As crises, sobretudo uma dramática como a atual, permitem distinguir os falastrões das lideranças que, de fato, estão a tomar medidas relevantes.
Em tempos de normalidade, os mandatários podem sempre se autoelogiar pelo que de bom ocorre, e dizer que os problemas são culpa dos demais, seja a oposição, seja alguma potência estrangeira. Como é difícil saber o que cabe a um e a outro, tudo acaba sendo um jogo de retórica.
Os tempos de calamidade, porém, revelam quem está despreparado, perdido em disputas infantis, e os estadistas que cuidam da população.
Nada mais fácil, e patético a esta altura dos acontecimentos, do que atribuir aos chineses a pandemia que chegou por aqui. O governo de calças curtas revelou-se incompetente, afinal foram muitos os alertas que vieram do exterior.
Em meio à insanidade de um governo arrogante e incapaz, algumas lideranças cuidam da sua vizinhança.
O prefeito Bruno Covas tinha todas as razões para se recolher. O moço é jovem e está em meio a um tratamento para cuidar de um câncer avassalador. Só que ele tem outras preocupações no momento.
O jovem revela-se herdeiro de seu avô. Transformou o gabinete de trabalho em moradia, afinal faz parte do grupo de risco, e tomou medidas difíceis, como fechar boa parte do comércio. Preocupado com a saúde da população, acabou de anunciar a construção de dois novos hospitais de campanha.
Antonio Anastasia liderou o Senado na ausência do presidente da casa, Davi Alcolumbre, afastado pelo novo coronavírus, e aprovou com celeridade o estado de calamidade em uma inédita sessão virtual. O presidente da Câmara, Rodrigo Maia, tem apoiado destinar recursos das emendas parlamentares para cuidar da saúde da população.
Em tempos de pandemia, o Palácio deveria seguir a recomendação das autoridades de saúde e deixar os grupos de risco em quarentena, além de cuidar das crianças que podem ser vetores de doenças. E vamos combinar, grupos de risco e crianças destrambelhadas é o que não falta no entorno do Palácio.
A culpa é do Congresso, que não aprovou as reformas, dizem os fanáticos oficiais. Esquecem que na lista das 19 medidas que contam do ofício enviado pelo Ministério da Economia constam duas, a tributária e a administrativa, que nem sequer foram enviadas pelo governo.
O presidente diz uma coisa, o ministro da Economia, outra. Uma parte do governo defende um Imposto sobre Valor Adicionado, outra parte, a versão repaginada da CPMF. O mesmo ocorre com as privatizações. Um defende preservar diversas estatais, outro não sabe bem o que dizer.
Eram disparatadas as promessas de zerar o déficit público em 2019 e de obter trilhões com a venda de ativos, de privatizações e de desvinculação das despesas obrigatórias.
Isso é o dá ter um governo que parece acreditar que a política pública se resume a disputas nas redes sociais. Nada fizeram que melhorasse a vida da população, pouco realizaram para liberalizar a economia. A cada tentativa de reduzir as restrições para importar máquinas e equipamentos, o governo se rendeu às objeções dos grupos locais de interesse.
O governo incompetente não tem muito a dizer a que veio, e ainda passa por constrangimentos, como quando o presidente elenca como uma de suas prioridades a lei que aumenta o número de pontos para suspender a carteira de motorista e trata a pandemia como uma gripezinha.
O presidente sabe que muitas famílias estão em luto e outras perderam a sua fonte de renda? Ele tem empatia pelos muitos que passam fome ou que não sabem como vão alimentar seus filhos nas próximas semanas? O governo tem ciência que muita gente está desesperada?
Já perdemos tempo demais, e o despreparo oficial pode resultar em calamidade muito pior do que passam os demais países.
Estamos enfrentando uma grave crise de saúde pública com consequências desastrosas sobre a vida das pessoas. Hora de parar com as brigas pequenas e unir esforços para trabalhar pelo bem comum.
Temos medidas urgentes a serem tomadas para garantir a oferta de leitos hospitalares. Há também que se garantir renda e acesso aos bens e serviços essenciais para a população confinada.
Executivo e Congresso devem se unir para definir prioridades e constituir um comitê de crise para administrar a escassez. A saúde pública deve assumir a liderança da gestão e cuidar dos grupos de risco, sobretudo os idosos.
Em tempos de colapso, há os que revelam a sua incompetência, o que não deveria ser surpresa. Felizmente, há também lideranças públicas que se preocupam em cuidar da população.
Comentários
Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.