� economista do BNDES. O artigo n�o reflete necessariamente a opini�o do banco.
Um pa�s dividido
E faz tempo! No m�nimo, desde que os portugueses vieram colonizar esta terra, promovendo uma larga e duradoura escravid�o.
� a brutal concentra��o de renda e de riqueza que divide o Brasil, opondo pobres e ricos. Nesse contexto, o combate � desigualdade tem sido nos �ltimos anos um esfor�o de curar essa fratura.
Tal esfor�o tem envolvido iniciativas variadas, que podem ser organizadas em tr�s frentes. Uma � a da prote��o social, casos do Bolsa Fam�lia e da pol�tica de valoriza��o do sal�rio m�nimo, que melhoraram a distribui��o de renda entre os assalariados, al�m de medidas civilizat�rias como a equipara��o dos direitos trabalhistas dos dom�sticos aos dos demais profissionais.
Outra � a dos servi�os p�blicos, como educa��o, sa�de e, mais recentemente, mobilidade urbana. Ainda que tenham uma evolu��o sofrida, tais iniciativas aumentaram os gastos do Estado para incluir popula��es desatendidas e melhorar a qualidade dos servi�os prestados.
No entanto, dada a dificuldade de estruturar servi�os universais, que contam com financiamento e execu��o compartilhadas com Estados e munic�pios, a terceira frente conta com iniciativas compensat�rias ou de cria��o de oportunidades, como o Mais M�dicos, o Prouni, o Pronatec, as cotas nas universidades p�blicas e o Minha Casa, Minha Vida.
Mudan�as profundas n�o ocorrem sem tens�o. Um pa�s mais equilibrado � melhor para todos, por�m, para muitos, n�o � f�cil abrir m�o de seus interesses imediatos em nome de um menos palp�vel bem comum.
Isso se reflete, por exemplo, num elitismo tosco, que "denuncia" iniciativas triviais em pa�ses democr�ticos (programas de renda m�nima, cotas raciais etc.) como sinais de uma suposta "cubaniza��o" do pa�s. Contudo, h� mais que isso.
Nas regi�es metropolitanas, a nova classe m�dia sofre com a car�ncia de transporte p�blico, saneamento, habita��o etc. Num pa�s que ainda n�o � rico, a infraestrutura tem dificuldade de acompanhar a melhora dos padr�es de consumo privado.
A infla��o dos servi�os tem se mantido acima do �ndice geral. Essa � uma infla��o do bem, um ajuste de pre�os relativos fruto da distribui��o de renda. S� que, se para os muito desfavorecidos esse processo s� traz ganhos, os minimamente remediados podem ter a sensa��o de que a vida ficou mais dif�cil.
Isso n�o se refere somente aos que se ressentem da dificuldade de continuar pagando uma empregada dom�stica ou dos aeroportos cheios, mas, por exemplo, tamb�m aos pequenos empreendedores, que precisam arcar com sal�rios maiores.
O crescimento econ�mico � o mecanismo que permite distensionar tais conflitos. Claro, � mais f�cil redistribuir quando todos est�o ganhando mais. Por isso, as elei��es de 2006 e 2010 tiveram resultados mais folgados do que a deste ano.
Esse quadro tamb�m se refletiu no perfil de distribui��o dos votos do domingo, embora a divis�o eleitoral seja menos evidente que a social. Ainda assim -e juntando a isso uma imprensa francamente desfavor�vel ao PT-, � auspiciosa a constata��o de que a maioria da popula��o preferiu manter o apoio �s pol�ticas de redu��o da desigualdade.
N�o ser� f�cil retomar o crescimento sustentado. Em particular, tomara que o governo n�o ceda � receita convencional, que prega o corte de gasto e a alta do juro para controlar a infla��o e seria o rem�dio para reestabelecer a confian�a empresarial. Num ambiente de estagna��o, esse � o caminho da recess�o.
Alternativamente, o investimento p�blico tem papel central na retomada do crescimento e no desdobramento das pol�ticas de inclus�o. As concess�es s�o parte desse esfor�o, por�m tamb�m s�o importantes as obras p�blicas. Por isso, � preciso recuperar a capacidade de gasto do governo.
Reavaliar as desonera��es tribut�rias -que tiveram o papel de conter a infla��o e melhorar a competitividade de setores premidos pela competi��o externa- pode ser um caminho, ainda que sofra uma alta resist�ncia pol�tica. Como elas n�o elevam necessariamente a demanda, nem sempre promovem o crescimento. Outra possibilidade � elevar al�quotas de tributos, como as do IR.
Os ajustes poss�veis, ainda que sejam todos de alguma forma dolorosos, n�o s�o iguais. A escolha entre eles precisa refletir a op��o pol�tica feita na elei��o.
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