� economista do BNDES. O artigo n�o reflete necessariamente a opini�o do banco.
Triste Venezuela
Volto �s experi�ncias nacionais tratadas no livro "Padr�es de Desenvolvimento econ�mico, estudo comparativo de 13 pa�ses: Am�rica Latina, �sia e R�ssia", editado pelo CGEE (Centro de Gest�o e Estudos Estrat�gicos) e organizado pelo professor da UFRJ Ricardo Bielschowsky. A vez � da Venezuela, cujo autor do cap�tulo � o economista Carlos Eduardo Carvalho.
O pa�s � um caso extremo dos males potenciais da doen�a holandesa: que ocorre quando a abund�ncia de recursos naturais atrapalha o desenvolvimento produtivo. Na d�cada de 1920, a Venezuela descobriu grandes reservas de petr�leo, tornando-se � �poca o maior exportador mundial e segundo produtor.
Isso proporcionou um crescimento r�pido, embora inst�vel. Em 1950, o pa�s tinha a segunda maior renda per capita entre os pa�ses analisados na Am�rica Latina e �sia, quase o triplo da brasileira e pr�xima a dos pa�ses desenvolvidos.
Na Grande Depress�o, a deprecia��o das moedas dos pa�ses ricos simultaneamente ao influxo de divisas do �leo foi o in�cio de sua cr�nica valoriza��o cambial.
No p�s-Guerra, o c�mbio n�o impediu que a industrializa��o avan�asse, tendo contribu�do para baratear as importa��es de bens de capital, por�m fez com que ela se concentrasse em setores protegidos da competi��o externa, em especial constru��o e infraestrutura, que cresceram gra�as � ampla disponibilidade de recursos fiscais.
O paradoxal � que o pa�s �, nas palavras de Celso Furtado, um caso de subdesenvolvimento com abund�ncia de divisas. O balan�o de pagamentos, que foi a grande restri��o para a continuidade da industrializa��o na Am�rica Latina, n�o tinha por que ser problema na Venezuela.
O diabo � que a economia venezuelana se configurou apenas como um capitalismo rentista, propiciado por um petr�leo de f�cil explora��o, cuja produtividade dos po�os sempre esteve bem acima da m�dia internacional.
Por�m, como as ocupa��es geradas no setor s�o reduzidas, isso n�o elevava os sal�rios reais em geral, que foram arrochados pelo excedente de m�o de obra, pelo custo dos alimentos (a agricultura n�o se mecanizou, mantendo um n�vel elevado de empregos de baixa produtividade) e pela infla��o em geral.
As oportunidades de investimento geradas pelo crescimento do PIB n�o absorviam os recursos acumulados pelo setor privado, mantendo a estrutura produtiva arcaica.
A despeito da renda per capita relativamente alta, se mantiveram as caracter�sticas t�picas do subdesenvolvimento: grandes disparidades de
produtividade entre os setores, distribui��o de renda muito desigual entre campo e cidade e entre segmentos de uma mesma atividade, baixo padr�o de consumo de massa, p�ssimos indicadores sociais etc.
Para piorar, a abertura financeira nos anos 1970, em que a Venezuela acumulou d�vida externa sem necessidade (as reservas externas se elevavam em montante equivalente), levou o pa�s a sofrer com a fuga de capitais advinda da crise da d�vida que abalou a Am�rica Latina, mesmo isso tendo ocorrido durante o segundo choque do petr�leo, que elevou fortemente os pre�os de suas exporta��es.
O texto n�o se deteve no per�odo chavista, iniciado em 1999, em raz�o do elevado grau de ideologiza��o que o cerca. Ainda assim, � poss�vel notar que Hugo Ch�vez trouxe mudan�as na forma como a renda do petr�leo � repartida na sociedade, favorecendo a popula��o mais pobre, o que evidentemente � bom para o pa�s. Tamb�m houve nova tentativa de induzir a industrializa��o.
Entretanto, n�o houve rompimento com o car�ter de longo prazo da pol�tica econ�mica. Foi mantido o regime de c�mbio fixo com tend�ncia de aprecia��o da moeda local, embora menos acentuada do que historicamente tem ocorrido em per�odos de eleva��o do pre�o do petr�leo como o da d�cada passada.
As exporta��es n�o conseguem se diversificar, a demanda crescente ocorre sem que os investimentos sejam destravados e os problemas de balan�o de pagamentos se avizinham, resultando em taxas de crescimentos vol�teis –ainda que muito acima das verificadas nas d�cadas de 1980 e 1990– e em problemas de desabastecimento.
As dificuldades do desenvolvimento da Venezuela s�o duradouras. O rentismo n�o � uma condena��o, mas n�o � f�cil se desamarrar dele. Por isso, me compade�o.
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