� economista do BNDES. O artigo n�o reflete necessariamente a opini�o do banco.
Cadeias globais de valor
Em comemora��o dos 20 anos da Sobeet (Sociedade Brasileira de Estudos de Empresas Transnacionais e da Globaliza��o), ocorreu na sexta-feira passada o semin�rio "Qual inser��o internacional do Brasil esperamos para os pr�ximos anos?".
Aspecto central no tema � o das cadeias globais de valor (CGVs), que carrega distintas contradi��es, possibilidades e limita��es para o desenvolvimento nacional.
O fen�meno n�o � novo, mas ganhou novos contornos a partir dos anos 1990. A dissemina��o das tecnologias de informa��o e comunica��o permitiu a fragmenta��o e a coordena��o � dist�ncia das atividades produtivas –em particular em ind�strias de montagem, como a eletr�nica e a automotiva–, possibilitando alocar mais livremente partes das cadeias conforme as capacita��es e as vantagens de cada pa�s.
O liberalismo econ�mico viu nisso uma chance para reafirmar suas recomenda��es, tentando identificar no combate ao protecionismo uma via r�pida para a industrializa��o de pa�ses subdesenvolvidos.
A agenda � conhecida: redu��o unilateral de tarifas, realiza��o de acordos de prote��o de investimentos –em que, por exemplo, na��es aceitam resolver quest�es jur�dicas com empresas em tribunais internacionais de arbitragem– e a ado��o de normas regulat�rias t�picas de pa�ses ricos, como legisla��es r�gidas de patentes.
Ao oferecer menores custos de com�rcio, um pa�s se tornaria mais atraente aos investimentos das CGVs.
A abordagem alternativa tem enfatizado que uma agenda t�o restrita ao com�rcio s� seria capaz de trazer benef�cios para pa�ses pequenos e/ou muito pobres, para os quais pode ser positiva a atra��o de atividades simples e de competi��o em custos de trabalho, como a montagem de bens ou servi�os de "call center".
Sen�o, � necess�rio colocar em pr�tica pol�ticas de qualifica��o de suas empresas para melhor se integrar nas cadeias globais. Suas prescri��es s�o mais interessantes.
H� pol�ticas transversais, como de infraestrutura e educa��o. H� iniciativas setoriais, que incluem atrair centros de P&D de transnacionais e unidades produtivas das empresas l�deres ou seus fornecedores.
A atua��o setorial pode incluir ainda pol�ticas de financiamento, compras p�blicas e benef�cios tribut�rios, entre outras, para desenvolver firmas de capital nacional como fornecedores globais de componentes e servi�os intensivos em inova��es, design e outras atividades que adicionem mais valor e gerem mais externalidades e encadeamentos na economia local.
Tudo isso � proveitoso e tem seu espa�o na formata��o de pol�ticas p�blicas no Brasil. Por�m, chama a aten��o que nesse debate pouco se fale sobre a possibilidade de o pa�s criar ou liderar suas pr�prias cadeias globais de valor.
Tais cadeias n�o s�o obras da natureza, mas cria��es de empresas, com apoio forte e variado de seus Estados. Se a alternativa for apenas se inserir em CGVs existentes, isso ser� feito sempre de forma subordinada �s estrat�gias das firmas l�deres.
No passado, o Brasil n�o foi capaz de aproveitar suas vantagens naturais para criar, por exemplo, as CGVs do caf�, o que foi feito por grupos italianos, ou do chocolate, controlada por su��os e outros pa�ses que nunca plantaram cacau.
Contudo, n�o faltam candidatos a mudar o rumo dessa hist�ria: energias renov�veis (e�lica, solar e biocombust�veis), minera��o, agricultura. A tarefa � mais dif�cil e arriscada, por�m recompensadora. E tamb�m h� no Brasil exemplos de sucesso, como a Petrobras e a Embraer.
Tra�o marcante dessas experi�ncias foi a escolha de desafios: encontrar/explorar petr�leo e desenvolver avi�es. Para persegui-los, houve P&D e desenvolvimento de tecnologias quando nem sequer existiam esses mercados no Brasil.
Hoje, no etanol, � preciso at� criar o mercado no mundo. Em outros casos, � preciso estabelecer marcas ou redes internacionais de comercializa��o. H� casos em que � preciso desenvolver fornecedores de bens de capital ou insumos, como na ind�stria de alimento e nos pr�prios setores de petr�leo e g�s e de aeronaves.
N�o basta realizar as atividades corporativas mais nobres. � preciso que isso ocorra tendo o controle das cadeias. Por isso, � curioso que a cr�tica seja t�o cerrada quando se busca que grupos nacionais dominem as cadeias de valor de carnes. Vale pensar no assunto.
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