da rea��o de outros.
Outro fator que pode levar ao v�cio da internet � a depress�o, me explicou a m�dica.
Uma pessoa deprimida pode gastar mais tempo em redes sociais do que uma pessoa n�o deprimida. Eu uso cada vez menos redes sociais. � um treino que estou fazendo.
Pensei que n�o devemos confundir tristeza com depress�o, embora eu mesma n�o saiba distinguir muito bem. E quem falou que todos precisamos ser felizes? Em que lei est� isso? O problema � que hoje parece que todo mundo ficou deprimido. Antidepressivos est�o entre os rem�dios mais vendidos do planeta.
Tenho uma amiga que � totalmente contra rem�dios. S� toma amarrada. Eu n�o sou contra rem�dios. Mas que me d� um certo medo de fazer parte de uma sociedade de dopados, isso d�.
Ent�o a psiquiatra me contou de quando ela entrou no Facebook, depois de longa relut�ncia.
Fez duas centenas de amigos e logo se viu compelida a dar parab�ns a cada vez que lia uma notifica��o de anivers�rio.
Isso come�ou a consumir um tempo danado. At� que sua filha, que tem 16 anos, avisou: "M�e, n�o precisa dar parab�ns pra todo mundo!". Ufa, que al�vio!
A psiquiatra acha que eu n�o sou viciada em internet.
Mas eu sei que sou.
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