Horas antes da final do Mundial de Clubes, fiz uma pesquisa nos sites dos principais jornais ingleses. Encontrei uma ou outra reportagem sobre a partida em destaque na sessão de esportes. Havia elogios ao Fluminense no The Guardian.
Vieram de Pep Guardiola, que afirmou que o time joga no "típico estilo brasileiro dos anos 70, 80, início dos 90", pelo qual o treinador tem grande respeito, e do autor do texto, que também lembrou que Marcelo já ganhou quatro vezes o Mundial de Clubes com o Real Madrid.
Já o The Independent trouxe na manchete a frase "Por que vale tanto a pena ver esta final", afirmando que seria um "duelo tático fascinante entre o maior especialista em futebol europeu moderno, Pep Guardiola, e o arquiteto de uma revolução tática em crescimento no Brasil, Fernando Diniz".
Mas, definitivamente, não havia uma empolgação absoluta nem da imprensa inglesa nem nas ruas, e foi completamente diferente da cobertura esportiva no Brasil. A expectativa para o clássico entre Liverpool e Arsenal pela Premier League neste fim de semana deu bem mais ibope por aqui.
Para uns parece arrogância, mas o Mundial de Clubes realmente não é prioridade das equipes inglesas, que encaixam mais uma competição fora do país em um calendário já apertado neste momento do ano. O Campeonato Inglês não para nas semanas de Natal e Ano-Novo.
O Manchester City, por exemplo, joga contra o Everton no dia 27 de dezembro. Guardiola mencionou em sua primeira entrevista coletiva na Arábia Saudita que se preocupava com a falta de descanso dos jogadores, mas afirmou que era uma honra estar ali. No geral, Premier League, Liga dos Campeões e Copa da Inglaterra acabam tendo mais importância.
No entanto, esta conquista vale, sim, muito para o City. Primeiro, porque seria até desrespeito dizer que uma equipe do nível da comandada por Guardiola desmerece algum troféu, ou não se importa com um torneio internacional. Um time altamente competitivo, talentoso e vitorioso sempre quer ganhar mais.
Segundo, porque é um título inédito, o único grande que o clube não tinha. Além disso, este Mundial pode ser uma oportunidade de levantar o moral da equipe que anda tropeçando na Premier League –em quarto lugar na tabela– e servir de motivação para o resto da temporada.
O City fez semifinal quase protocolar contra o Urawa Red Diamonds, do Japão, vencida por 3 a 0 –pobre Marius Hoibraten, norueguês que abriu o placar marcando um gol contra, depois de ter perdido o nascimento do filho para estar no torneio. Mas os jogadores sabiam que, apesar do favoritismo na decisão, enfrentar o Fluminense seria mais difícil.
Em termos de atmosfera, só foi triste ver alguns assentos vazios e quase nenhuma mulher na arquibancada, em um país sem tradição no futebol e acusado de "sportswashing", mas que vai sediar a Copa do Mundo de 2034.
Em campo, venceram a maior equipe do planeta na atualidade e seu poderio financeiro. Termino esta coluna assim que o árbitro dá o apito final, e posso imaginar o tom das manchetes deste sábado na Inglaterra. Vão dizer que o City fez história –primeiro time inglês a ganhar cinco grandes troféus no mesmo ano, incluindo Premier League, Liga dos Campeões, Copa da Inglaterra e Supercopa da Uefa. A ideia de que o Mundial de Clubes não importa pode ser bem relativa.
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