Economista, diplomata e cientista social, dirige o BRICLab da Universidade Columbia em NY, onde � professor-adjunto de rela��es internacionais e pol�ticas p�blicas. Escreve �s quartas.
2018, o primeiro ano do resto das nossas vidas
O calend�rio por vezes faz coincidir um ano "divisor de �guas" tanto no metro maior da geopol�tica global como no metro menor da trajet�ria espec�fica a um pa�s. 2018 � um ano desses para o mundo e o Brasil.
No �mbito mundial, o per�odo prestes a iniciar representa o ano em que o PIB global experimentar� sua maior expans�o desde a Grande Recess�o de 2008.
Desenvolvidos e emergentes, com exce��o de bizarros como Venezuela ou Coreia do Norte, todos crescer�o.
No cume do poder global, no entanto, 2018 marca um dado de realidade com que toda comunidade internacional haver� de lidar durante longo intervalo hist�rico. Teremos de lidar com uma China superpot�ncia para o resto das nossas vidas.
Em meio a tortuosas conjunturas, n�o damos conta de qu�o dram�tica � tal evolu��o. Quando entrei na faculdade nos anos 1980, a principal marca do cen�rio global ainda era a Guerra Fria. E, no campo sovi�tico, as for�as emergentes eram as da Glasnost e da Perestroika. A China n�o era um vetor que merecesse aten��o.
Graham Allison, grande estudioso de Harvard sobre China, em debate acerca de seu recente livro sobre a "Armadilha de Tuc�dides" (em que trata da suposta inevitabilidade de um confronto entre Washington e Pequim) afirma corretamente que "ainda n�o tivemos tempo de nos embasbacar com a ascens�o chinesa".
Com efeito, Allison pergunta � comunidade acad�mica qual sua estimativa de quando a China dever� ultrapassar os EUA como pa�s onde h� mais bilion�rios, em que h� maior produ��o de autom�veis, maior PIB manufatureiro, fluxo mais denso de importa��es e exporta��es, investimentos mais robustos em intelig�ncia artificial, e maior economia do mundo medida pela paridade do poder de compra. O pr�prio Allison responde: isso j� aconteceu.
Os efeitos dessa mudan�a no "Greenwich" geopol�tico se observam de v�rias maneiras. Uma das mais curiosas tem que ver como o calend�rio eleitoral no Brasil. Em outros anos de pleito presidencial, candidatos e seus potenciais ministros da �rea econ�mica faziam o p�riplo Wall Street-Washington para angariar simpatias e minar resist�ncias.
Isso n�o apenas em rela��o a bancos privados ou ao governo dos EUA, mas tamb�m a �rg�os multilaterais como FMI, BID e Banco Mundial.
Hoje, candidatos com um m�nimo de vis�o t�m tamb�m de circular pelo circuito Pequim-Xangai. Seja como fonte de investimentos em infraestrutura, empr�stimos governo-a-governo ou projetos de novas entidades plurilaterais lideradas por Pequim, o epicentro chin�s mostra-se mais promissor que o norte-americano.
Mas 2018 � tamb�m o ano em que o Brasil ter� de responder a uma pergunta central: se deseja emergir ou continuar seu longo percurso inercial desde os anos 1980.
N�o � mais necess�rio repisar qu�o clamorosamente fomos ultrapassados em performance por uns tantos no Sudeste Asi�tico, como Coreia do Sul e China, que h� poucas d�cadas exibiam apenas fra��es do PIB per capita brasileiro.
O Brasil est� mais velho e mais conflagrado. Menos respeitado na Am�rica no Sul e no mundo. Nos �ltimos 40 anos teve duas d�cadas perdidas e duas de baixo crescimento.
Ainda trata de quest�es como reforma da previd�ncia como se fosse algo pertencente � esfera da opini�o, e n�o da aritm�tica. V� a arruma��o macroecon�mica como um item estrat�gico, e n�o uma mera —por�m necess�ria— pr�-condi��o para competir.
O pa�s n�o pode, em medida alguma, se dar ao luxo do desperd�cio de mais um quadri�nio. N�o h� nada de autom�tico e inevit�vel na ascens�o ou derrocada. Nas urnas em 2018, os brasileiros decidir�o com que pa�s viver�o para o resto das suas vidas.
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