� economista do BNDES. O artigo n�o reflete necessariamente a opini�o do banco.
Em causa pr�pria
Depois de dois anos e sete meses, fa�o minha despedida da coluna. O tempo foi prof�cuo intelectual e pessoalmente.
A periodicidade semanal exigiu uma constante aten��o para identificar temas e o esfor�o de refletir e pesquisar sobre eles. Minhas duas filhas nasceram no per�odo. Foi a chegada da mais nova, que est� com dois meses de idade, que me fez decidir por dar uma parada. Com duas meninas pequenas, ficou impratic�vel dispor do fim de semana para escrever. Vou sentir falta e um certo al�vio.
O desejo que moveu a coluna foi o de viver numa sociedade mais equilibrada. Ele se expressou, entre outras maneiras: ao defender as iniciativas de distribui��o de renda ou a necessidade de uma tributa��o mais equit�ria (e eficiente); ao mostrar que o crescimento n�o se caracteriza pelo equil�brio e que tal idealiza��o significa limit�-lo, a preju�zo dos mais pobres; e na preocupa��o com as liberdades, por exemplo, ao tratar do racismo e dos direitos civis de gays e prostitutas.
Esse desejo n�o deriva de nenhuma generosidade especial, mas do entendimento de que o bem comum n�o somente inclui a mim como � parte importante do meu bem-estar. � o interesse pr�prio que me guia.
Quero sair na rua com tranquilidade e deixar que minhas filhas o fa�am desde cedo. Quero viver numa cidade e num pa�s diversos, com uma ampla disponibilidade de servi�os e identidades culturais, em que as rela��es profissionais, de amizades, de casamento, entre outras, se pautem pela liberdade etc.
Isso n�o � poss�vel, por exemplo, se a pol�cia faz revistas baseadas em vestimentas e cor da pele ou invade domic�lios nas favelas sem seguir as leis que valem para bairros ricos. � invi�vel quando os trabalhadores bra�ais, que s�o fundamentais para a produ��o dos bens e servi�os de que usufruo, ganham 5% ou 10% da renda que eu e meus pares da elite recebemos. Tamanha desigualdade n�o favorece a liberdade de escolha no estabelecimento dos v�nculos pessoais.
N�o se trata de defender uma sociedade plenamente igualit�ria. � desej�vel que se tenha espa�o para um ego�smo, que p�e na balan�a os interesses imediatos e individuais, e para o esfor�o de quem busca prosperar.
A competi��o favorece a efici�ncia. Contudo, se na Europa pode fazer sentido discutir os limites do Estado de Bem-Estar Social, no Brasil a luta � por sua estrutura��o b�sica.
O diabo � que num pa�s com uma brutal heran�a escravista, ainda que os brasileiros de hoje n�o tenham responsabilidade nisso, � mais dif�cil combater a desigualdade e construir a na��o: universalizar a educa��o e ter perseveran�a para seguir aumentando sua qualidade, combater a corrup��o, favorecer o transporte coletivo ao privado, deixar de ter empregadas dom�sticas ou pagar mais pelos seus servi�os profissionais etc. � duro at� mesmo obter amplo respeito �s leis de tr�nsito, um esfor�o coletivo que traz ganhos t�o evidentes a cada um.
N�o � f�cil mudar velhos h�bitos, trocar interesses de curto prazo por um �s vezes distante e pouco palp�vel bem comum, e nem sempre o crescimento econ�mico ocorre para ajudar a criar novas perspectivas.
E, claro, al�m das diferen�as de interesses imediatos, � grande a diverg�ncia de opini�o sobre como superar essas dificuldades. Por isso, espero que a democracia brasileira desta vez sobreviva ao teste pelo qual est� passando e saia fortalecida.
Agrade�o � Folha e a seus profissionais pelo nobre espa�o. Aos leitores, pelo debate proveitoso e cordial.
Correndo o risco de esquecer algu�m, agrade�o a amigos que em distintos assuntos e momentos leram as vers�es iniciais dos artigos, debateram os conte�dos e me obrigaram a ter paci�ncia para rever os textos e torn�-los mais claros e objetivos (por �bvio, isentando-os das defici�ncias que restaram): Ana Cl�udia Borja, Jos� Ant�nio Pereira de Souza (o Japs), Jos� Aparecido Ribeiro, Luis Ot�vio Reiff, Mat�as Vernengo, Rafael Oliva e Thomaz Guedes. Pela frequ�ncia, fa�o um agradecimento especial a Erika Ara�jo e Felipe Silveira Marques.
Felicidades a todos!
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