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marion strecker

 

15/10/2012 - 12h03

Sorria

As c�meras de seguran�a s�o a vers�o contempor�nea de uma ideia de controle social elaborada no fim do s�culo 18

A substitui��o do homem pela m�quina segue em ritmo acelerado. S�o m�quinas que atendem o telefone de muitas empresas. Isto � melhor para o cliente? Nem sempre. � mais barato para a empresa? Provavelmente sim. O que � certo � que elimina empregos de atendentes ao mesmo tempo em que gera empregos t�cnicos. Produz as adoradas estat�sticas, que regem o mundo corporativo, sejam sensatas ou n�o.

Hoje ouvimos uma frase onipresente: "Para sua seguran�a esta liga��o poder� ser gravada".
� uma vers�o r�stica de outra mensagem frequente nos EUA: "Para controle de qualidade do nosso atendimento esta liga��o poder� ser monitorada".

Por que gravam nossas liga��es? De que seguran�a est�o falando? Est�o querendo nos proteger ou proteger a eles mesmos? Se � para nos proteger, por que n�o facilitam o nosso acesso a tais grava��es?

O paralelo mais �bvio �s grava��es de voz s�o as c�meras de seguran�a. No mundo da espionagem institucionalizada, a comunica��o evoluiu para algo mais simp�tico e menos amea�ador. "Sorria. Voc� est� sendo filmado."

As c�meras s�o instaladas para flagrar furtos, roubos e outros crimes. Mas, ao ler essa frase, o cidad�o pode se sentir um ator de cinema e realmente sorrir, esquecendo um instante que o motivo da filmagem � desconfian�a e repress�o.

Nas �ltimas semanas, um col�gio tradicional paulistano instalou c�meras dentro de salas de aula. N�o, n�o eram ber��rios dos quais pais aflitos, desconfiados ou culpados vigiam beb�s e profissionais � dist�ncia. Era uma escola de elite que num s� dia suspendeu 107 alunos do ensino m�dio que resolveram protestar quando descobriram as c�meras.

Questionada, a dire��o da escola alegou raz�es de seguran�a e disciplina. O fato de j� haver c�meras em laborat�rios de inform�tica, qu�mica e biologia fez com que a escola n�o se preocupasse em discutir o tema com pais e alunos antes de instalar os olhos de vidro em todas as salas.

Parte dos pais aprovou a medida, mas alguns especialistas levantaram a voz para questionar que educa��o se desenvolve com base em desconfian�a m�tua. Outros questionaram o direito de uma escola filmar menores sem aval dos pais.

A ideia � do final do s�culo 18 e foi concebida pelo fil�sofo e jurista ingl�s Jeremy Bentham. Ganhou o nome de poder pan�ptico: a consci�ncia da permanente visibilidade asseguraria o funcionamento de um poder autorit�rio, como uma pris�o, um manic�mio, uma empresa ou uma escola. A �nica novidade � a banaliza��o do instrumento.

Panopticon � o nome de uma estrutura arquitet�nica concebida para permitir a observa��o de tudo o que se passa num edif�cio sem que as pessoas a serem observadas saibam se est�o sendo vigiadas. A simples possibilidade de estarem sendo vigiadas regularia o comportamento.

O desenho consiste numa estrutura circular com uma torre de inspe��o no centro, de onde o inspetor oculto poderia avistar todos os que estiverem no per�metro do edif�cio.

Ele descreveu o projeto como um novo modo de obter poder da mente sobre a mente, numa quantidade at� ent�o sem paralelo.

marion strecker

Marion Strecker � jornalista e cofundadora do UOL. Come�ou sua carreira como professora de m�sica e coeditora da revista Arte em S�o Paulo. � formada em comunica��o social pela PUC-SP. Trabalhou na Reda��o da Folha entre 1984 e 1996, onde foi redatora, cr�tica de arte, editora da 'Ilustrada', editora de suplementos, coordenadora de planejamento, coordenadora de reportagens especiais, rep�rter especial, diretora do Banco de Dados, diretora da Ag�ncia Folha e coautora do Manual da Reda��o. � colunista da Folha desde 2010. Pioneira na internet no Brasil, liderou a equipe que criou a FolhaWeb em julho de 1995 e foi diretora de conte�do do UOL de 1996 a 2011. Viveu em San Francisco, Calif�rnia, de julho de 2011 a julho de 2012, atuando como correspondente do portal. Mudou-se para Nova York, onde come�ou a escrever um livro sobre internet, previsto para sair pela Editora Record. Atualmente vive em S�o Paulo.

 

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