� economista do BNDES. O artigo n�o reflete necessariamente a opini�o do banco.
Produtividade sem mist�rio
O subsecret�rio da Secretaria de Assuntos Estrat�gicos, Ricardo Paes e Barros, em entrevista ao "Estado de S. Paulo" de 28/12/2014, levantou uma d�vida quanto � continuidade da redu��o da desigualdade.
Sua preocupa��o � com "o mist�rio de um pa�s com a produtividade estagnada h� d�cadas". "Para reduzir a pobreza (...), o mais importante n�o � redu��o de desigualdade, mas o aumento da produtividade."
Como se sabe, uma inclus�o social in�dita foi a principal novidade dos governos do PT, o que se beneficiou da valoriza��o das commodities de exporta��o brasileiras.
A aprecia��o cambial alavancou os ganhos reais advindos da distribui��o de renda. O diabo � que tamb�m minou a solidariedade nas cadeias produtivas, esvaziadas na busca de redu��es de custo.
Assim, n�o chega a ser um mist�rio a produtividade avan�ar pouco: o emprego se expandiu nos servi�os, setor que por natureza tem mais dificuldade de elev�-la. Ainda assim, seu debate � proveitoso.
O indicador � controvertido. Fisicamente, a quantidade de produtos por trabalhador � uma medida objetiva, por�m n�o leva em conta os ganhos de qualidade e os graus de integra��o vertical (numa firma, a terceiriza��o da limpeza � tida como aumento de produtividade).
A medi��o monet�ria (valor adicionado por trabalhador) resolve o problema, mas cria outros. O principal � que o valor adicionado (valor da produ��o menos dos insumos) depende do pre�o de mercado. Uma maior escassez relativa de um bem faz o indicador crescer, embora tecnicamente nada tenha mudado com a produtividade.
Outro problema � que a produtividade pode crescer se o emprego cai mais que a produ��o, como ocorreu na abertura comercial brasileira nos anos 1990. Isso mostra que seu aumento n�o � um fim em si mesmo.
Essas dificuldades fazem as sugest�es para elevar a produtividade pecarem pelo excesso de generalidade: melhorar o ambiente de neg�cios, corrigir defici�ncias de infraestrutura, aproximar as empresas das universidades etc.
N�o � que tais esfor�os sejam in�teis. Contudo, n�o � a eleva��o da produtividade que garante a retomada do crescimento. O crescimento � que � a principal alavanca da produtividade, aumentando os ganhos de escalas e induzindo os investimentos que permitem incorporar e gerar progresso t�cnico. Nesse sentido, o liberal Adam Smith notou que o tamanho do mercado � o que limita a divis�o do trabalho, tida por ele como o motor da produtividade.
Durante a bonan�a externa, al�m de distribuir renda, foi poss�vel propiciar ao consumidores viagens baratas ao exterior e acesso a TVs, tabletes, brinquedos, roupas, entre outros bens importados em todo ou em parte de pa�ses na fronteira tecnol�gica ou de m�o de obra barata. No entanto, os deficit em transa��es correntes apontam a necessidade de rever a estrat�gia.
A deprecia��o cambial pode ajudar a melhorar a qualidade dos empregos dispon�veis aos mais pobres, que progressivamente deixariam de ser porteiros, balconistas, dom�sticas, frentistas, entre outras fun��es, para se empregar na ind�stria.
Um real desvalorizado favorece a produ��o local, embora exija um duro e algo demorado ajuste em que a infla��o n�o se comportaria de acordo com as regras do atual regime de metas. Haveria ainda um certo retrocesso tecnol�gico no consumo.
Por�m mesmo os empregos de uma ind�stria defasada t�m produtividade (e, logo, sal�rios) bem maior que os do hipertrofiado setor de servi�os. Foi o que ocorreu na industrializa��o brasileira. Mas no s�culo 20 a exclus�o social limitou o processo.
A diferen�a agora seria o foco no consumo de massa (de bens privados e p�blicos), que ainda � reduzido comparado aos pa�ses ricos, e na eleva��o da participa��o dos sal�rios no PIB.
A pol�tica industrial tamb�m pode contribuir para o aperfei�oamento da realiza��o local de novas atividades. E o pa�s j� tem setores de classe mundial a desenvolver, ligados � base de recursos naturais.
Expans�o, amplia��o de oportunidades de investimento e de inova��o e ganhos sustentados de produtividade s�o resultados esperados.
O balan�o entre as prioridades ao consumo e � qualidade do emprego n�o � inequ�voco. O problema � que falta espa�o no debate pol�tico brasileiro para as op��es que favorecem o segundo polo. Idealiza-se o crescimento "equilibrado" ou simplesmente se prefere que as coisas continuem como sempre foram.
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