� economista do BNDES. O artigo n�o reflete necessariamente a opini�o do banco.
Longas jornadas
A coluna passada destacou que � longo e descomunal o esfor�o civilizat�rio de universalizar a educa��o b�sica num pa�s como o Brasil: em desenvolvimento, populoso e de duradouro passado escravista.
Hoje, o objetivo � relatar brevemente como tal processo ocorreu em outros pa�ses. Para tanto, ser� usada a base de dados dos economistas Jong-Wha Lee (Korea University) e Robert Barro (Harvard), que meu colega economista Jos� Aparecido Ribeiro, com quem venho discutindo temas de educa��o, converteu em tabelas.
Par ver as tabelas, clique aqui.
Os dados de 1950 a 2010, em intervalos de cinco anos, referem-se � escolaridade da popula��o adulta (mais de 15 anos), o que traz duas implica��es para a an�lise: o efeito de mudan�as nas pol�ticas p�blicas s� se faz sentir na d�cada seguinte e ainda assim os resultados sofrem com uma in�rcia prolongada.
Entre os pa�ses ricos da Europa (Alemanha, Fran�a e Su�cia s�o os exemplos nos gr�ficos on-line), havia em 1950 uma propor��o bem baixa da popula��o sem escolaridade. De 50% a 70% tinham o prim�rio completo, mas apenas 5% haviam completado o ensino m�dio.
� s� a partir dos anos 1970 que a cobertura do m�dio se acelera, atingindo dois ter�os da popula��o em 2010. O acesso � universidade cresce lentamente, atingindo 20% de pessoas com curso completo ou n�o.
O EUA, que n�o foram diretamente afetados pelas guerras mundiais, al�m de em 1950 terem um percentual baixo de pessoas sem escolaridade, j� tinham uma significativa expans�o do ensino m�dio, que atingia quase 40% da popula��o. Em 1980, esse percentual era de 79%. O ensino superior tamb�m avan�ou sistematicamente, fazendo com que em 2010 mais da metade da popula��o o tivesse completo ou incompleto.
A Coreia tinha em 1950 uma ampla cobertura do prim�rio, embora com 28% da popula��o sem escolaridade. Ap�s a guerra de separa��o, o pa�s ampliou a cobertura do m�dio de pouco mais de 10% em 1960 para 35% em 1980, para 65% em 1995 e 80% em 2010. O ensino superior tamb�m se expande rapidamente a partir de 1980 (quase 5%), atingindo quase 10% em 1990 e 17% em 2010, al�m de mais 25% com curso incompleto. Na trajet�ria, quase 4% permanecem sem escolaridade.
A Argentina tinha uma foto inicial pr�xima � da Europa, com 40% com o prim�rio e 15% sem escolaridade. Mas, como seu desenvolvimento econ�mico, sua trajet�ria educacional � lenta e inacabada. De in�cio, o Chile parece a Argentina um pouco defasada, mas a partir dos 1980 h� forte expans�o do m�dio e do superior.
Bases de dados amplas costumam ter problemas de homogeneiza��o de crit�rios. Ainda assim, � poss�vel tirar conclus�es. O esfor�o de universaliza��o da educa��o b�sica demanda sete ou oito d�cadas. O EUA e a Europa iniciaram suas jornadas bem antes de 1950. A Coreia, exemplo heroico, o fez em meio s�culo.
O Brasil tem uma situa��o inicial muito pior que todos esses pa�ses. Em 1950, 63% dos adultos eram sem escolaridade. Esse percentual cai a 27% em 1975, por�m expandindo a popula��o com prim�rio incompleto (alfabetiza��o). S� em 1990 mais da metade tinha prim�rio completo.
A partir da�, come�am os saltos no ensino m�dio, que sai de 6,6% para 10,3% em 1995, 17,2% em 2000, 23% em 2005 e 26,3% em 2010.
O ensino superior tem um crescimento consistente em todo o per�odo, mas restrito, permanecendo inferior a 5% em 2010. A popula��o sem escolaridade continuou caindo, por�m persiste no patamar de 10% em 2010, o que reflete a estrat�gia de combater o analfabetismo apenas nas novas gera��es.
� dif�cil projetar o avan�o brasileiro nas pr�ximas d�cadas. A foto continua ruim. O pa�s est� hoje na situa��o do EUA em 1950 e da Coreia em 1980. Entretanto, seu esfor�o sistem�tico � recente, veio s� com a redemocratiza��o (Constitui��o de 1988). A eleva��o de gastos em educa��o como propor��o do PIB a partir de 2005, por exemplo, ainda n�o se reflete na popula��o adulta.
A educa��o b�sica virou prioridade. No entanto, h� tamb�m o desafio da qualidade, assunto da semana passada, e, para acelerar os ganhos de cobertura, o pa�s tamb�m precisa centrar esfor�os na educa��o de adultos, alvo do EJA, que vem perdendo alunos, e do Pronatec, ainda recente. Paci�ncia e persist�ncia!
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