� economista do BNDES. O artigo n�o reflete necessariamente a opini�o do banco.
Evolu��o sofrida
A educa��o � uma unanimidade nacional. O problema � que n�o � incomum que o seu debate se resuma a uma quest�o de vontade (ou � reclama��o de uma suposta falta dela entre os pol�ticos).
Por isso, venho tentando empreender uma tarefa arriscada: construir uma narrativa dos avan�os e das dificuldades da trajet�ria brasileira. Um in�cio seguro � olhar os indicadores de desempenho e de esfor�o.
Quanto ao primeiro, h� avan�os vis�veis nos resultados dos estudantes brasileiros no Pisa (avalia��o internacional feita pela OCDE) e no Ideb (indicador do governo federal). Tamb�m vem diminuindo a distor��o entre idade e s�rie.
Contudo, a evolu��o � sofrida. Os resultados do mais recente Ideb mostraram que as metas s� foram cumpridas para a etapa inicial do ensino fundamental, tendo ficado aqu�m na etapa final e no ensino m�dio.
Quanto ao esfor�o, n�o h� d�vida: � crescente a prioridade da educa��o p�blica. O gasto total em rela��o ao PIB foi de 4,5% em 2005 para 6,4% em 2012, segundo dados oficiais. Quase todo o aumento se deu na educa��o b�sica.
Aqui � que a narrativa se complica. O que tem significado no cotidiano escolar esse aumento de recursos? Quais s�o as dificuldades persistentes e o que avan�a?
Em qualquer pa�s � demorada a universaliza��o da educa��o b�sica. Como o aprendizado tamb�m ocorre em casa, � duro fazer as transi��es, isto �, ensinar aos filhos mais do que seus pais puderam ter na escola. Para isso, recrutar professores entre os mais bem preparados da na��o � uma estrat�gia frut�fera.
Mas, num pa�s populoso e t�o desigual, a elite � pequena. A escola p�blica conta com professores oriundos principalmente de classes populares, que tiveram eles mesmos uma forma��o acidentada.
A professora da UFRJ Daniela Patti, com quem debati esta coluna, destaca que � comum, por exemplo, que professores dos anos iniciais do fundamental tenham falhas de forma��o para o ensino dos conte�dos de matem�tica e ci�ncias.
Assim, � chave investir na forma��o continuada dos profissionais. Por exemplo, a Faculdade de Educa��o da UFRJ recebeu neste ano verba federal para requalificar educadores de todos os munic�pios do Rio.
Outra dificuldade � garantir a perman�ncia do estudante na escola, em particular ap�s o fundamental. A partir dos 16 ou 17 anos, h� oferta de trabalho, cujas remunera��es podem de imediato soar mais recompensadoras que continuar o estudo. Anos depois, tais jovens, que tiveram forma��o mais longa e melhor que a dos pais, talvez mudem de ideia, percebendo que a forma��o incompleta limita as chances de progresso.
Por isso, � crucial a oferta da EJA (Educa��o de Jovens e Adultos). A EJA, por�m, tem sofrido com perda de matr�culas e falta de prioridade, j� que n�o � avaliada pelo Ideb, algo pelo qual os governos locais t�m sido crescentemente cobrados.
O ensino m�dio sofre ainda de "crise de identidade". Parte dos jovens busca um curso superior, o que exige refor�ar, por exemplo, o aprendizado de matem�tica e ci�ncias. Outra prefere curso t�cnico, concomitante ou sequencial ao m�dio regular, que pode ser caminho mais certeiro para a ascens�o social. O Pronatec e a expans�o das escolas t�cnicas federais s�o boas iniciativas. Por�m o duplo objetivo dificulta a formata��o das pol�ticas p�blicas.
H� ainda uma multiplicidade de iniciativas, como a expans�o da educa��o infantil, que j� atinge quase 80% das crian�as de 4 e 5 anos, ou a inclus�o de crian�as com necessidades especiais, que exige, entre outras a��es, formar e contratar int�rpretes da L�ngua Brasileira de Sinais. Isso sem esquecer as iniciativas mais conhecidas, como o Enem e o piso nacional do magist�rio.
Retomar o crescimento sustentado � crucial para criar perspectivas que tornem a educa��o um caminho mais promissor de ascens�o social. � ele que permitir� elevar os recursos dispon�veis por aluno, pois, como propor��o do PIB, o gasto do Brasil chegou ao patamar dos ricos.
Uni�o, Estados e munic�pios compartilham disp�ndios e responsabilidades num planejamento que deve atender a uma ampla gama de demandas e defici�ncias. Muita coisa tem sido feita. Mas os ganhos de qualidade, sem descuidar da inclus�o educacional, d�o-se de gera��o em gera��o, exigindo persist�ncia e paci�ncia. Um debate mais bem especificado e pragm�tico � proveitoso.
Livraria da Folha
- Cole��o "Cinema Policial" re�ne quatro filmes de grandes diretores
- Soci�logo discute transforma��es do s�culo 21 em "A Era do Imprevisto"
- Livro de escritora russa compila contos de fada assustadores; leia trecho
- Box de DVD re�ne dupla de cl�ssicos de Andrei Tark�vski
- Como atingir alta performance por meio da autorresponsabilidade