Com a recente nomeação de Christian de Castro para o comando da Agência Nacional de Cinema (Ancine), o ministro da Cultura, Sérgio Sá Leitão, viu resolvida a seu favor uma longa disputa pelo poder, abrindo caminho para iniciar, em nível federal, a mesma reforma que fez na Riofilme, há quase uma década.
Num país em que falta verba para tudo, especialmente para a cultura, a Ancine tem uma fortuna garantida em lei, mas não consegue gastá-la, por ser excessivamente burocrática. Seu Fundo Setorial do Audiovisual (FSA) vem arrecadando cerca de R$ 1 bilhão por ano desde 2012.
Mesmo após o governo federal morder parte significativa desse bolo, o dinheiro que resta ao FSA é muito mais do que a agência consegue investir. "De um total de R$ 7,7 bilhões arrecadados, R$ 3,8 bilhões foram para o fundo, mas apenas R$ 1,2 bilhão efetivamente chegou ao mercado", disse Sá Leitão em um evento da Folha.
A discrepância entre esse excesso de dinheiro não utilizado e a penúria de outras áreas da cultura é gritante. O MinC tem, em 2018, orçamento previsto de R$ 550 milhões para investimento. Enquanto isso, só o FSA tem R$ 829 milhões para serem realocados entre as linhas de financiamento.
O que assusta muita gente de cinema, não sem razão, é a incerteza sobre o que será feito para agilizar a distribuição do dinheiro. A RioFilme de Sá Leitão foi pioneira na adoção do financiamento automático, que favorece os grandes produtores. O investimento deixa de ser na obra e passa a ser nas empresas.
Sua gestão na estatal carioca de cinema foi também marcada por um pragmatismo de mercado: os filmes em que ela investia deviam dar retorno financeiro (ou seja, bilheteria) ou prestígio (vencendo premiações). Nem sempre essa visão é a mais indicada no caso das artes.
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