� economista do BNDES. O artigo n�o reflete necessariamente a opini�o do banco.
Keynesianismo verde
Foi lan�ado nesta semana em evento no Parlamento brit�nico o livro "Mission-Oriented Finance for Innovation: New Ideas for Investment-Led Growth" (Financiamento � inova��o orientado por miss�o: novas ideias para um crescimento puxado pelo investimento), organizado pela professora da Universidade de Sussex Mariana Mazzucato e pelo economista brasileiro Caetano Penna (policy-network.net).
Os organizadores avan�am em sua agenda de pesquisa de entender como a capacidade inovadora capitalista se fundamenta na a��o empreendedora p�blica.
O setor privado � eficiente na fase final do processo inovador, voltado � comercializa��o de novos bens e servi�os, obtendo efici�ncia de custos, aprimorando funcionalidades e apostando em diferencia��es via design, marca etc.
Por�m as fases iniciais exigem recursos pesados e por muito tempo (frequentemente uma ou duas d�cadas). Os altos riscos de insucesso precisam ser suportados pelo Estado. Al�m disso, ele define miss�es, seleciona projetos, coordena esfor�os, corrige rumos e, depois, sustenta a demanda que induz os investimentos privados.
A abordagem rompe com a ideia convencional de que a atua��o estatal se restringe a suprir defici�ncias localizadas ligadas �s "falhas de mercado". A constata��o � que o Estado contribui para criar tecnologias, as difunde e ajuda a moldar novos mercados.
O professor de Stanford Arun Majumdar, que foi diretor da ag�ncia p�blica americana Arpa-E e vice-presidente de energia do Google, destaca que os protocolos t�cnicos da internet foram publicados em 1974. Em 1983, foram implantados pela ag�ncia Arpanet. E foi preciso outra d�cada para a web chegar ao p�blico.
H� outros exemplos –recentes (GPS, telas sens�veis ao toque, tecnologias de informa��o e comunica��o) e antigos (estrada de ferro, eletricidade e outros servi�os)– de cria��o e difus�o de tecnologias a partir do sistem�tico apoio estatal.
O livro avan�a buscando avaliar como a prolongada crise internacional pode afetar o desenvolvimento das tecnologias que mudar�o os padr�es de consumo no futuro.
Desde os 1980 a liberaliza��o financeira vem dando poder crescente ao setor privado para escolher as frentes de expans�o a ser financiadas. Ao contr�rio do que sup�e a opini�o econ�mica convencional, o mercado n�o se mostrou eficiente em alocar tais recursos. Em vez de privilegiar atividades produtivas, trouxe bolhas imobili�rias.
Mesmo no caso do financiamento via mercado de capitais a empresas tecnol�gicas, o professor Willian Lazonick destaca que os objetivos de curto prazo ganharam �nfase com o fim da veda��o de algumas pr�ticas. Por exemplo, com a possibilidade de recompra de a��es pelas empresas, seus executivos, que recebem boa parte de suas remunera��es nesses t�tulos, passaram a poder insuflar seus pre�os.
O liberalismo levou o mundo � crise e � ruim sua receita de corte de gastos para sair dela. O "austeric�dio" dificulta superar a estagna��o no curto prazo e, no longo, pode comprometer a cria��o via inova��o de novas frentes de expans�o do investimento.
Como diz o professor Randall Wray, para seguir em frente, o mundo precisa se livrar do duplo mito de que os governos sofrem com a falta de recursos e de que a m�o invis�vel das finan�as promove o interesse coletivo.
Uma constata��o � que a for�a da miss�o escolhida � o que viabiliza politicamente a assun��o de grandes riscos pelo Estado. Em alguns casos, s�o indubit�veis os ganhos coletivos dos pesados gastos com o desenvolvimento de inova��es nas ind�strias farmac�uticas e de equipamentos m�dicos.
Em outros, a permiss�o para "pensar grande", por exemplo, para levar o homem � Lua, deveu-se a causas menos nobres, como a Guerra Fria. A prioridade militar j� fez os EUA promoverem deficit fiscais, mesmo em governos de discurso liberal.
Uma miss�o inovadora atual � clara e grandiosa: desenvolver as energias renov�veis e outras tecnologias para fazer frente �s mudan�as clim�ticas. Talvez seja �til a for�a ideol�gica avassaladora (em alguns aspectos demasiadamente idealizada) que move o ambientalismo. Pode estar nele o rem�dio contra o dogmatismo da austeridade. Em vez de usar o discurso ambiental contra o crescimento, pode-se us�-lo a favor.
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Que privil�gio de Inezita Barroso: partir deixando boas lembran�as a tantos!
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