Jornalista foi correspondente em Londres, editor do 'Folhateen' e de Fotografia e diretor da sucursal Rio.
Escreve �s quintas.
Por sorte, o crime ainda n�o se organizou
RIO DE JANEIRO - Cada vez que acontece uma desgra�a como o massacre dos presidi�rios no Amazonas, me vem � mente a entrevista de H�lio Luz, ent�o chefe da Pol�cia Civil do Rio, no document�rio "Not�cias de Uma Guerra Particular" (1999), uma obra-prima.
"Eles tentaram criar o crime organizado na cadeia, mas n�o deu certo. Sorte nossa que n�o deu certo. (...) O que n�s temos no morro � um varej�o. [O chefe do tr�fico] � gerente de varej�o, ele n�o sabe nem operar. Como � que ele vai operar US$ 5 milh�es? Ele � apenas o cara que fica com as barracas na pra�a. � prim�rio. A� fica esse caos, garotinhos com 15 anos dando tiro contra outro, uma estupidez permanente."
Quase duas d�cadas depois, a radiografia de Luz continua v�lida. O tr�fico vem se tornando mais bem estruturado, e o Primeiro Comando da Capital (PCC), com seu simulacro de ordem empresarial, � o maior exemplo. Mas a compra e venda de drogas ainda funciona largamente com a desordem e improvisa��o t�pica dos sacoleiros e camel�s. O que aconteceu em Manaus n�o mostra organiza��o dos criminosos: � apenas exemplo da desorganiza��o do sistema prisional brasileiro.
O Rio tem mais de 760 favelas, espalhadas por todas as regi�es. Elas abrigam quase um quarto da popula��o da cidade –cerca de dois milh�es de pessoas. Em virtualmente cada uma delas h� uma fac��o criminosa presente e, na maioria dos casos, comandando o local.
"H� morros aqui que t�m cem homens armados, com armamento sofisticado", diz Luz em outro trecho do filme. "O dia em que eles perceberem como � essa rela��o e resolverem descer organizados, eles tomam isso aqui."
Os traficantes brasileiros ainda n�o conseguiram se organizar de modo a transformar o pa�s no que foi a Col�mbia nos anos 1990. Mas por quanto tempo mais contaremos com a sorte?
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