� economista do BNDES. O artigo n�o reflete necessariamente a opini�o do banco.
Recursos nem t�o naturais
A busca do desenvolvimento econ�mico com base em recursos naturais tem se mostrado uma estrat�gia limitada quando se compara a Am�rica Latina com as industrializa��es mais bem-sucedidas da �sia.
H� algumas explica��es poss�veis e n�o necessariamente excludentes de por que a abund�ncia de terras f�rteis, petr�leo ou minerais pode se mostrar disfuncional: uma tend�ncia � aprecia��o cambial, que prejudica a competitividade da ind�stria de transforma��o, e o estabelecimento de uma cultura imediatista, que dificulta o adensamento tecnol�gico e de conhecimento nos processos produtivos.
Nesse sentido, um interessante contraponto � dado pelo livro "Recursos Naturais e Desenvolvimento", escrito pelos economistas Jo�o Furtado e Eduardo Urias e recentemente editado pelo Instituto Brasileiro de Minera��o (Ibram).
Um ponto inicial � que os recursos naturais n�o s�o um simples presente da natureza, mas uma cria��o humana. � o progresso t�cnico que tanto d� utilidade ao que existe no planeta como os torna dispon�veis, desenvolvendo formas de encontr�-los e extra�-los em condi��es que crescentemente s�o mais dif�ceis.
Evid�ncia disso � que o EUA, pa�s tido por Benjamin Franklin no fim do s�culo 18 como pobre em recursos naturais, se tornou o maior produtor mundial de min�rio no s�culo seguinte. A intensa explora��o de seus recursos naturais no s�culo 19 fez suas reservas crescerem substancialmente. De forma semelhante, no Brasil, o uso de pesquisas e tecnologias ajudou a criar no cerrado uma agricultura pujante.
Uma estrutura produtiva baseada em recursos naturais n�o precisa ser meramente rentista, calcada apenas numa eventual facilidade de sua obten��o. H� esfor�os de inova��o e de encadeamento industriais, casos dos bens de capital e implementos agr�colas, que podem alavancar o desenvolvimento.
Ainda assim, ao longo do �ltimo s�culo os pre�os dos bens intensivos em recursos naturais ca�ram significativamente em rela��o aos dos bens industrializados. Estabilizado o ritmo de urbaniza��o na Europa e nos EUA, o crescimento nos pa�ses ricos foi ao longo do s�culo 20 marcado por diversifica��o da oferta de bens e servi�os, que s�o cada vez mais imateriais. Um carro ou um eletrodom�stico tem conte�do de a�o e pl�stico, por�m mais valiosos s�o as tecnologias que carregam.
Entretanto, tal panorama mudou com a emerg�ncia da China e seus vizinhos, cujo crescimento � acompanhado de uma urbaniza��o de escala sem precedentes.
Com isso, a China, que, por exemplo, no ano 2000 importava 70 milh�es de toneladas de min�rio de ferro, equivalentes a 14% do com�rcio internacional, em 2008 deu um salto para 444 milh�es, quase metade das compras externas globais. Na soja, suas compras passaram de 10 milh�es de toneladas para quase 60 milh�es de 2000 a 2012, saindo sua fatia no mercado de menos de um quinto para quase dois ter�os.
Como a urbaniza��o asi�tica ainda est� longe de acabar, � prov�vel que os impulsos nos pre�os dos recursos naturais sejam duradouros.
� verdade que um avan�o de tal propor��o na taxa global de urbaniza��o traz press�es pol�ticas, econ�micas e ambientais para melhorar a efici�ncia de seu uso. Por�m isso � mais uma alavanca que um impedimento para o desenvolvimento de inova��es e de uma estrutura produtiva baseada em recursos naturais.
A conclus�o do livro � que esse � um caminho melhor que tentar enfrentar a competi��o dos pa�ses ricos e dos emergentes asi�ticos em setores altamente din�micos, como microeletr�nica ou qu�mica fina, ou nos intensivos em trabalho. Seria mais efetivo impulsionar a diversificada ind�stria brasileira para inovar e incorporar conhecimento na provis�o de servi�os, insumos e bens de capital para as atividades voltadas para agricultura, minera��o, energias renov�veis e petr�leo etc.
Canad� e Austr�lia s�o exemplos de pa�ses ricos que desenvolveram din�micos setores em recursos naturais, incluindo uma forte base industrial exportadora.
Mas esses s�o pa�ses de popula��es reduzidas. Um pa�s populoso como o Brasil n�o deveria abrir m�o de ter uma estrutura industrial diversificada (e competitiva).
Ainda assim, e dando os devidos descontos por ser uma publica��o setorial, o texto � proveitoso por mostrar que foco e pragmatismo –al�m de paci�ncia, vale acrescentar– s�o cruciais na cria��o de uma base empresarial inovadora.
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