� economista do BNDES. O artigo n�o reflete necessariamente a opini�o do banco.
Jornalismo econ�mico
Participei da enquete feita pela ombudsman Suzana Singer para sua coluna de 26/1/2014. A quest�o foi: a cobertura econ�mica est� excessivamente pessimista?
A conjuntura n�o � ruim, embora tampouco seja empolgante. Por�m a observa��o da grande imprensa sugere um pessimismo exagerado. Por exemplo, na sexta passada, um ganho real dos rendimentos m�dios de 1,8% em 2013 foi manchete negativa na Folha.
O pessimismo (ou o car�ter cr�tico) � uma marca do jornal. Mas o didatismo e a pluralidade, tamb�m. Assim, fa�o a reflex�o a seguir, que vale para o jornalismo econ�mico em geral.
Meu sentimento � que falta esfor�o para entender a racionalidade econ�mica n�o convencional. A tarefa n�o � f�cil.
O liberalismo econ�mico tem duas vantagens em termos de persuas�o. Por ser um paradigma de equil�brio, que, na teoria, tem din�micas autoajustadas (o equil�brio geral), � mais simples de entender. Al�m disso, ele evoca um principio "moral" poderoso: a parcim�nia, principalmente quando aplicada a terceiros.
O governo deve gastar menos, buscando a efici�ncia, para manter a infla��o baixa e, assim, dar espa�o e confian�a aos empres�rios para investir. Para aumentar a competitividade sist�mica, o gasto p�blico deve priorizar a infraestrutura e a educa��o. De resto, o livre mercado resolve ou "faz sua m�gica".
Um governo agir com uma l�gica distinta significa contrariar a "natureza" da economia e invariavelmente tem um resultado final ruim.
A maioria dos economistas cr� nisso. Mas o conhecimento econ�mico tem graves dificuldades de verifica��o emp�rica e � viesado por ideologias. Frequentemente, ocorre defesa de interesses espec�ficos como se fosse uma causa p�blica.
Por isso, a cobertura precisa diversificar suas an�lises e suas fontes. O per�odo � particularmente relevante, pois o pa�s vive uma batalha ideol�gica e distributiva em raz�o da tentativa do governo de enfrentar o hist�rico problema dos juros altos.
A disputa se iniciou h� dois anos e meio, quando o BC baixou os juros, contrariando o manual do mercado. A rea��o foi hist�rica (tudo seria voluntarismo) e un�ssona nos meios de comunica��o. Poucos jornalistas ao menos desconfiaram.
Diante do recrudescimento da crise global, alguns reconheceram o erro. Por�m n�o � f�cil mudar de entendimento. Ademais, a tenacidade do rentismo � alta e nem mesmo o governo sinaliza ter disposi��o para manter o caminho que tomou.
A queda dos juros e a crise mundial explicitaram conflitos que tinham hibernado em raz�o da aprecia��o cambial da �ltima d�cada. Agora, h� uma disputa de paradigmas: a redistribui��o para crescer e seus desequil�brios (de indicadores econ�micos, infraestrutura, sociais etc.) versus a busca por um equil�brio que promete o crescimento... mas s� no futuro.
Nesse contexto, � f�cil e leg�timo fazer uma cobertura verificando o cumprimento de metas oficiais de infla��o e superavit prim�rio. Por�m melhor � entender as raz�es de analistas de distintas cores. Afinal, o ajuste contracionista n�o � o �nico caminho poss�vel. As perguntas a seguir sugerem uma investiga��o.
Superavit prim�rio � relevante em que circunst�ncias? A dificuldade de cumprir sua meta significa que a situa��o fiscal est� ruim? O Estado brasileiro � mesmo t�o ineficiente? Algum governo p�s-democratiza��o fez ajuste fiscal pelo corte de despesas? Se n�o, por qu�? Os gastos p�blicos s�o r�gidos?
Infla��o anual de 6% � alta? Basta compar�-la ao atual teto do regime de metas ou � infla��o dos pa�ses ricos? Um pa�s que passa por mudan�as sociais e civilizat�rias n�o tem uma infla��o mais alta? Por exemplo, que ocorre se o frete sobe porque a jornada dos caminhoneiros foi mais bem regulada?
Algo parecido vale para o c�mbio: um pa�s em desenvolvimento tem balan�o de pagamentos mais vol�til? Isso implica padr�o inflacion�rio mais elevado? Choques de custo devem ser compensados por juros mais altos e/ou aperto fiscal? Houve reindexa��o porque a infla��o estourou o teto da meta de 2001 a 2003?
As respostas apontam diferen�as entre as abordagens econ�micas. H� nisso implica��es te�ricas (neutralidade da moeda, causalidade entre investimento e poupan�a etc.) e ideol�gicas, dif�ceis de entender e separar, repletas de conflitos.
O esfor�o de traduzi-las seria uma bela contribui��o da imprensa para o amadurecimento do pa�s, como tantas vezes ela foi e � capaz de proporcionar.
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