� economista do BNDES. O artigo n�o reflete necessariamente a opini�o do banco.
O que � a heterodoxia?
A caracteriza��o n�o � inequ�voca. A multiplicidade te�rica, derivada da dificuldade de resolver empiricamente suas controv�rsias, � uma marca da "ci�ncia" econ�mica.
Na tentativa de defini-la, uso contribui��es do blog keynesiano de meu colega Mat�as Vernengo.
Ideias como moeda end�gena, incerteza e inova��o s�o parte da heterodoxia, por�m podem ainda que precariamente serem incorporadas pela ortodoxia. De distintivo, duas caracter�sticas te�ricas sobressaem.
Uma � ser uma teoria da determina��o do emprego e do produto. O mercado n�o tem mecanismos autom�ticos (pre�os) para garantir que seja atingido um equil�brio de pleno emprego, pois reduzir os sal�rios n�o garante aumento das contrata��es, j� que os sal�rios menores fazem a demanda cair.
A resist�ncia trabalhista e pol�ticas p�blicas (fixando um sal�rio m�nimo, por exemplo), amaldi�oadas por muitos porque prejudicariam a obten��o do pleno emprego, d�o estabilidade ao sistema. Uma economia com pre�os amplamente flex�veis seria mais vol�til e propensa a crises. Defla��es dificultam cumprir contratos, como empr�stimos, antes assumidos num n�vel de pre�os mais alto. Se pronunciadas, levam a fal�ncias crescentes no setor produtivo.
O produto � determinado pelos gastos aut�nomos, que independem dos sinais da demanda interna: exporta��es e disp�ndio p�blico. Como as vendas externas dependem da demanda mundial, � a pol�tica fiscal o principal instrumento de busca do pleno emprego, o que n�o se restringe ao curto prazo.
O crescimento alavanca a produtividade e a inova��o, gerando a demanda que induz ganhos de escala e os investimentos que criam e difundem as melhorias tecnol�gicas.
Contudo, o processo � marcado pelo desequil�brio. Umas coisas se ampliam � frente de outras, o que gera, por exemplo, infla��o de custo: a escassez de alguns fatores eleva seu pre�o relativo. A infla��o de demanda � pouco frequente pois antes de ela de fato aparecer a economia costuma ser travada, visando combater choques de custo em nome da idealiza��o do crescimento equilibrado.
A outra caracter�stica distintiva � que tamb�m a distribui��o � ex�gena ao sistema econ�mico. Ela n�o se deve a fatores t�cnicos-econ�micos, como as produtividades marginais do capital e do trabalho.
Se cada um ganhasse diretamente conforme sua contribui��o ao produto social, a concentra��o poderia melhor se justificar. Por�m tal tese sofre de uma circularidade: para obter a produtividade do capital, � preciso saber os pre�os dos bens de capital, mas estes dependem da taxa de lucro, que seria fun��o da produtividade do capital.
A distribui��o � resultado das disputas na sociedade. Crescimento mais r�pido e a exist�ncia de uma rede de prote��o social favorecem o poder dos trabalhadores e, assim, a desconcentra��o da renda.
A implica��o � que n�o h� caracter�sticas naturais, como a propens�o a poupar, que travem o crescimento e a distribui��o. A limita��o relevante � o balan�o de pagamentos. Pa�ses eficientes e ricos s�o os que t�m boas condi��es de troca com o exterior. Assim, s�o desej�veis pol�ticas que favore�am esse desempenho. Crescer e distribuir est�o mais ao alcance da vontade pol�tica de governos e na��es do que em geral se sup�e do debate econ�mico convencional.
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Responder a Samuel Pess�a ficou improdutivo. Por�m devo notar que sua afirma��o no domingo de que acho que quem pensa diferente de mim provavelmente defende interesses dos ricos � o oposto do que fiz na coluna passada.
Fiz uma gin�stica para mostrar que as caracter�sticas epistemol�gicas da economia exigem uma dose de convic��o �ntima para optar entre os distintos entendimentos. L�gica e evid�ncia fazem parte da escolha, mas o radical "doxa" destaca a opini�o.
A natureza �ntima remete a sua singularidade. N�o � uma quest�o de probabilidade. Na disputa pol�tica, sim, cada grupo se apropria do debate te�rico como melhor lhe interessa. Assim, a repercuss�o de cada entendimento depende de a quem se atende.
Mas cada um pode (ou n�o) fazer sua op��o te�rica independentemente dos conflitos distributivos. � uma decis�o moral, feita sob conhecimento incompleto: importante � se sentir confort�vel com sua escolha, mesmo diante da chance de estar errado. Escolhas opostas podem ser igualmente morais. Essa � a beleza do conhecimento econ�mico.
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