� economista do BNDES. O artigo n�o reflete necessariamente a opini�o do banco.
Bola pra frente
Participei do semin�rio "A ind�stria e o desenvolvimento produtivo no Brasil" realizado na semana passada na FGV-SP. A mesa de que fiz parte tratou da avalia��o de instrumentos da pol�tica industrial recente.
Destaco hoje um tema que tem sido muito evocado e pouco compreendido, a dita "pol�tica de campe�es nacionais", que se refere �s grandes opera��es de renda vari�vel feitas pelo BNDES nos �ltimos anos, predominantemente em setores de commodities.
S�o dois os tipos mais comuns de cr�ticas. Um � que a pol�tica industrial deveria mirar o apoio a setores na fronteira tecnol�gica. Outro � que teria sido o BNDES (e n�o o mercado) quem escolheu os grupos bem sucedidos.
O curioso � que essas cr�ticas apontam em dire��es opostas. A primeira condena a falta de ativismo e ousadia do Estado. A segunda, seu excesso. O entendimento das motiva��es que pautaram a a��o do BNDES ajuda a explicar tal contradi��o.
De in�cio, vale notar que h� d�cadas o banco participa de opera��es de fus�es e aquisi��es, de acordo com as oportunidades de mercado e as prioridades do governo. N�o h� subs�dios nelas. Os recursos prov�m dos lucros da BNDESPar e a precifica��o � feita em bases de mercado.
O apoio via participa��o no capital � apropriado quando uma empresa tem projetos arriscados, mas de grande chance de lucro. O BNDES se diferencia dos grandes investidores privados no Brasil por mirar um horizonte de retorno mais longo, frequentemente uma d�cada, e por considerar aspectos n�o estritamente financeiros.
A novidade recente foi o objetivo de internacionalizar grupos brasileiros. Um par�ntesis: foram avaliadas propostas vindas do mercado, tendo ocorrido apoio a grupos concorrentes. N�o houve "escolha de vencedor".
O diagn�stico da pol�tica industrial era que o Brasil, mesmo nos setores que tem alta competitividade, carecia de grupos globais. A crise financeira internacional ofereceu a chance de mudar o quadro: consolidar capitais internamente para buscar no exterior firmas com valores depreciados e dispon�veis para serem adquiridas, permitindo abrir mercados em pa�ses ricos.
A internacionaliza��o � sem d�vida desej�vel, pois cria novos espa�os para obten��o de lucros, exp�e os grupos nacionais � competi��o global e enobrece sua atua��o, desenvolvendo as atividades corporativas centrais (inova��o, log�stica, marketing etc).
A decis�o de investir tamb�m se baseou na identifica��o de oportunidades de valoriza��o das empresas, como a flexibiliza��o de barreiras comerciais n�o tarif�rias. Em carnes, por exemplo, a diversifica��o proteica (atuar com boi, frango e porco) mitigaria a vulnerabilidade a mudan�as do consumo e a eleva��o da participa��o de produtos processados permitiria ampliar o valor agregado.
� claro que esse salto empresarial n�o ocorre de imediato e nem sem percal�os, por exemplo em raz�o das dificuldades de se fazer integra��es produtivas complexas. Houve ainda (poucas) perdas, caso do frigor�fico Independ�ncia. Por�m, a sua participa��o na carteira da BNDESPar era de menos de 0,5%.
A referida contradi��o das cr�ticas aos "campe�es nacionais" ocorre porque elas se baseiam em clich�s do que seria uma pol�tica industrial "moderna".
Ora criticam a falta de inova��o quando uma iniciativa se preocupa com a sustentabilidade financeira, ora a falta de parcim�nia ("os incentivos devem ser decrescentes e limitados no tempo") quando tem um objetivo desafiador. � comum at� dar a Coreia como exemplo de uso comedido de subs�dios, o que chega a ser divertido!
No mundo real, � preciso ambi��o, foco, exposi��o � competi��o global, entre outras coisas. Mas tamb�m paci�ncia e pragmatismo.
O BNDES opera a partir do capitalismo brasileiro existente, apoiando sua evolu��o. O suporte � internacionaliza��o em commodities foi uma etapa disso.
Por�m � preciso olhar para frente. Por isso, a atua��o da BNDESPar tamb�m tem envolvido o desenvolvimento da ind�stria de fundos de investimento em empresas tecnol�gicas e a participa��o em grupos privados que atuam em concess�es de infraestrutura.
� preciso mais para que o capitalismo brasileiro "cres�a e apare�a", desenvolvendo compet�ncias tecnol�gicas e empresariais em setores inovadores. Para isso, al�m de financiamento, � preciso articular outros instrumentos: demanda, P&D, c�mbio etc. A cr�tica � menos pelo que foi feito e mais pelo que ainda est� por fazer.
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