� economista do BNDES. O artigo n�o reflete necessariamente a opini�o do banco.
O avesso do avesso
Na quinta-feira passada, quando foi anunciada a nova equipe econ�mica, a presidenta Dilma enumerou os objetivos de seu pr�ximo mandato: inclus�o social, acesso � educa��o, investimentos em infraestrutura, eleva��o da renda, entre outros.
Uma reportagem do UOL destacou a declara��o com o t�tulo: "Estabilidade pol�tica e econ�mica ser� prioridade, afirma Dilma". A escolha foi apropriada. Afinal, a novidade � a tentativa do PT de reeditar a estrat�gia de 2003, sinalizando uma pol�tica econ�mica ortodoxa para acalmar o dito "mercado".
Deve o governo dar mesmo tanta bola ao "mercado"?
� certo que ele erra rotineiramente. Uma reportagem do "New York Times" –http://nakedkeynesianism.blogspot.com.br/2014_10_01_ archive.html– mostra a euforia da Bolsa alem� com a indica��o, em 1933, de Hitler como primeiro-ministro. Em 2002, Bolsa e risco-pa�s indicavam grandes perdas em raz�o da iminente vit�ria de Lula, por�m os ganhos se mostraram vultosos como havia muito n�o ocorria.
� que a t�o referida "opini�o do mercado" reflete apenas o que pensam os ricos, tendo pouco a ver com um diagn�stico t�cnico, cient�fico ou relativo a qualquer adjetivo que sugira, ainda que de maneira idealizada, uma ideia de neutralidade.
Claro, os "agentes do mercado" n�o querem perder dinheiro. E, embora artificiais, para muitos, s�o sedutores os modelos ortodoxos, que evocam a parcim�nia (em rela��o aos outros) para restabelecer a confian�a empresarial, que seria independentemente da demanda a chave para sustentar o crescimento.
Mas se deve ter em conta que o jogo de ganhos e perdas do "mercado" � fortemente influenciado pelo curto prazo. Boatos, cren�as pessoais e outros fatores pouco coerentes com o desempenho de longo prazo dos neg�cios fazem parte da complexidade especulativa, para a qual a volatilidade dos �ltimos meses n�o � um problema, mas o meio de lucrar.
Al�m disso, como estrat�gia pol�tica, para quem j� � rico, pode valer a pena deixar de ganhar um pouco mais e evitar os transtornos ligados �s mudan�as na hierarquia social que a distribui��o de renda e o crescimento "desequilibrado" (acelerado) trazem.
Com tudo isso, n�o quero dizer que o governo deve ignorar o "mercado". Afinal, � alto seu poder econ�mico, por exemplo, para amplificar a deprecia��o cambial, o que num momento em que o pa�s tem um desconfort�vel deficit externo prejudicaria os esfor�os de ajuste, em especial dado o impacto sobre a infla��o.
Ademais, a opini�o dos ricos tamb�m domina a imprensa. Por exemplo, manchetes recentes usaram a palavra "rombo" para escandalizar a simples redu��o do superavit prim�rio em 2014, algo esperado numa estagna��o e de f�cil defesa: neste momento, a poupan�a p�blica tende a trazer a recess�o, o que piora os resultados fiscais.
Todavia, n�o se trata de debate racional. As dificuldades econ�micas d�o a chance para que os ricos elevem a press�o pol�tica sobre o governo. Premido por uma vit�ria mais apertada, embora a quarta consecutiva, aposta-se na reedi��o da estrat�gia de 2003. O PT se preocupa com a estabilidade pol�tica e, por isso, cede aos apelos daquilo que a elite entende por estabilidade econ�mica.
Dif�cil dizer se dar� certo. A melhora de humor do "mercado" deve trazer al�vio para o c�mbio e destravar investimentos que foram suspensos em raz�o do cen�rio pol�tico conturbado. Mas, se a economia mundial n�o ajudar, � grande a chance de recess�o.
O novo ministro do Planejamento, Nelson Barbosa, foi um dos que operaram a inflex�o do governo Lula a partir de 2006, indicando uma tentativa de moderar a forma (qual combina��o entre cortar gastos e aumentar receitas? Onde cortar? Rever desonera��es ou elevar tributos e quais?), a intensidade e a dura��o do ajuste fiscal.
S� que o Brasil de 2003 tinha caminhos mais f�ceis de conciliar tal ajuste com a inclus�o social. Um simples programa de renda m�nima foi capaz de fazer diferen�a!
� duro n�o se frustrar ap�s uma elei��o dif�cil. Poderia ser diferente. De qualquer maneira, desejo boa sorte � nova equipe econ�mica.
Em rela��o aos trabalhadores e aos movimentos sociais, � preciso contrabalan�ar a disputa de opini�es. O Estado de Bem-Estar Social foi criado pelo fracasso liberal evidenciado pela crise de 1929 e � for�a do medo de revoltas socialistas. O poder econ�mico e de comunica��o dos ricos se combate nas ruas.
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