Uma das grandes frustrações de acompanhar profissionalmente os episódios de violência no Rio é perceber o quanto eles são previsíveis, repetitivos e, ainda assim, aparentemente insolúveis. O noticiário desta semana —tiroteios entre polícia e bandidos, inocentes mortos, vias fechadas—, repetiu o da passada e o de tantas outras antes.
As causas do problema já estão há tempos bem diagnosticadas pelos responsáveis pela segurança pública, como ficou novamente evidente em palestra do ministro da Defesa, Raul Jungmann, em um evento da PM carioca na semana passada.
Ele lembrou que a crise atual resulta da falência do sistema desenhado pela Constituição de 1988, no qual as responsabilidades com segurança pública passaram aos Estados. Acontece que as maiores facções se nacionalizaram —mais do que isso, como disse o ministro, se "transnacionalizaram".
"Os grandes grupos criminosos já têm o controle da distribuição de drogas no Brasil e agora estão buscando o controle da produção, para ampliar seus lucros. O que pode fazer o governador do Rio se vier um 'salve' do PCC de São Paulo para que [os criminosos] vão às ruas, façam isso e aquilo? Nada."
Jungmann também citou o fracasso do superlotado sistema penitenciário nacional, controlado pelo crime a tal ponto que, de cada dois presos, um está armado.
"Ninguém sabe qual é a população carcerária no Brasil hoje. Foi nesse espaço que surgiram os grandes grupos criminosos do país, e de lá controlam o sistema penitenciário e o crime. O Nem foi preso no Rio, está a 5.000 km, em Rondônia, e declara uma guerra na Rocinha."
A fala de Jungmann lembra outra frustração de quem acompanha o noticiário: todos já sabem quais são os problemas. Mas ninguém consegue executar uma solução.
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