� economista do BNDES. O artigo n�o reflete necessariamente a opini�o do banco.
Meu bem, meu mal
A coluna passada comparou a industrializa��o tardia na �sia e na Am�rica Latina (AL), tendo por base o vindouro livro "Padr�es de Desenvolvimento Econ�mico, Estudo Comparativo de 13 pa�ses: Am�rica Latina, �sia e R�ssia".
Em s�ntese, alguns pa�ses da �sia criaram uma ind�stria aut�noma empresarial e tecnologicamente. Na AL, o capital estrangeiro e a competi��o de recursos naturais abundantes fizeram uma industrializa��o limitada e dependente, que tem sido revertida na maior parte da regi�o.
No entanto, o corte continental n�o � homog�neo. Assim, come�o a tratar de experi�ncias nacionais.
Indon�sia e M�xico s�o pa�ses populosos –respectivamente, 240 milh�es e 120 milh�es de pessoas–, que descobriram grandes reservas de petr�leo nos anos 1970, embora elas tenham perdido seu esplendor nas �ltimas d�cadas.
O M�xico, cujo cap�tulo � do economista Jo�o Furtado, tinha reservas provadas de 50 bilh�es de barris em 1995, que despencaram para 28 bilh�es em 2000 e, hoje, s�o da ordem de 10 bilh�es (ainda altas).
O farto petr�leo gerou valoriza��o cambial, deprimindo a competitividade da ind�stria mexicana, que tinha criado um diversificado parque metal-mec�nico nas d�cadas de 1960 e de 1970.
A partir de 1980, o esfor�o exportador para fazer frente � crise da d�vida envolveu, al�m do petr�leo, a expans�o das maquiladoras, um tipo de ind�stria voltada ao exterior, em que pouco � feito localmente, em geral etapas intensivas em trabalho. Em particular ap�s o Nafta, que favoreceu os bens que tivessem ao menos uma etapa feita no bloco, o M�xico virou um canal de acesso aos EUA, com a vantagem de ter m�o de obra mais barata. Por�m, ao contr�rio da microeletr�nica na �sia, tal ind�stria n�o criou ra�zes.
Dependente do petr�leo e dos EUA, o M�xico, que chegou a ter no in�cio dos anos 1980 cerca de 40% da renda per capita americana, voltou ao patamar de 25% de 1950.
A Indon�sia, cujo texto foi feito pelos economistas Esther Dweck e David Kupfer, � uma exce��o na �sia por n�o sofrer com a escassez de recursos naturais, embora tivesse, em meados do s�culo 20, como � a regra na regi�o, uma enorme popula��o rural empregada em atividades de baixa produtividade.
Nos anos 1970, houve o boom do petr�leo, tendo a produ��o di�ria atingido mais de 1,5 milh�o de barris frente a um consumo inferior a 500 mil. O aumento do consumo e a redu��o da produ��o fizeram o pa�s se tornar deficit�rio desde 2004, com reservas provadas caindo de 16 bilh�es para 6 bilh�es de barris.
No entanto, ainda nos anos 1970, foi poss�vel expandir uma ind�stria pesada, em especial de insumos met�licos, gra�as � estrutura��o de fundos de investimentos com receitas do �leo e de ajudas externas da �poca da Guerra Fria.
O petr�leo chegou a ser 75% das exporta��es. Por�m, mesmo durante seu auge nos anos 1980, a Indon�sia conseguiu diversificar a ind�stria de transforma��o, que de 10% do PIB em 1971, representa atualmente cerca de 35% da economia.
Tal trajet�ria ocorreu gra�as � articula��o com a economia japonesa, cujas firmas deslocaram para seus vizinhos parte da produ��o para exporta��o aos EUA, buscando sal�rios menores para compensar a aprecia��o do iene ap�s 1985.
Assim, a Indon�sia continuou crescendo desde os anos 1980, mantendo sua m�dia anual de mais de 5%, mesmo com a crise da �sia em 1997, que foi forte no pa�s em raz�o de sua acentuada e at� ent�o saudada liberaliza��o financeira. O problema � que o pa�s concentra atividades intensivas em trabalho e de baixa intensidade tecnol�gica.
A conclus�o �bvia � que as riquezas naturais permitem um pa�s escapar da mis�ria e, com sorte, at� ser rico, mas representam um risco de longo prazo ao amea�ar a ind�stria de transforma��o.
Menos �bvio � que –embora a Indon�sia seja um pa�s mais pobre, que em 2008 tinha 27,4% da renda per capita mexicana– ela conseguiu evitar que os recursos naturais se tornassem uma maldi��o � ind�stria, ainda que sua diversifica��o produtiva esteja ligada � lideran�a do Jap�o e, depois, da China.
Para o Brasil, a li��o parece ser que, se o petr�leo do pr�-sal n�o basta para garantir o desenvolvimento, tampouco � uma condena��o para que o pa�s seja s� um fornecedor global de mat�rias-primas.
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