� economista do BNDES. O artigo n�o reflete necessariamente a opini�o do banco.
A tenta��o do c�mbio
O c�mbio, alimentado pela crise pol�tica, teve forte desvaloriza��o desde fevereiro. O aparente estancamento nesta semana favorece uma avalia��o mais estrutural a partir das perspectivas do balan�o de pagamentos.
Nesse sentido, � proveitoso o texto do professor da Unicamp Andr� Biancarelli "Constrangimentos externos, de natureza financeira, ao desenvolvimento: um olhar dissidente sobre o Brasil no per�odo p�s-bonan�a", que em breve ser� publicado pelo CGEE (Centro de Gest�o de Estudos Estrat�gicos).
O saldo em transa��es correntes vem tendo deteriora��o em etapas. Depois de apresentar raros superavit em meados da d�cada passada, teve no in�cio do dec�nio deficit de 2% do PIB, que, mesmo com a economia estagnada, subiu para 4,2% em 2014, nem t�o distante dos quase 5% registrados em 1999 e 2002.
O saldo comercial � a principal explica��o: depois de chegar a um superavit de 5% do PIB, tornou-se levemente deficit�rio no ano passado.
As principais raz�es para essa trajet�ria foram: a queda dos pre�os das commodities de exporta��o (o risco de ter uma pauta concentrada), as dificuldades de Argentina e Venezuela (grandes compradores de manufaturados brasileiros), a queda da produ��o local de petr�leo (em revers�o), a agressividade comercial chinesa ap�s a eclos�o da crise financeira internacional, o esvaziamento das cadeias da ind�stria de transforma��o, entre outras coisas.
Exceto pelos dois �ltimos motivos, esse quadro mostra que a deprecia��o tem baixo impacto no saldo comercial.
O c�mbio � uma tenta��o para pa�ses em desenvolvimento. Sua valoriza��o s� traz facilidade a curto prazo: a infla��o cai, as possibilidades de consumo se ampliam, viajar pelo mundo fica mais f�cil etc.
A longo prazo, o problema � que a aprecia��o vem da abund�ncia de recursos naturais ("doen�a holandesa"): isso reduz a diversifica��o da estrutura produtiva e da pauta de exporta��es, limitando a capacidade de promover o crescimento, cujos est�mulos internos vazam para as importa��es. Al�m disso, o c�mbio favor�vel � necess�rio, mas insuficiente, para garantir o adensamento produtivo e tecnol�gico, que tamb�m exige pol�tica industrial.
O balan�o entre benef�cios e custos de curto e longo prazos � dificultado porque o processo de deprecia��o � dolorido e mal dividido, sobrecarregando os trabalhadores. Al�m de ter efeitos imediatos opostos aos da valoriza��o, a tentativa de contrabalan�ar o choque de custos o torna recessivo.
A desvaloriza��o costuma vir somente � for�a, como aconteceu em 1999 e 2002.
Mas a abund�ncia de recursos naturais e a atra��o de capitais com juros altos fazem voltar press�es de revaloriza��o. Nesse sentido, � relevante a avalia��o do autor de que o pa�s n�o dever� ter dificuldade para financiar o deficit externo.
Uma raz�o � que a economia brasileira est� mais preparada para turbul�ncias. Houve uma significativa redu��o do endividamento externo: de 42% do PIB em 2002 para 15% recentemente. Biancarelli tamb�m aponta a queda dos passivos externos denominados em d�lar. Quase dois ter�os dos compromissos de carteira (a��es e t�tulos de renda fixa) s�o em real, ante 8% de 2002.
Isso ocorreu gra�as � valoriza��o cambial prolongada, que ofereceu aos estrangeiros ganhos adicionais ao aplicar em reais (de 2012 a 2014, a deprecia��o real de 50% fez o passivo externo em d�lar recuperar parte de sua participa��o no total).
Boa parte do risco est� agora com os credores, que numa sa�da de capital em massa arcam com a queda de pre�os dos t�tulos e com a deprecia��o cambial, murchando o passivo em escala muito maior que a fuga de capitais, como houve em 2008.
O autor ressalta que a desdolariza��o do passivo externo precisa ser mais estudada, mas parece explicar a maior capacidade da economia de conviver com deficit em conta-corrente. As contas externas tendem a n�o mais levar a deprecia��es descontroladas, em que o descasamento de moedas leva a crises banc�rias (que no Brasil costumam ser estatizadas), como nos anos 1980 e no final dos 1990.
A not�cia � boa, claro. Por�m, no campo produtivo, aumenta a aten��o para, passadas as trovoadas, evitar a revaloriza��o cambial. Afinal, a melhor maneira de desvalorizar � n�o deixar apreciar. O diabo � lembrar Oscar Wilde: "O �nico jeito de se livrar de uma tenta��o � ceder".
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