� economista do BNDES. O artigo n�o reflete necessariamente a opini�o do banco.
Equidade � excel�ncia
Em entrevista na semana passada � Folha, o novo presidente do Inep (�rg�o do MEC de planejamento e avalia��o da educa��o), Chico Soares, defendeu que o curr�culo da educa��o b�sica no Brasil seja mais bem definido.
Seus argumentos s�o poderosos. Todo jovem brasileiro deve ter acesso a um robusto conhecimento m�nimo comum, que o capacite para lidar com problemas e melhor aproveitar a vida pessoal e a profissional.
Se cada lugar puder definir o que ser� ensinado, � certo que surgiriam �timas escolhas, por�m em outros casos turmas inteiras seriam prejudicadas.
Soares ilustrou o esfor�o a ser feito. "Vou dizer para o professor: seus alunos do 5� ano s�o capazes de distinguir fato de opini�o, mas num texto muito simples. Eles n�o s�o capazes num texto um pouco mais complexo. O que � um texto complexo? O professor teria exemplos."
A tarefa de negociar esse curr�culo ser� dif�cil. Uma das coisas que mais me desanimaram ultimamente foi ter come�ado a cursar as disciplinas de licenciatura em filosofia na UFRJ. Tomara que a impress�o inicial seja enganosa.
Afinal, � duro se deparar, por exemplo, com a cren�a de que h� uma "hegemonia da matem�tica" na educa��o brasileira. As evid�ncias se resumiram a constatar que h� mais aulas semanais dessa mat�ria do que de filosofia, hist�ria ou m�sica.
Al�m de ignorar que � em matem�tica a maior dificuldade de desempenho dos alunos brasileiros, como no Pisa (a avalia��o internacional de estudantes), e que o pa�s tem car�ncia na forma��o de pessoas nas �reas quantitativas e cient�ficas, n�o houve discuss�o sobre os crit�rios para definir a divis�o da grade hor�ria, as necessidades das disciplinas e as prioridades de conte�do.
Quer dizer, � grande a resist�ncia no meio acad�mico de pedagogia ao tipo de discuss�o que o estabelecimento de um curr�culo exige.
A impress�o � que predomina uma tentativa de contraposi��o � escola tradicional, em especial a religiosa, enfatizando a necessidade da criatividade e da constru��o multilateral do conhecimento.
Esse objetivo deve ter espa�o na pr�tica educacional. Contudo, o desafio brasileiro atual � bem anterior a esse.
Nesse sentido, � ilustrativa pesquisa feita com 300 mil professores, dispon�vel em http://www.qedu.org.br/brasil/pessoas/professor. Segundo eles, n�o h� problemas generalizados de planejamento, relacionamento com a dire��o, di�logo entre docentes ou viol�ncia nas escolas. Um pouco mais sens�veis, a infraestrutura, o sal�rio e a sobrecarga de trabalho
s�o alvo do descontentamento de cerca de um ter�o das respostas.
Os maiores problemas s�o as faltas de interesse e disciplina do aluno, a incapacidade dos pais de acompanhar as tarefas de casa e o ambiente da comunidade em que vivem.
Como na velha piada, parece que "� a clientela que atrapalha a firma". Por�m, a pesquisa reflete o longo e descomunal esfor�o civilizat�rio que � construir um sistema de educa��o universal num pa�s em desenvolvimento, populoso e de um duradouro passado escravista.
Um curr�culo nacional ajudar� a combater a desigualdade educacional. Definir os conte�dos m�nimos que se deve saber em cada n�vel � fundamental para identificar os alunos que est�o ficando para tr�s e agir para mitigar o problema.
Na Finl�ndia, um dos l�deres no Pisa, "o esfor�o � fazer com que todo o mundo alcance um determinado n�vel, o que faz nossos resultados m�dios serem muito bons", explicou
uma professora ao UOL (9/12/2013). D�cadas atr�s, o pa�s decidiu que seu foco era a equidade, n�o a excel�ncia. Conseguiu ambas.
O Brasil elevou substancialmente o gasto p�blico na educa��o b�sica. Dados do Inep indicam que, em propor��o ao PIB, passou de 3,2% em 2005 para 4,4% em 2011, atingindo o patamar dos pa�ses desenvolvidos.
O gasto anual por aluno ainda � baixo porque a renda per capita do pa�s n�o � alta. Ainda assim, no mesmo per�odo, que teve uma significativa inclus�o no sistema educacional, passou de R$ 1.933 para R$ 4.267, a valores constantes de 2011.
Seguir aumentando esse valor � crucial para, por exemplo, pagar maiores sal�rios e ter melhores professores. Mas, para que tal eleva��o continue sendo efetiva, a sociedade brasileira precisa que contrapartidas sejam pactuadas com a comunidade de educa��o. A defini��o de um curr�culo nacional � uma delas.
marcelo.miterhof@gmail.com
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