Mariliz Pereira Jorge

Jornalista e roteirista de TV.

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Pior do que machista de direita é o de esquerda

Jamais li 'Homens que envergonham os homens', ainda que o mundo esteja abarrotado de tipos que causam constrangimento e repulsa a outros

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A revista Carta Capital publicou uma “matéria” com o título “Mulheres que Envergonham Mulheres”. Com uma ou duas exceções, as retratadas são todas alinhadas à direita. Foi um “joga pedra na Geni” coletivo. Por mais que se discorde (e eu discordo de praticamente todas), a intenção de criticá-las, e da forma como foi feito, porque são mulheres, só tem um nome: machismo.

O título, o recorte, os textos, tudo tão abusivo, rasteiro, de mau gosto. Sobrou até para a ministra do Supremo, Cármen Lúcia, chamada de bruxa e feia. Sim, um dos problemas, ao que parece, é que o autor considera a ministra feia.

Mulheres protestam contra o machismo em São Paulo
Mulheres protestam contra o machismo em São Paulo - Joel Silva - 02.abr.2013/Folhapress

“A pessoa que tem bons pensamentos não consegue nunca ser feia”. A frase é do escritor Roald Dahl e foi usada na “crítica” à ministra que “por onde passa deixa um inconfundível rastro de enxofre”. As outras perfiladas são vítimas de um festival de grosserias que tem como alvo, além da aparência, o estado civil e a sexualidade.

Essa ode ao machismo em pleno 2019 foi escrita por um homem, num veículo que se posiciona à esquerda desde sempre. Esse espectro político que se acha detentor das pautas identitárias, mas que em casos como esse praticamente não dá um pio contra a sua turminha. Como já ouvi por aí: sabe o que é pior do que um machista de direita? Um de esquerda. É aquele tipo que na maior parte do tempo finge muito bem que não é machista —diferente do de direita que se orgulha do seu perfil troglodita. O mundo está cheio deles.

Fosse escrito por uma mulher já seria grave o bastante, mas não estou surpresa que tenha sido obra de um homem. Como sabemos, as mulheres precisam da tutela masculina, de um porta-voz para dizer o que pensamos, sentimos, queremos e, obviamente, o que nos envergonha.

E como também estamos cientes, todas nós temos que ser uma coisa só, uma entidade, que vive, pensa, comunga dos mesmos pensamentos. Aquela que ousa se posicionar fora da casinha considerada a das boas virtudes da esquerda-raiz está fadada a ser retratada de forma desrespeitosa e chula, tratada com o sarrafo mais pesado do machismo. É a misoginia “do bem”. Se for no lombo de mulher de direita, pelo jeito, está liberada.

E cá estou eu, novamente, logo eu tão alinhada com todas as pautas progressistas festejadas pela esquerda, ao lado de gente com quem não tenho afinidade, de mulheres de quem discordo integralmente. Algumas que, inclusive, se posicionam e fazem chacota do feminismo, um assunto para o qual levanto todas as bandeiras. Mas o jogo é esse, o feminismo é por todas as mulheres, inclusive aquelas com quem não simpatizo e que, no entanto, não deveriam ser criticadas dessa forma rasteira.

Jamais li algo como “Homens que envergonham os homens”, ainda que o mundo esteja abarrotado de tipos que causam constrangimento e repulsa a outros. Esse episódio é daqueles que deveria fazer os homens legais, parceiros, companheiros, conscientes da necessidade de se combater o machismo da sociedade, terem muita vergonha do seu não tão semelhante.

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