� economista do BNDES. O artigo n�o reflete necessariamente a opini�o do banco.
O xis do problema
O gr�fico que ilustra a coluna expressa o que est� em jogo no atual debate pol�tico-econ�mico brasileiro.
Ele mostra a evolu��o do sal�rio m�dio real no Brasil de 2000 a 2013 e � parte do texto "Mercado de trabalho e evolu��o dos sal�rios no Brasil, do professor da UFRJ Ricardo Summa.
Editoria de arte/Folhapress | ||
Desde 2006, o pa�s vive pequena era dourada no mercado de trabalho, com aumento persistente dos sal�rios reais (descontada a infla��o).
Summa apresenta raz�es para tal desempenho. O crescimento econ�mico criou uma relativa escassez de trabalho. O desemprego, ap�s um pico em 2003, reduziu-se a taxas expressivas at� atingir patamares historicamente baixos. Al�m disso, o longo per�odo de queda refor�ou a sensa��o de seguran�a dos trabalhadores e, assim, seu poder de barganha, revertendo a situa��o de fragilidade que vigorou nos anos 1990.
Esse poder de barganha foi ainda alavancado por duas pol�ticas p�blicas. Uma foi a de valoriza��o real do sal�rio m�nimo, que dobrou no per�odo 2000-2013. Al�m de atingir diretamente 26,5 milh�es de trabalhadores, sem contar os benef�cios do INSS, o m�nimo � refer�ncia para os pisos salariais e para o trabalho informal e o aut�nomo.
Tamb�m o seguro-desemprego contribuiu para refor�ar a posi��o dos trabalhadores, em particular os de mais baixa qualifica��o, que puderam us�-lo nas trocas de empregos em busca de maior rendimentos De 2000 a 2012, al�m de ter tido ganhos reais nos benef�cios, o n�mero de seus benefici�rios cresceu 100%.
Finalmente, embora a sindicaliza��o n�o tenha subido, o Brasil � um raro pa�s em que ela n�o caiu na d�cada passada. Isso permitiu a retomada silenciosa de certo ativismo sindical, que garantiu a continuidade das eleva��es reais de sal�rios mesmo quando o crescimento do PIB caiu, a partir de 2011. As greves, com destaque para o setor privado, aumentaram, e o n�mero de horas paradas, que at� 2009 n�o passara de 30 mil, superou 60 mil em 2011 e quase chegou a 90 mil em 2012.
� verdade que os ganhos salariais n�o foram t�o arrebatadores: at� 2010 houve s� a recupera��o das perdas acumuladas de 2000 a 2004. Contudo, � patente a diferen�a de seu comportamento entre os per�odos de 2000-2005 e de 2006-2013.
A infla��o dos sal�rios explica em grande medida por que a pol�tica econ�mica do PT, ap�s a sa�da de Palocci da Fazenda e at� recentemente, foi crescentemente atacada, em especial depois de 2010. E ainda dizem que qualquer infla��o � sempre ruim e pior para os mais pobres.
A conjuga��o de crescimento mais baixo com poder de barganha dos trabalhadores mais elevado provoca a revolta das elites econ�micas e impulsiona o clamor por austeridade (para os outros).
Esse fen�meno n�o � exclusivo do Brasil. A estagfla��o da d�cada de 1970, ap�s a longa idade de ouro que vinha desde o p�s-Guerra, gerou no mundo desenvolvido uma rea��o parecida e que tem sido duradoura.
S� que no Brasil a participa��o dos sal�rios no PIB continua baixa em rela��o ao padr�o internacional (superior a 60%): de 1995 a 2003 ela caiu de 42,6% para 39,5%, subindo para 43,6% em 2009, o dado mais recente dispon�vel.
No entanto, num pa�s fundado pela escravid�o, a breve era dourada a partir de 2006 soa para muitos como uma profunda e indesejada subvers�o da hierarquia social.
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A coluna "A quest�o do juro", de 29/1/2015, discutiu estrat�gias de redu��o da taxa de juro brasileira. Na introdu��o, disse que a ortodoxia entende que o juro � alto porque a poupan�a � baixa e que isso est� relacionado a uma controv�rsia te�rica.
A opini�o convencional cr� nisso porque v� a poupan�a como requisito (pr�vio, portanto) do investimento. A heterodoxia acredita que a atividade alavancada pelo investimento gera a poupan�a que o financia.
Samuel Pess�a, em coluna hom�nima de tr�s dias depois, pontificou: a "afirma��o de Marcelo est� errada. N�o h� essa controv�rsia te�rica. (...) Todos sabemos que, na rela��o entre poupan�a e investimento, este � soberano".
Por�m, um pouco depois, sua conclus�o foi que "n�o h� alternativa para arrumarmos a casa que dispense a recupera��o da poupan�a p�blica. Esse � o �nico caminho para conseguirmos baixar os juros". Poupan�a antes de tudo, ent�o?!
Bom Carnaval a todos.
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