� economista do BNDES. O artigo n�o reflete necessariamente a opini�o do banco.
A m�o invis�vel
A m�o invis�vel � a mais interessante ideia tratada no livro "Sete Ideias Ruins: Como os Economistas Convencionais Prejudicaram os EUA e o Mundo", de Jeff Madrick.
Seu intuito � descrever como compradores e vendedores interagem livremente no mercado para alcan�ar o pre�o que equilibra as prefer�ncias dos consumidores, frutos de necessidades e desejos, e os custos (ou as dificuldades) de atend�-las.
Madrick destaca que Adam Smith, o criador do termo, usou-o s� uma vez no livro "A Riqueza das Na��es", o que bastou para a imagem fazer a cabe�a de muita gente.
Express�o cunhada em 1776, ano da Independ�ncia americana e pouco antes da Revolu��o Francesa, quando a individualidade ganhava for�a, come�ando a libertar o mundo dos grilh�es das rela��es tradicionais, a m�o invis�vel foi �til para refor�ar a convic��o moral de que agir segundo o que � um estrito interesse individual acaba sendo o melhor para coletividade.
A beleza da met�fora vem da perfei��o que o mercado parece por natureza ter: descentralizado, autom�tico e eficiente. O sucesso do capitalismo em elevar a produtividade e em criar novos bens e servi�os parece corroborar essa impress�o.
Ent�o, por que a m�o invis�vel � uma ideia ruim? Um problema � que ela sup�e que os pre�os de mercado s�o capazes de sintetizar os est�mulos do capitalismo.
De fato, o pre�o � um bom regulador da escassez de curto prazo. Se o conjunto de pessoas procura por um bem mais do que existe de oferta, seu pre�o subir�. Com isso, parte dos consumidores, conforme a intensidade de suas prefer�ncias e suas possibilidades de gasto, perder� interesse no bem, equilibrando demanda e oferta. Adicionalmente, os produtores s�o incentivados a elevar a produ��o e, se necess�rio, investir para ampliar a capacidade produtiva desse produto. O inverso vale para o caso de um excesso de oferta.
Tal mecanismo descreve adequadamente mercados de bens perec�veis, como o de peixe na feira. Por�m fica menos poderoso se � poss�vel estocar. Joseph Schumpeter mostrou que esse � um de v�rios "freios" � concorr�ncia. Outros exemplos s�o marcas, volume de investimentos para iniciar uma produ��o etc.
Esses freios s�o em certa medida bons para o capitalismo. Ao conferirem poder de mercado -a capacidade de fixar pre�os acima do que ocorreria num mercado "perfeitamente" competitivo-, permitem gerar recursos para investir em inova��es, assumindo riscos para tentar encontrar novas formas de se diferenciar dos concorrentes (ou para tirar a vantagem obtida por um inovador pr�vio), por exemplo, criando novos produtos ou novas tecnologias que diminuem custos.
Nesse jogo de diferencia��o e "desdiferencia��o" entre produtores, a concorr�ncia se mostra mais fidedigna � realidade e mais frut�fera do que no simples mecanismo alocativo da m�o invis�vel.
A m�o invis�vel tamb�m ignora o papel do Estado no complexo jogo competitivo. As compras estatais, as universidades, a pol�tica externa, os bancos p�blicos s�o formas de alavancar o poder inovador das empresas de um pa�s. A inova��o � uma atividade arriscada e dispendiosa. Os esfor�os podem ser malsucedidos. No balan�o de uma firma, costuma n�o valer a pena assumir riscos por prazo muito longo.
Esse � um risco assumido pela coletividade, casos cl�ssicos dos gastos militares -que nos EUA criaram a internet, o GPS etc.- e do desenvolvimento de medicamentos para a sa�de p�blica.
Quer dizer, a m�o invis�vel promove desarticula��o artificial entre mecanismos competitivos e cooperativos. Em doses variadas, eles est�o sempre presentes nas intera��es humanas. Mesmo num casamento h� competi��o (pelo afeto dos filhos, por exemplo) e entre comerciantes a coopera��o n�o � de todo exclu�da, como quando uma rua � conhecida por abrigar lojas do mesmo ramo.
A m�o invis�vel teve um papel na funda��o da modernidade. Mas ela esconde que a garantia dos direitos individuais n�o acaba com a necessidade de os seres humanos se organizarem coletivamente. Ali�s, o mercado tamb�m � uma forma de organiza��o coletiva (ningu�m se faz sozinho). O desafio da democracia � como fazer o balan�o entre competi��o e coopera��o para promover efici�ncia e igualdade, dois requisitos da busca por mais liberdade.
*
Dedico a coluna �s mem�rias dos ministros Adib Jatene e M�rcio Thomaz Bastos. Quanta falta nos far�o!
Livraria da Folha
- Cole��o "Cinema Policial" re�ne quatro filmes de grandes diretores
- Soci�logo discute transforma��es do s�culo 21 em "A Era do Imprevisto"
- Livro de escritora russa compila contos de fada assustadores; leia trecho
- Box de DVD re�ne dupla de cl�ssicos de Andrei Tark�vski
- Como atingir alta performance por meio da autorresponsabilidade