Pioneira na internet no Brasil, liderou a equipe que criou a FolhaWeb em julho de 1995 e foi diretora de conte�do do UOL de 1996 a 2011.
V�cio
No meio dos feriados, em Florian�polis, depois de fazer uma liga��o, por puro v�cio acabo abrindo a caixa de entrada de e-mails no celular. Vejo dezenas de e-mails enviados desde a v�spera. Muitos s�o boletins jornal�sticos de sites com nomes do tipo TechPulse 360. Coisas de nerd. Sem pensar muito, come�o a selecionar aqueles que vou apagar sem ler. E, como sempre, vou deixar na caixa postal outros e-mails, para ler talvez um dia, talvez nunca.
Meu e-mail entrou em colapso. �s vezes perco mensagem importante soterrada numa pilha imensa de bobagens. O que seria solu��o virou tamb�m um problema que me consome muito tempo.
Poderia dizer o mesmo do Facebook, que s� n�o abandono de vez porque virou uma imensa agenda de contatos. Hoje a �nica rede social que me d� prazer � o Instagram, que n�o requer palavras nem reciprocidade, assiduidade nem respostas. Eu me sinto livre no Instagram. Mas vejo em volta, com meus amigos, como pode ser uma compuls�o.
Lembro subitamente que preciso escrever esta coluna. Penso no ano que passou, da temporada na Calif�rnia, embutida na ind�stria do Vale do Sil�cio. Penso nos dias angustiantes que precederam o momento em que me dei conta de que estava totalmente viciada em internet. A produtividade em queda, a ansiedade em alta, a mania de pular de aparelho em aparelho, de aplicativo em aplicativo, de rede social em rede social, sem necessidade nenhuma, sem objetivo definido, vagando pelo mundo on-line como zumbi.
Tento ser honesta comigo mesma e me pergunto: superei o v�cio? Controlei a compuls�o? A resposta � n�o.
Tomei algumas atitudes sensatas, como me privar de eletr�nicos por algumas horas por dia e evitar levar a internet para o quarto de dormir. A internet se infiltrava no quarto disfar�ada em despertador do celular ou em livro eletr�nico no iPad. Barrei. Quer dizer, procuro barrar. Mas nem sempre barro. Quando estou sozinha � mais dif�cil.
N�o tinha nenhuma compuls�o antes da internet. N�o estou substituindo um v�cio por outro. Juro.
Olho minha filha de 14 anos, e ela est� muito mais viciada que eu no seu iPhone. Usa Facebook, Twitter, WhatsApp, Instagram, essas coisas. Os amigos s�o tudo para ela. Para mim tamb�m. Tento alert�-la de que est� passando horas demais com o aparelho. Sugiro um livro. �s vezes ela aceita, outras n�o. Tenho certeza de que ela, como eu, perde um tempo imenso em papo furado nas pra�as virtuais do planeta.
OK, papo furado faz parte da vida. Por que n�o faria na internet? Minha preocupa��o n�o � o papo furado. Minha preocupa��o � a ang�stia, a ansiedade que a internet � capaz de produzir. Eu conhe�o esse estado bem demais. � como andar de bar em bar, procurando algo que n�o se vai encontrar. � intoxicante. Faz mal � sa�de.
Escrevo o que escrevi e de novo me pergunto se estou sendo honesta. � a internet que produz essa ansiedade em mim ou sou eu que estou terceirizando minha ansiedade? Lembro-me da frase de Homer Simpson: "A culpa � minha, e eu coloco ela em quem eu quiser". Boa, n�o?
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