� economista do BNDES. O artigo n�o reflete necessariamente a opini�o do banco.
O neg�cio da China
A conota��o do termo "longo prazo" � o sentimento que mais marcou minha leitura do cap�tulo sobre a China, escrito pelo professor da UFRJ Carlos Aguiar de Medeiros, para o livro "Padr�es de Desenvolvimento Econ�mico, Estudo Comparativo de 13 Pa�ses: Am�rica Latina, �sia e R�ssia".
Essa caracter�stica pode ser atribu�da a outros pa�ses asi�ticos, mas as dimens�es da China tornam bem mais impactante, mesmo que a observa��o
ocorra apenas desde 1949, quando foi estabelecida a ditadura comunista que ainda rege o pa�s.
A urbaniza��o e a industrializa��o marcam o per�odo, mas isso ocorre gradualmente. A popula��o rural, que era 90% do total em 1952, se mantinha em mais de 70% em 1995 e em 55% em 2007. No Brasil, a popula��o rural era quase dois ter�os do total em 1950, se tornou inferior � urbana em meados dos anos 1960, sendo 21,6% em 1996 e 15,6% em 2010.
O desenvolvimento chin�s � fortemente condicionado pela restri��o de recursos naturais, em especial de terras ar�veis, cuja disponibilidade por habitante � a menor do mundo, cerca de um d�cimo da americana.
A produtividade agr�cola tem crescido, por�m, segundo o texto, sua base de partida, muito baixa, faz com que ela seja o fator que isoladamente mais bem explica o desn�vel de renda per capita em rela��o aos EUA, bem como a crescente concentra��o de renda interna.
� poss�vel dizer que o regime se caracteriza menos pelo car�ter socialista que pelo planejamento centralizado de um capitalismo estatal.
� nisso que se sobressai o car�ter de longo prazo. Claro, h� intensa disputa pol�tica e mudan�as de rumo no pa�s. Entretanto, a ditadura garante que a estrat�gia vencedora seja levada � frente mesmo que ocorram insucessos.
De 1949 a 1978, a China se caracterizou como um regime aut�rquico. Por�m a dificuldade prolongada com a produtividade agr�cola, ocorrida tanto durante a experi�ncia de coletiviza��o de terras at� 1958 quanto no per�odo da Revolu��o Cultural, de 1966 a 1978, fez a economia se abrir, se tornando um dos mercados mais internacionalizados no mundo.
Nos anos 1980, � introduzido o regime de responsabilidade familiar, em que as terras permanecem do Estado, mas sua explora��o � feita privadamente, com impactos positivos no campo. Ao mesmo tempo, h� uma expans�o das exporta��es de bens leves de consumo. Nos 1990, as exporta��es e os investimentos se diversificam e a partir do fim da d�cada a ind�stria pesada e a urbaniza��o ganham predomin�ncia.
Nesse caminho, o Estado agindo com pragmatismo permitiu a entrada de firmas estrangeiras, o que n�o ocorreu no Jap�o e na Coreia, mas exigindo transfer�ncias de tecnologia para dar acesso ao mercado de 1,3 bilh�o de pessoas.
O esfor�o tecnol�gico tamb�m � facilitado pela concentra��o dos doutoramentos em ci�ncias e engenharias. Embora a cobertura de 13% da popula��o com ensino superior seja relativamente baixa, o pa�s j� produz doutores em montantes absolutos compar�veis aos dos EUA.
Isso permite que, distintamente de outros pa�ses que se estabeleceram regimes de exporta��es com base em montagem, como o M�xico, na China ocorra um efetivo esfor�o de capacita��o tecnol�gica.
O papel dos bancos p�blicos e das estatais � fundamental. H� ampla coordena��o por meio dos planos quinquenais, controle de pre�os b�sicos e de fluxo de divisas, o que permite manter juros baixos e c�mbio favor�vel � expans�o econ�mica.
Ao contr�rio do que se pode imaginar, o crescimento chin�s n�o � puxado pelas exporta��es, como ocorre com outros asi�ticos, mesmo elas representando 40% do PIB. As vendas externas financiam as importa��es de bens de capital e commodities, al�m de serem mais um componente da demanda efetiva. Mas � o investimento p�blico e dom�stico em geral, como em infraestrutura e na ind�stria, que mais puxam a economia. O consumo interno tamb�m � crescente, tendo havido aumento na massifica��o de bens dur�veis mesmo nas �reas rurais.
Assim, o pa�s vai cumprindo a estrat�gia de Deng Xiaoping de "primeiro ficar rico" e redistribuir depois, como � a preocupa��o recente.
A China permanece para mim algo insond�vel. Impressiona sua capacidade de persistir. O pa�s � admir�vel, mas, mesmo com todas as dificuldades, fico feliz que o Brasil prefira os caminhos da democracia.
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